sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Esqueceram de mim ou o Fracasso do G-20 - Frei Betto

Meu nome é miséria. Comprometo, hoje, a vida de cerca de 1,5 bilhão de pessoas, sobretudo crianças desnutridas, vulneráveis à morte precoce.
Tinha esperança de que na reunião em Londres, no início de abril, o G-20, que reúne as 20 maiores economias do planeta, se lembrasse de mim. Hoje, devido à indiferença dos que governam o mundo, ameaço a maioria da população da África, cuja situação é agravada por cerca de 25 milhões de pessoas contaminadas pelo HIV. Em menor proporção, estou presente também na Ásia e na América Latina.

No Brasil, sou encontrada a olhos vistos no Vale do Jequitinhonha (MG), na fronteira entre Alagoas e Pernambuco, no interior do Maranhão e do Pará, nas tribos indígenas e entre a população quilombola. E, de modo aberrante, nas favelas que circundam as grandes cidades.
Esperava que o G-20, frente à crise financeira mundial, fosse destinar recursos para reduzir a minha incidência global. Segundo as Metas do Milênio, da ONU, bastariam US$ 500 bilhões para erradicar a fome crônica que, hoje, castiga 950 milhões de pessoas.

Os governantes do G-20 sofrem de hiperopia, o contrário da miopia: enxergam muito mal de perto. Em vez de debaterem como livrar o mundo da minha presença, decidiram destinar US$ 1,1 trilhão para “salvar o mercado”, entenda-se, FMI, BID, Banco Mundial, grandes empresas e bancos – os responsáveis pela crise.

O capitalismo neoliberal deu um tiro no próprio pé. Agora apela aos cofres públicos para socorrer os “pobres” miliardários que costumam transformar a injeção de recursos em bônus astronômicos aos executivos de empresas sob risco de falência.
Que decepção o G-20! Pensei que daria fim aos paraísos fiscais. Em vez de fechar o bordel, decidiu divulgar o nome de seus frequentadores. Viva o império dos laranjas! Já deve ter gente abrindo empresas capazes de dividir a grana do narcotráfico e da corrupção em porções mais palatáveis.

Por que o G-20 não proibiu governos, empresas e pessoas físicas de terem ativos em paraísos fiscais ou de se associarem a instituições ali estabelecidas? A resposta é óbvia: encarregou a raposa de manter fechado o galinheiro...
Vários países europeus são verdadeiros Éden para as finanças escusas: Suíça, Luxemburgo, Bélgica, Áustria, a City de Londres etc. Quem garante que esses feudos de riqueza ilícita (no mínimo, sonegadora de impostos em seus países de origem) vão mesmo quebrar o sigilo bancário de seus clientes, como quer o G-20?

E por que entregar toda essa fortuna de US$ 1,1 trilhão ao FMI, de triste memória? Todos sabemos tratar-se de uma instituição atrelada à Casa Branca e à política exterior usamericana; mete o nariz nas finanças dos países que lhe tomam dinheiro emprestado; impõe medidas econômicas que favorecem privatizações, aumento da desigualdade social, oligopolização de empresas e bancos etc.

Em suma: os contribuintes, ou seja, o povo, que mais paga impostos, está compulsoriamente convocado a canalizar fortunas para tentar aplacar a crise financeira dos donos do mundo. Estes temem que, sem crédito, os países emergentes deixem de comprar produtos manufaturados das nações ricas, aumentando o desemprego, e sigam o exemplo do Equador, que decretou moratória enquanto durar a crise.

Antes de pensar em contribuir com US$ 10 bilhões para a “vaquinha” do FMI, o Brasil deveria curar-se da hiperopia e olhar um pouco mais para mim: com esse recurso eu seria progressivamente erradicada e haveria aqui mais educação, menos violência urbana e, portanto, mais qualificação profissional e menos desemprego.
Fonte: Rede Pitágoras

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Aprendizagem na Terceira Idade

Ao estudar as conquistas recentes da terceira idade em relação à aprendizagem vi que de certa forma parece que estamos voltando à infância.

Desde que nascemos buscamos compreender o mundo a partir dos instrumentos sensoriais e mentais que dispomos. Sabemos que a cada passo dado estamos diante de novos valores, novas crenças, novos objetos, novos ambientes, que de uma forma ou outra impulsionam a novas descobertas, desenvolvendo novas estruturas de pensamentos e saberes.

Assim, a aprendizagem se modifica, quando introjetamos a todos os momentos novos saberes.
Hoje fala-se em conhecimento em rede, que nada mais é que o reconhecimento que tudo está interligado, quando vemos que esta se identifica com o significado e passa a dar sentido ao contexto, aos ambientes dos quais vivemos e aprendemos à vida toda.

Nessa concepção, os fenômenos são observados e descritos por conceitos, modelos e teorias que fazem parte de um conhecimento que se transforma de geração a geração.
O ensinar e o aprender devem fazer dessa interação de conhecimentos, um elo entre uma aprendizagem significativa e de qualidade, onde o vínculo seja construído de forma a permitir que a aprendizagem seja sempre reinventada e o ensinar seja apresentado de forma flexível, cooperativa e interativa garantindo o saber.

Percebe-se que os modelos tradicionais tornam-se cada vez mais inadequados. Portanto, a aprendizagem ocorre a vida toda, mesmo na velhice.
A sociedade demonstra uma preocupação em ensinar a criança e o jovem, se esquecendo que o aprender é ao longo da vida toda.

Assim, devemos investir na conscientização de que envelhecer com qualidade de vida e que aprender é sempre prazeroso, porque são eles que possuem saberes que servem para a vida toda. Este aprender vai em busca de um saber essencial para uma vida em busca de uma cidadania plena, de liberdade e de respeito mútuo.

A tecnologia de informação e a comunicação trazem inúmeras mudanças em toda a sociedade, apontando novas tendências de valores e concepções de vida. Essas tecnologias abrem novas possibilidades e trazem novas exigências para a aprendizagem e o viver nesse século, apontando novos caminhos para a educação ao longo da vida e a inclusão de cidadãos que estão na Terceira Idade.

Novos significados são recriados, através desse mundo tecnológico de informações e comunicação na sociedade do conhecimento, pois a informação gera um conhecimento que se faz presente pelo seu significado. Assim o ensino tende a ser inovador, motivador e criativo, sendo reestruturado ao longo da vida.

A Pirâmide de Mashow hierarquiza as necessidades humanas numa escala de prioridades, com o objetivo de compreender as motivações das pessoas. Assim, podemos fazer um paralelo entre informação e as necessidades, pois a nossa sociedade, privilegia mais as necessidades básicas, sejam elas individuais ou grupais. Porém, temos que lembrar que a verdadeira aprendizagem é construída e não memorizada. Tudo tem o seu valor e significado, portanto tudo faz parte de uma escolha. O que se busca, na terceira idade, é um ganho na qualidade de suas escolhas, ganho este que só o amadurecimento intelectual e afetivo podem fornecer a esse indivíduo, que conquista a sua liberdade consciente de seus direitos e deveres.
Fonte: Identidade na Terceira Idade- Mashow.

domingo, 30 de agosto de 2009

Considerações sobre o ato de educar


Considerações sobre o pensamento de Sara Pain, educadora e psicopedagóga que em muito contribui para o trabalho pedagógico, quando se trata de dificuldades de aprendizagem.
Para essa educadora, educar vai além do reconhecimento do próprio corpo, vai além das percepções...
Educar é se reconhecer em si e no outro. Aquele que percebe a natureza das suas intenções , possui naturalmente o reconhecimento de sua aprendizagem, que ora possui o papel de ensinante e ora possui o papel de aprendente. A educação é algo que se constói, passo a passo, indo em busca de uma nova identidade cultural. Assim, educar é um ato de amor, onde as regras são construídas por aqueles que fazem parte desse processo.
Fazer do outro nosso semelhante. Ensinar é exercer o desejo de reproduzir na sua forma mais radical, pois carente de inscrições instintivas, o ser humano só chega a ser ele próprio através da aprendizagem.

Para esta autora, "fazer do outro um semelhante, é necessário antes amar a si próprio. Pois o direito a transmitir vem da valorização por aquilo que somos. Mas se esse amor por nós mesmos for pessoal, egocêntrico, narcisista, a transmissão alienaria o sujeito em formação, o transformaria numa imagem".

O amor que permite educar, é o amor pelo que se é, mas somente na medida em que cada um de nós é depositário de uma cultura comum a um grupo e mais além ainda dessa cultura particular, das conquistas próprias ao ser humano em geral.

Não se pode ensinar verdadeiramente um conteúdo ou ler e escrever, sem sentir profundamente a grandeza sublime do pensamento inteligente, capaz de ter elaborado tais maravilhas. Ensinar a contar e a escrever é muito bom, mas transmitir ao mesmo tempo o valor humano destas conquistas que necessitaram milhões de anos de evolução para se concretizar.

A generosidade da doação supõe paralelamente o amor pelo outro e a crença em sua possibilidade de interar esse dom. Não se trata aqui então de um amor caridoso porque o ensinar não é um “favor” que fazemos a aquele que não sabe, é um amor de reciprocidade no qual receber justifica plenamente o prazer de oferecer.

Para ensinar é preciso amar, em primeiro lugar o ser humano e a todas as suas capacidades de produzir cultura, amar o aprendiz como depositário da continuidade e da transformação dessa cultura, e amar-se a si mesmo como capaz de aprender e de seguir aprendendo para assegurar essa transmissão: "Amar é uma condição indispensável para que esse ato sublime da transmissão do conhecimento se realize apaixonadamente na militância pedagógica.

Esqueci de um amor muito importante para poder ensinar: o amor que a comunidade deve demonstrar ao professor e que se traduz no reconhecimento das instituições por seu trabalho. Além dele é necessário o amor que traduz pela ajuda dos colegas, pelo agradecimento dos pais e pelo carinho dos alunos".
Fonte: Penamentos segundo Sara Pain.