sábado, 5 de junho de 2010

" Autonomia e Limites" -Fábio C. R. Mendes

 Recebi de uma amiga e leitora a indicação deste blog : http:// estude-sozinho.blogspot.com/
Conferi e gostei do artigo. Agora só falta conferir o livro. Logo que puder adquiri-los e lê-los faço o meu depoimento.
Mas, aqui está mais uma dica. Quem sabe, este será mais uma agradável leitura em busca de novos conhecimentos!
Vamos à leitura!


Boa parte das crianças e adolescentes brasileiros vive como dentro

de uma bolha, protegida dos aspectos mais triviais da realidade.

É preciso dar-lhes autonomia, porque o maior risco é criar

uma geração despreparada para a existência


A preocupação com a segurança da prole é de ordem biológica: sem ela, nenhuma espécie animal conseguiria reproduzir-se e perpetuar-se. No âmbito humano, durante milhares de anos, os cuidados com as crias seguiram o padrão dos mamíferos em geral: eram interrompidos quando elas começavam a tornar-se capazes de alguma autodefesa e de ajudar seus pais na obtenção de comida. A preocupação atual com os filhos – e sua exacerbação, a superproteção, assunto desta reportagem – tem origem histórica bem definida. No Ocidente, a infância e a adolescência, tais como as conhecemos, são uma criação econômica e cultural do fim do século XVIII, período imediatamente posterior à Primeira Revolução Industrial na Europa. Até então, crianças e adolescentes, assim considerados em suas limitações e peculiaridades, existiam apenas nas classes mais abastadas, nas quais eram educados com esmero por serem herdeiros da fortuna da família e para que pudessem representá-la apropriadamente na idade adulta. Meninos e meninas até 14, 15 anos, oriundos dos extratos sociais mais baixos, eram tidos só como "gente pequena" – e, portanto, sujeita a trabalhos tão pesados quanto o permitisse a sua força física. Com o avanço tecnológico, que resultou em máquinas que substituíram as atividades braçais e na necessidade de formar artesãos e operários qualificados para manusear equipamentos complexos e atender aos padrões de qualidade cada vez mais altos da indústria, o exército de crianças e jovens pobres passou a ser alvo de uma preocupação inédita: a de que crescessem saudáveis e pudessem, desse modo, ser adestrados para servir como a mão de obra requerida pelos novos tempos. Foi da vertente econômica que nasceram os conceitos de infância e adolescência – os quais, mais tarde, ganharam contornos mais delicados, complexos, graças às descobertas da pediatria, da psicologia e da pedagogia.

Com as crianças e os adolescentes, surgiu ainda uma rede de proteção tanto no plano jurídico como no familiar. Leis foram feitas para preservar o direito à integridade física e mental dos menores de idade (aliás, uma concepção originada daquelas de infância e adolescência), e pais e mães passaram a ser mais ciosos da saúde e da educação de seus filhos. Não seria inapropriado dizer que o amor maternal e paternal, no plano mais geral, é fruto das mudanças provocadas pela Revolução Industrial. Ultrapassadas as portas do século XXI, o que aterroriza muitos pais é ver suas crianças e jovens atingidos por violências que, até os estertores do século XVIII, não fariam seus congêneres perder o sono – e que não assombram, para além da medida, a maior parte das famílias atuais. Ou seja, com a infância e a adolescência, não nasceram somente os pais responsáveis, mas também os pais assustados e, por consequência, superprotetores. "Eles podem ser tão prejudiciais para a formação emocional de seus filhos quanto pais negligentes", diz a psicóloga Ceres Alves de Araujo.

No Brasil, os superprotetores temem, sobretudo, o risco de sequestros, assaltos e acidentes e a oferta abundante e livre de álcool e drogas. Há, no entanto, um limite entre a preocupação aceitável e a excessiva, que pode fazer mais mal do que bem a uma criança ou adolescente. Quando a criança é pequena, é razoável ter medo de que ela se machuque no parquinho, mas é inaceitável um pai ou mãe que não a deixe brincar na casa de um amigo de escola, longe de sua vista. É compreensível ficar com o coração aflito nas primeiras vezes que o filho de 18 anos sai de carro sozinho – no entanto, trata-se de um exagero evidente negar a ele esse tipo de liberdade. Hoje, uma família de classe média pode erguer um muro em torno de seus filhos – incluído o não metafórico. Para tanto, os pais superprotetores valem-se de recursos tecnológicos, como o celular que permite monitorar as andanças da moçada, e da nova dinâmica familiar, mais aberta e propensa ao diálogo. Íntimos como nunca de seus filhos, eles se utilizam dessa proximidade de amigo justamente para controlá-los. E abandonam a parte mais difícil da paternidade, que é deixá-los seguir em frente. Tais pais "amigos" conhecem ou já identificaram no Orkut ou no Facebook cada um dos colegas do filho, e não veem problema nessa invasão de privacidade.

Aparentemente, um filho sob a vigilância irrestrita dos pais está mais seguro. Mas há um risco na vida sem riscos, o que inclui atender a todos os pedidos da criança ou do jovem. Pais que adotam para si e para seus filhos esse tipo de estratégia ignoram uma peça-chave do desenvolvimento humano: a autonomia. É aquela capacidade – e sensação poderosa – de fazer escolhas. E também de aceitar seus próprios limites e reconhecer que, não raro, as escolhas podem estar erradas. Num artigo recente, o psiquiatra americano Michael Jellinek, professor de Harvard e chefe da psiquiatria infantil do Hospital Geral de Massachusetts, escreveu que, do momento em que um bebê nasce até a hora em que ele entra na faculdade ou sai de casa, a questão central de sua existência é conquistar independência. Tirar isso de um filho pode ser uma viagem sem volta. "Vemos o tempo todo exemplos de crianças que finalmente quebram a bolha em que vivem e se transformam em adolescentes rebeldes além do aceitável, um atalho para que se tornem adultos frustrados", disse ele a VEJA.

Em geral, os pais superprotetores são inseguros e ansiosos. Temem que seus filhos deixem de amá-los, esforçam-se para não fracassar em sua educação e têm pavor de ser julgados por parentes e amigos. Tudo somado, excedem-se na ânsia de acertar sempre. "O exercício da paternidade passou a ser visto sob a ótica de um julgamento social, dos mais rígidos e seletivos", diz o psicólogo Luis Russo. "Assim como hoje se exige que as pessoas sejam bem-sucedidas, saudáveis e magras, é preciso ser um pai exemplar de um filho idem", afirma. Trata-se de um fenômeno bastante atual. Nos Estados Unidos, pais com esse perfil ganharam o nome de helicopter parents, ou "pais helicópteros". Eles pairam sobre a vida das suas crianças com enorme estardalhaço. O assunto foi tema de capa da revista americana Time em novembro passado. "Se o filho tira uma nota que os desaponta, vão direto à escola e exigem que ela seja mudada. Quando ele esquece um livro ou uma apostila em casa, correm para levá-lo à escola. Dessa forma, não permitem que ele sinta o constrangimento que serviria de alerta para que se lembrasse de tomar conta de sua vida", disse a VEJA a americana Hara Estroff Marano, editora da revista Psychology Today.

Atualmente, a escola é o único espaço em que boa parte das crianças e adolescentes tem, de fato, de assumir responsabilidades. Ao passarem pelos portões escolares, deixam o posto de príncipe ou princesinha da família para se tornar um entre tantos outros alunos. É um dos grandes pesadelos dos pais superprotetores: a exemplo do que ocorre na vida doméstica, eles exigem tratamento individualizado na escola. Sua interferência na rotina pedagógica é uma realidade que irrita professores e diretores. "Já recebemos ligações de pais indignados com uma discussão no pátio antes mesmo de os inspetores nos avisarem da briga", conta Vera Malato, coordenadora do departamento de orientação educacional do Colégio Bandeirantes, em São Paulo. Sim, em certos momentos de dificuldade, os filhos recorrem ao celular em que estão gravados os números de papai e mamãe.

Como efeito colateral da superproteção, os especialistas em educação infantil começam a notar um aumento no número de crianças ansiosas e inseguras. Não é difícil identificar uma delas em sala de aula: é a que pede atenção e aprovação para cada tarefa que realiza. Consulta os professores com frequência quase insuportável. Fora da sala, tem medo de se machucar no parquinho (mesmo essa excrescência americana que é o playground de chão emborrachado), evita ir sozinha ao banheiro, pede ajuda a todo momento. Tamanha dependência está na raiz da baixa autoestima. O problema é tão presente nas escolas que, em algumas delas, como a paulistana Emilie de Villeneuve, são feitas atividades para estimular a autonomia dos pequenos. Há, por exemplo, um "acampadentro", em que alunos de 5 e 6 anos passam uma noite na escola e são incentivados a tomar decisões simples como o que trazer, em que cama dormir e o que comer no café da manhã. Parece incrível, mas, para muitos, o ato da decisão é um tormento. Em outra iniciativa da escola, o aluno adolescente que falta à aula por motivo de doença é convidado a explicar, ele mesmo, a ausência. "Nossa ideia é que crianças e adolescentes tomem a iniciativa antes de levar as questões para o pai ou a mãe", diz Luiza Cesca, diretora do colégio.

Pergunte a um pai superprotetor por que ele age assim e a resposta será: "Só quero o melhor para o meu filho". O perfil desses pais, segundo os psicólogos consultados por VEJA, é o seguinte: nascidos na década de 60 – em geral, a partir de 1964 –, têm filho único ou filhos com grande diferença de idade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, as famílias brasileiras têm, em média, 1,8 filho. Nos anos 70, eram 6,2 filhos. Um quarto das mães tem filho único. Elas demoraram a ter o primeiro herdeiro, que foi ansiosamente desejado e aguardado: 26% das crianças nascidas em 2008 eram filhos de pais com mais de 30 anos. Ou seja, as crianças – mais escassas – se tornaram mais "preciosas". Na casa da família paulista Toscano, cada passo de Matheus, de 13 anos, é dado sob o olhar atento dos pais. Fazer trabalho na casa dos amigos, nem pensar. "Não vejo necessidade. A maioria das mães trabalha fora e sei que a empregada não vai tomar conta", diz sua mãe, a representante comercial Dalva, de 48 anos. Só há pouco tempo o garoto recebeu autorização para esquentar a própria comida no micro-ondas. A mãe sugeriu que ele lavasse o prato depois do almoço, mas o pai vetou: "Ele tem medo que o Matheus se corte. Até hoje meu marido amarra o tênis do filho antes do jogo de futebol", afirma Dalva.

Histórias assim são comuns nos consultórios de psicólogos e pediatras. "A maioria desconhece – ou prefere ignorar – as aptidões do filho. Acredita que ele não tem idade para executar tarefas para as quais já está capacitado", diz o pediatra Ricardo Halpern, da Sociedade Brasileira de Pediatria. Certa vez, ele atendeu um menino de 10 anos que enfrentou uma situação constrangedora quando, durante uma excursão, pediu à professora que cortasse o seu bife. "A criança corre o risco de ser excluída do grupo por ser diferente das outras", afirma. Quando, durante uma partida de futebol, os pais tiram satisfação com o técnico por deixar o filho no banco de reservas ou com um colega por não passar a bola, estão tentando, erroneamente, poupá-lo de frustrações. "As crianças superprotegidas acham que os outros resolverão todos os seus problemas. Por isso, o risco de se tornarem compulsivas ou entrarem no universo das drogas é maior. Com elas, conseguem a sensação de mundo cor-de-rosa que os pais proporcionavam enquanto as mantinham dentro de uma bolha", explica a psicóloga Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo.

A ciência começa a voltar sua atenção para os efeitos da superproteção no cérebro e no comportamento de crianças e adolescentes. Parece exagero? Não é. Há casos como o do menino Ivan (nome fictício), de 9 anos, que foi alimentado à base de papinha até os 3 anos. De tanto ouvir seus pais dizerem que ele poderia engasgar com comidas sólidas, o garoto passou a recusar tudo o que não fosse apresentado a ele na forma de sopa ou mingau. Ivan pode ter superado completamente essa deficiência. Mas algo em sua habilidade motora e em sua confiança pode ter sido afetado. Até bem pouco tempo atrás não se sabia disso, mas a falta de brincadeiras livres, sem a interferência de adultos, pode prejudicar o bom desenvolvimento das faculdades cognitivas. Há riscos também no excesso de preparação estudantil dos filhos. Um pai pode e deve estimular seu filho a ter atividades extracurriculares. Mas o excesso não deixa de ser um ato de superproteção e, como tal, não faz bem. Uma pesquisa da Universidade de Montreal, no Canadá, publicada no início deste ano, mostra que o nível de controle dos pais pode determinar se a criança terá uma relação harmoniosa ou obsessiva com um determinado hobby ou atividade esportiva. "Descobrimos que adultos controladores podem estimular comportamentos obsessivos em seus filhos ao ensinar-lhes que a aprovação social só se consegue por meio de excelência", escreveu uma das autoras do estudo, a psicóloga Geneviève Mageau.

Outro estudo mostra que a falta de obrigações dentro de casa tem criado uma geração pouco preocupada com o próximo. E o pior: os pais estão relutantes como nunca em pedir ajuda doméstica aos filhos. De acordo com os psicólogos ouvidos por VEJA, não há nada de errado em distribuir tarefas: é bom para a autodisciplina e para ajudar a construir a autoconfiança. Pedir a um menino que lave um tênis sujo de barro ou que arrume a cama não deveria ser visto como punição. É simplesmente algo que ele deve fazer por ser parte de seu cotidiano.

"Uma criança não é um projeto, um troféu ou um pedaço de argila que se pode moldar como uma obra de arte. Só vai prosperar como pessoa se tiver permissão para ser o protagonista de sua própria vida", disse a VEJA o escocês Carl Honoré, autor do livro Sob Pressão – Criança Nenhuma Merece Superpais, publicado no Brasil pela editora Record. Eliminar do desenvolvimento infantil todo desconforto, as decepções e até mesmo a brincadeira espontânea – e ainda por cima pressionar as crianças com a exigência de sucesso total – é um erro de rumo gravíssimo. Sem enfrentarem desafios próprios nem se confrontarem com limites, as crianças tornam-se adultos incapazes de superar as vicissitudes (veja o quadro abaixo). As consequências da infância e adolescência superprotegidas já são mensuráveis: os jovens atualmente levam mais tempo para sair de casa, começar a trabalhar e formar uma família. Quando chegam ao mercado profissional, não conseguem lidar com as exigências reais. Frequentemente se sentem injustiçados e incompreendidos. E frustram-se com facilidade.

Em resumo, se você quiser ter um filho com possibilidade de ser feliz e realizado (nunca há garantias), proporcione a ele a liberdade possível em cada etapa de sua vida. E lembre-se do que disse o escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850): "Chega um momento na vida íntima das famílias no qual os filhos se tornam, voluntária ou involuntariamente, juízes de seus pais". Para ter um julgamento razoavelmente justo, não seja negligente – mas também não seja superprotetor.

Controle férreo

"Eu faço questão de controlar as amizades da Giuliana. Quando ela está brincando no playground do condomínio, dou uma espiada pela janela a cada quinze minutos. Se escuto algum coleguinha falando palavrão ou sendo mal-educado, chamo minha filha e a proíbo de brincar com ele de novo. Gosto de conhecer também os pais dos amigos dela. Se eles são mal-educados, os filhos não serão diferentes. Sobre os amigos virtuais, eu só a deixei fazer um perfil no Orkut para que não fosse ‘digitalmente excluída’. Mas ela só entra na rede social quando a mãe está do lado. Como não sei o que posso e o que não posso permitir, controlo tudo de perto. Dentro de casa, não deixo que as meninas entrem sozinhas na cozinha por causa do risco de acidentes. Até proíbo que abram a geladeira. Sei que tenho essas atitudes por insegurança minha, mas alguns descuidos são apostas que não posso pagar. Se acontecer alguma coisa, o preço vai ser muito alto e eu prefiro não arriscar."

Medo, muito medo

"Tenho um medo enorme de que meus filhos se percam de mim. Quando estamos na rua, não solto a mão deles por nada. Já pensei até em comprar uma daquelas coleiras de criança para o menor. Algumas mães acham isso absurdo. Eu não. Ninguém cuida melhor deles do que eu. Quando eles saem com o meu marido, por exemplo, fico apreensiva. Se vão almoçar na casa da mãe dele, ligo no mínimo quatro vezes para saber se estão bem, o que estão fazendo e o que comeram. Se a minha filha está brincando no playground e uma amiga sobe para pegar um brinquedo, ela sabe que deve esperar no térreo. Temo que o elevador quebre ou a porta se abra e ela caia no fosso. Quando a Stephanie começou a ir à escola de perua, passei uma semana seguindo o veículo para observar. Se alguma outra criança discute ou bate nos meus filhos, vou lá e brigo com ela. Não admito que ninguém chame a atenção deles."

Sozinha, nem pensar

"Sou vítima de uma mãe superprotetora. Quando eu era criança, ela não me deixava participar de nenhum passeio organizado pela escola. Tinha medo de que algo me acontecesse fora do colégio. Nos dias em que não havia aula por causa de um passeio, ela passava a tarde comigo no shopping para me recompensar. Durante toda a minha adolescência, nós brigávamos muito. Ela nunca me deixava sair sozinha. Aos 15 anos, eu só podia ir ao cinema com meu namorado se ela me levasse. No fim da sessão, ela me trazia de volta para casa. Eu sentia tanta raiva que vivia dizendo que, assim que pudesse, iria embora de casa. Até hoje ela fica emburrada quando aviso que vou sair sozinha."

Autonomia desde cedo

"Meus filhos aprenderam a ser independentes e responsáveis desde cedo. É trabalho deles, por exemplo, alimentar e passear com o cachorro da família. Eles se revezam para isso. Cada um arruma seu quarto e cuida das próprias coisas. Eles aprenderam a guardar os brinquedos ainda bem pequenos. Eu dizia que, se algum objeto estivesse espalhado pelo chão, eles poderiam pisá-lo e quebrá-lo. Quando estão sozinhas em casa, as crianças se viram na cozinha. Elas aprenderam com o pai, que adora cozinhar, a preparar lanches e saladas. Acredito que elas devam ser fortes para superar os obstáculos e desafios que a vida apresenta. E ser independente é meio caminho andado para sobreviver neste mundo. A autonomia dos meus filhos me dá segurança e tranquilidade."

Quem ama cuida

"Reconheço que sou uma mãe muito protetora. Quero estar sempre próxima das minhas filhas para protegê-las. Sou da opinião de que quem ama cuida. Meu marido e eu levamos e buscamos a Sthephany na faculdade todos os dias. Ela estuda longe de casa, a mais de 20 quilômetros, e é perigoso fazer esse trajeto de ônibus. Uma vez, ela foi sozinha e se perdeu. Precisei explicar, pelo celular, o caminho que ela deveria fazer até a faculdade. Minhas filhas se sentem inseguras quando estão sozinhas. Em geral, se perdem. Até hoje, nunca viajaram sem os pais. Não sei se essa insegurança se deve ao fato de que meu marido e eu nunca as soltamos. Quando a mais velha sai à noite, vou buscá-la entre meia-noite e meia e 1 hora. A Melanye ainda não sai à noite. É muito nova. Se ela vai com os amigos ao cinema à tarde, peço que volte antes de anoitecer. As meninas respeitam as regras de nossa família. Nunca brigam nem reclamam. Acho que elas se sentem mais seguras assim."



quinta-feira, 3 de junho de 2010

A livraria


Sempre que vou ao Rio de Janeiro, passo pela livraria Leonardo da Vinci, aquela que coleciona mais de 100 mil exemplares de belos livros raros em cheiro, palavras e cores. É assim que vejo uma livraria. É a bela descrição de vários sabores e sensações. Ao entrar em uma livraria, temos que nos preparar, para vivenciar uma das mais belas sensações, a da comunicação plena. É como um ritual de quem vai ao seu primeiro encontro amoroso.

Conversar com quem gosta de livros é um momento único, é uma sensação de quem diz e sempre tem algo a mais a dizer. O sabor de quero mais é sempre emprestado e doado com a sutileza de três palavras: - Seja bem- vindo!

O livro, este de rara qualidade e desempenho, se descreve em uma palheta tão grande de cores, gosto e junções de emoções, que em cada prateleira você conhece um novo ser humano, este ser que é tão indecifrável, muitas das vezes indescritíveis, tanto quanto o que seja uma livraria.

Porém, o homem em qualidade, mais raro do que os livros apresentam-se um pouco mais belos que alguns e infinitamente vulnerável que estes.

Já os livros, ah, esse impenetrável mundo dos sonhos de muitos, vêm embalados em belas capas, mas sempre tendo como autor uma personagem real e outro de ficção. Conhece-nos de outras vidas, nos emociona como se fossemos almas gêmeas e nos transmite a possibilidade de envolvimento e crescimento na vida que hoje transitamos.

Você já se imaginou outra pessoa? Pois bem, ler um livro é se vir em um de seus personagens, outra pessoa, emprestando por alguns momentos o seu corpo, para quem sabe tomarmos consciência de que ele também faz parte ou fez em algum momento de sua vida em uma personagem real.

Ser poeta é vivenciar esses dois momentos, numa fração de segundos que nem mesmo, este ser poeta, toma consciência desse momento. É viver em transe, mesmo lúcido de suas intenções e apegos.

Ser poeta e escritor em vida é se transportar para um quadro e nele colocar o poema de sua vida, cheio de rimas, estrofes que nem sempre lidas nos faz entender quais as suas intenções, para mais tarde pairar em um divã.

Sinto o cheiro de chocolate... Sinto o cheiro de comida caseira, com muito alho, para tirar o mal olhado e festa de aniversário de criança com muito brigadeiro. O local da festa pode ser campo ou praia. De preferência numa casa confortável, num ambiente acolhedor e com os amigos mais próximos. Este é o meu livro predileto. Ingênuo como uma festa de criança, porém rico de emoções, que só dizem respeito as minhas lembranças.

Conhecer, aprender e fazer, é três dinâmicas que nem sempre andam juntas. E nem todos os livros as contemplam, mas te deslumbra esta possibilidade. Basta você ser criativo, livre e autônomo no pensar.

Posso conhecer e não aprender. Posso aprender e não fazer. E por último posso fazer e não compreender. A dinâmica da vida nos parece também ser assim...

A vida pode ser uma cópia. Os livros também pode ser uma cópia. Os livros têm autores. A vida nem sempre tem autores. Pelo menos a que vivemos.

Talvez aí esteja a raridade dos livros. É que neles os autores estão sempre presentes, mesmo sendo extintos, mas vivem em nossa consciência, tornando-os raros e eternos.

Eu sou uma pedagoga dos livros. Nele eu conheço a teoria, para na prática viver as palavras e sua intenção. O livro se define em ações, nunca esgotando as possibilidades de mudanças, para irmos mais além, na busca de um crescimento individual e coletivo.

Estou feliz. Cumpri a minha missão de mãe. Tenho uma leitora em minha vida, que além de minha intenção, faz de sua vida um livro colorido, com cheiro de erva medicinal, com sabor de frutas, com sementes germinadas pelo afeto e o romantismo transcrito em mandala, onde o outro sempre é bem acolhido, para mais tarde se tornar autor de sua história.

Feliz é aquele que coleciona livros.

Bom dia a todos!

Natalícia





quarta-feira, 2 de junho de 2010

“ A filha da floresta”- Marina Silva



Floresta e religião
A menina Marina encantava-se com as lendas e os segredos da floresta contados pelo tio Pedro Mendes, uma espécie de xamã, que conviveu dos 12 aos 30 anos com índios do Alto Rio Madeira antes de ir para o Acre ao encontro da família. "Ele tinha o saber católico, mas tudo era adaptado ao mundo do xamanismo", conta Marina.
Se vieram do tio o amor pela floresta e o respeito à cultura indígena, foi da avó Júlia, com quem viveu dos 5 aos 14 anos, que herdou o fervor religioso. Ela doutrinava a neta com passagens retiradas de uma inseparável Bíblia em papel cuchê com reproduções dos afrescos pintados por Michelangelo na Capela Sistina.

"Eu aprendi a falar fazendo minhas orações com minha vó", lembra Marina, que também sempre anda em companhia de sua Bíblia.
Aos 14 anos, depois de perder a mãe e ver a irmã mais velha se casar, a adolescente acabou assumindo o papel de chefe da casa, enquanto o pai passava o dia trabalhando no seringal. "Eu ia e voltava da cidade com meus irmãos", lembra ela, que os levava na tentativa de curar doenças como malária e meningite. Muitas vezes, precisava caminhar 11 horas com um irmão no colo para chegar às margens do rio Acre e pegar um barco para Rio Branco.
Marina se emociona ao lembrar de quando precisou mentir a um taxista para que ele aceitasse levar no carro a irmã Dóia, com meningite, ao hospital. Afirmou que era malária.
"Fomos abraçadas no banco de trás até Rio Branco. A febre era muito alta e ela vomitava, fiquei com a roupa molhada e toda suja de vômito", conta. "Eu tinha uma convicção muito grande de que devia ir até as últimas consequências, tinha fé em Deus de que aquela doença não pegaria em mim", lembra. Dóia ficou mais de um mês internada e sobreviveu.
Ainda criança, Marina encantou-se pela cidade. Foi em Rio Branco que viu pela primeira vez uma árvore de Natal. Fora à cidade para tentar curar o que hoje acredita ter sido uma intoxicação originada do tratamento da malária. De volta ao seringal, só falava nas luzes e bolas coloridas.
Aos 16 anos, já estava decidida a se mudar para a capital. Queria cuidar da saúde, estudar e seguir o que acreditava ser sua vocação --tornar-se freira.
Àquela altura, a jovem que aprendera as quatro operações da matemática em uma noite para não ser enganada pelos compradores de látex ainda não sabia ler e escrever. Foi morar em Rio Branco, na Casa Madre Elisa, um pré-noviciado. Limpava a cozinha e cuidava da horta. Estudava no Instituto Imaculada Conceição.
A colega Maria Auxiliadora Ribeiro, a Dôra, lembra que Marina vestia saias longas, cores escuras, e dificilmente mostrava os ombros. "Não foi coisa do colégio de freiras. A gente usava vestido curto. Ela, nunca. E jamais soltava o cabelo."
Em quatro anos, Marina foi do analfabetismo ao vestibular, passando por um curso supletivo. O sonho de ser noviça durou dois anos e oito meses. Ela se digladiava com a polêmica entre freiras conservadoras e progressistas.
As primeiras tachavam de comunista quem era ligado às Cebs (Comunidades Eclesiais de Base), incluindo o bispo e o sindicalista Chico Mendes. "Aquilo me incomodava porque sabia que o que o bispo comunista e o Chico Mendes comunista faziam era defender os seringueiros e os índios", diz.
Fome
O discurso da igualdade exercia forte atração sobre ela, que conheceu a fome de perto. Quando o pai certa vez decidiu tentar a sorte em Manaus e, depois, em Belém, a família enfrentou muitas dificuldades. Marina lembra de uma noite de Natal em que havia apenas farinha e um ovo na casa. Só os mais novos comeram.
Ela conheceu Chico Mendes em um curso da ala progressista da Igreja Católica, em 1976. Começaram a ter contato e ele a apresentou a leituras clandestinas sobre direitos dos trabalhadores. "Eu entrei em conflito e saí do convento", conta ela.
A convivência com Chico a levou ao PRC (Partido Revolucionário Comunista), grupo semiclandestino que fazia oposição aos militares. Ali, conheceu José Genoino, também do PRC, em uma das muitas viagens dele ao Acre. "Ela era tímida, contida, ainda não se destacava muito", relembra o deputado petista.
Sua primeira passagem pela capital paulista ocorreu por intermédio de dom Moacyr Grechi. Internada em Rio Branco por causa de uma hepatite, ela ouviu o médico desenganá-la.
Saiu do hospital e foi ao bispo pedir ajuda. Ele prometeu que, se ela conseguisse dinheiro para a passagem, cuidaria do tratamento em São Paulo. A família vendeu alguns animais e Marina foi encaminhada para o Hospital São Camilo.
Ao voltar a Rio Branco, entrou no curso de história da Universidade Federal do Acre. A ex-colega Bernardete Carioca da Silva, hoje diretora de escola, lembra das greves que faziam para melhorar a comida do restaurante universitário.
"Nós éramos todos matutos. Mas ela sabia o que queria e, se preciso, subia no banco para discursar." Entre os colegas de faculdade, a fragilidade física rendeu a Marina o apelido de "Maria doentinha".
O envolvimento político fez naufragar a união com o primeiro marido, Raimundo Souza, com quem havia casado pouco depois de sair do convento --com ele, teve dois filhos, Shalon, que é psicóloga, e Danilo, publicitário.
O casamento se desfez na época em que Marina ajudou Chico Mendes a fundar a CUT (Central Única dos Trabalhadores), em 1984. Comandava sindicalistas durante greves e enfrentamentos que renderam a ela a inimizade dos patrões.
As denúncias de destruição da Amazônia que Chico levava ao exterior deixaram o grupo numa situação difícil no Acre.
As críticas não eram muito diferentes das que ouviu como ministra, algumas vezes do próprio presidente Lula. Certa vez ele sugeriu que a área ambiental do governo se preocupava mais com a preservação de "bagrinhos" do que com a necessidade de construir hidrelétricas no rio Madeira
Em 1985, Marina entrou no PT. Sua estreia nas urnas aconteceu um ano depois, quando concorreu a deputada constituinte, enquanto Chico Mendes tentava chegar à Assembleia Legislativa do Acre. O partido não atingiu quociente para elegê-los, mas ela foi a quinta mais votada. "Ninguém achava que ela fosse se eleger, queríamos era puxar voto para o Chico. Mas ela foi a surpresa das eleições", lembra o amigo e ex-governador Jorge Viana.
A ascensão meteórica fez dela a primeira vereadora de esquerda de Rio Branco, em 1988.
Dois anos depois, foi a deputada estadual mais votada. Em 1991, novamente se afastou para tratar da saúde. Viajou a São Paulo, onde contou com o apoio de Genoino e Lula.
Passou cerca de um ano na casa da sogra em Santos, no litoral paulista. A essa altura, já casada com o atual marido, Fábio Vaz de Lima, estava grávida de Mayara, filha mais nova da união -também tivera Moara.
Precisou esperar o nascimento para começar a se tratar.
A sensação, diz ela, era a de quem chupasse moedas. A contaminação por metais pesados era a fatura que pagava pelos tratamentos de leishmaniose, três hepatites e cinco malárias.
Aos 36 anos, em 1994, foi eleita a mais jovem senadora da República. Em seu primeiro mandato, concentrou a atuação em temas ambientais e indígenas. Mesmo na oposição, mantinha boa relação com o então presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Tanto que, mais tarde, ao assumir a pasta ambiental, avisou que não iria "desconsiderar" avanços e experiências do antecessor.

Retorno à fé
Sua saúde voltou a piorar.
Voltou a São Paulo, foi ao Chile e aos Estados Unidos em busca de tratamento. O sofrimento acabou levando-a de volta à religião. "Fiz um acerto de contas comigo mesma e retomei a minha fé", diz ela. Mais tarde, trocou o catolicismo pela Assembleia de Deus, na qual foi batizada em 1997. Marina diz que a mudança foi fruto de "um toque do espírito".

Para ela, a fé a ajudou a superar os problemas de saúde. Hoje, Marina segue uma estrita dieta, que exclui carne vermelha, laticínios e até café. Tem alergia a pó, carpetes e cheiro de tinta. Faz jejum pela manhã, quando reserva um momento para as leituras bíblicas.
A convicção religiosa já lhe rendeu a pecha de intransigente por ser contra pesquisas com células-tronco provindas de embriões e contra a descriminalização do aborto.

Curiosamente, alia a fé ao interesse por psicanálise -fez pós-graduação na área. Considera Freud "um dos monstros sagrados do pensamento ocidental". Para ela, religião e psicanálise têm "pontos de contato". "Não acho que essa visão possa desconstruir a fé, nem acho que a fé deva ter a pretensão de querer desconstruí-la."
Em 2002, com a eleição do amigo Lula, Marina, novamente senadora, era o nome natural para a pasta do Meio Ambiente.
Um manifesto de apoio foi subscrito por 160 ONGs da área e entregue ao presidente eleito.
Seu nome foi anunciado por Lula em Washington.
Quando estava no ministério, seu marido assumiu como assessor no gabinete do suplente no Senado, Sibá Machado.

Problemas no governo
De um começo pomposo na pasta, seu primeiro cargo executivo, Marina viu seu poder minguar nos cinco anos e meio que se seguiram. O primeiro embate que quase a fez deixar o ministério foi a decisão do governo de liberar o plantio de transgênicos. Radicalmente contra, chorou em público.
Depois vieram a transposição do rio São Francisco e as hidrelétricas. O discurso que pregava à exaustão, o da "transversalidade nas ações do governo", parecia não funcionar.
Cultivou opositores internos e sofreu boicotes. Para os críticos, sempre que tinha um embate no governo, ela se refugiava no "mito Marina". Usava o capital adquirido com o amigo Lula para tentar vencer as batalhas internas. Não funcionou.
Ela também foi criticada por dar excessiva atenção a questões amazônicas e não dimensionar corretamente, no primeiro ano, a importância de uma reestruturação do licenciamento ambiental. Marina rebate -e cita o próprio Lula.
"Eu aprendi com ele que, quando você tem cinco telhas numa casa, você coloca no quarto das crianças. Naquele momento, o que estava sendo colocado como um desafio era diminuir o desmatamento."
A diminuição nos índices de desmatamento foi sua principal vitória. Segundo Marina, somente ela, vinda da floresta, poderia mexer nas questões amazônicas. "Duvido muito que alguém tivesse estatura pra propor acabar com a Secretaria da Amazônia, que era um ministério dentro do ministério.
Eu a descriei e propus que a Amazônia fosse uma política transversal", diz em seu discurso característico.
Com Lula reeleito, Marina quase não foi reconduzida. O amigo Jorge Viana chegou a ser convidado três vezes para substituí-la. Pressionada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e a urgência de obras de infraestrutura, manteve suas posições e viu seu isolamento no governo aumentar.
Deixou a pasta sob o lamento das organizações ambientalistas. "Perco a cabeça mas não o juízo", disse à época.
"Meu sonho", diz ela, "era ver o governo apostar na visão de desenvolvimento sustentável como uma política transversal.
Mas não foi possível".

Do PT ao PV
Sua volta ao Senado deu início a um inevitável assédio de outros partidos e a novas costuras políticas. A decisão de sair do PT, depois de quase 30 anos, foi tomada em agosto de 2009.
Jorge Viana a resumiu como "um baita problema".
A filiação ao PV já estava engatilhada e foi formalizada dias depois de ela ter deixado o PT.
Marina crê que sua pré-candidatura pressionou as demais a dar mais ênfase à questão ambiental. "O tema passou a fazer parte da agenda política dos partidos, que anteriormente não o estavam colocando com esse nível de importância."
A pré-candidata do PV surpreendeu muitos ao encontrar alianças no meio empresarial -como seu provável vice, Guilherme Leal, da Natura- e formular um programa que também dá ênfase a questões como reforma tributária e do Estado.

Colaborou MARCOS AUGUSTO GONÇALVES, editor de Opinião
Folha: UOL. Noticias.com.br

domingo, 30 de maio de 2010

Uma conversa a mais...

Participo da Comunidade criada por Denise Vilardo no site "Peabirus". Um dos artigos foi esplanado a situação atual da educação municipal na cidade do Rio de Janeiro, sob o título: " Prá trás é que se anda".
Transcrevo abaixo o meu texto e a resposta ao mesmo.


Uma conversa a mais...
Bom dia, Denise


Sempre que recebo algo escrito por você venho conferir. Assim como você sou educadora e procuro estar atenta aos mandos e desmandos. Infelizmente o que mais ocorre em nosso dia a dia são os desmandos.
Tendo percorrido em meus 30 anos de trabalho várias metodologias, filosofias e politicagens educacionais e vejo que nada mais me surpreende.

O que ainda me inspira a escrever é ver que ainda existem pessoas lúcidas e portanto comprometidas com o fazer e pensar educacional democrático, que fica longe de ser uma desmoralização da nossa digna profissão.

Sendo adepta aos ensinamentos filosóficos democráticos, reconheço e compreendo a sua  preocupação e indignação. Longe de qualquer pretensão de avaliação, vejo que mesmo morando em uma cidade pequena e próxima ao Rio, as suas dificuldades não diferem das minhas e provavelmente de muitos profissionais da educação. Acredito que a única mudança são os atores.

Temos em comum a falta de preparo daqueles que se colocam como porta vozes de uma política educacional, que foge a qualquer convergência de ideias produzidas coletivamente, pois o que sobressai é o individualismo e a preponderância de egos infláveis como balões em dia de festa.
Só reconhecem que pobre existe em catástrofe ou em época política. Só nesse momento eles se igualam, isto é, tornam-se cidadãos de "pena'.

Passamos por inúmeras filosofias de aprendizagens e vejo que ainda não encontramos respostas para quase nada, principalmente quando temos que resolver conflitos graves, como por exemplo:- o que faz com que o meu aluno aprenda de forma significativa e como ampliar a sua inserção no trabalho. Essas e muitas outras perguntas dessa ordem, ainda não se encontram respondidas em nenhum manual de qualquer secretaria de municípios ou estados.

E nós sabemos o porque. Mas eles insistem em nos julgar como incompetentes e irresponsáveis. O que não adimito o grave erro, principalmente quando vem por decreto.
Insisto ainda dizer que tudo que é ruim ( ideias,cartilhas, decretos) são aceitos rapidamente e passado de geração a geração como uma verdade e fico perplexa que são aceitos e implantados como a salvação. Só pode ser coisa de céticos ou de fundamentalistas que trabalham em causa própria.

Espero que essas ideias demorem aqui chegar, pois você não imagina que efeito catastrófico seria para uma cidade que não possui uma biblioteca pública decente, não possui cinema, teatro e livraria possa conviver com tamanho retrocesso.
Demoramos muito para sair do conteudismo, imagina o quanto ainda temos para construir e agora voltamos a estaca zero!?... Imagina o q será de nós?

A minha trajetória profissional foi árduamente construída e selecionada, pois muito me orgulho da mesma. Acredito que o respeito proprio e o alicerce que construi ao logo dos meus 55 anos, merecem melhor desfecho, visto que só terei essa vida para ser vivida e foi construída com dignidade.
Me orgulho do que tenho, pois se hoje penso foi porque fiz boas escolhas, tive a oportunidade de ter excelentes professores e excelentes amigos no trabalho.

Uma profissão só é bem sucedida quando conquistamos autoria no pensar, ser e agir. Nada mais importa do que ser fiel as suas habilidades e competências.
Espero que em breve você nos traga boas notícias.

Um grande abraço e continue em sua tarefa. Estarei sempre atenta!

Natalícia

Em resposta...

Ah, Natalícia

a sua mensagem me deixou profundamente emocionada.

Infelizmente, não tenho notícias boas aqui da capital... outros absurdos continuam ocorrendo e pretendo informar por aqui, brevemente.

Você falou coisas importantíssimas. Os desmandos, os egos inflados... é inadmissível que transformem a Educação numa corrida de quem aparece mais, né?
Ficamos à mercê de modismos, porque tudo o que nos impõem é feito de maneira superficial, as atualizações em serviço são raras e frágeis. E, pior, são contraditórias... Professores mergulhados numa "fazeção" sem fim, sem oportunidade de sequer de pensar sobre o seu cotidiano pedagógico.

E, pra mim, o crucial disso tudo, como você também comentou: o fato de nos tratarem como débeis, como pessoas que não pensam, que não produzem conhecimento.

Cada vez creio mais que precisamos nos mobilizar, sem medo, e começar a trabalhar coletivamente (que é outro nó na nossa classe...) com os sentidos atentos e a força da experiência, da competência e da ousadia, porque não tememos o novo, o que não aguentamos mais é a falta de respeito, de bom senso e a hipocrisia.


Um grande e afetuoso abraço

Denise