sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Clipe de Dr. Dre com Eminem


Saiu o clipe de I Need A Doctor, o primeiro single do esperadíssimo novo álbum de Dr. Dre, Detox.




A música traz como convidados o rapper Eminem e a cantora Skylar Grey. O trio interpretou a música na cerimônia do Grammy deste ano.



A produção é digna de cinema, com imagens de alta qualidade e efeitos especiais caprichados, incluindo um fantástico acidente de carro.


O enredo carrega nas tintas dramáticas. A "volta" de Dre, que não lança um álbum desde 1999 (chamado 2001), é tratada como episódio de superação pessoal e renascimento a la fênix.


Imagens da vida e carreira de Dre aparecem em vários momentos: ele se casando, com filhos, seus tempos de NWA, suas descobertas como Snoop Dogg e Eminem.


A participação de Eminem é uma declaração emocionada de gratidão a seu "mentor". "Você salvou a minha vida/Talvez agora eu possa salvar a sua", ele diz.



Veja abaixo o clipe de I Need A Doctor:



domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Solidariedade pede mais do que 140 caracteres" - André Trigueiro

Solidariedade pede mais do que 140 caracteres




Por David Harris, tem pós-graduação pela Universidade de São Paulo, e hoje investiga desigualdade, movimentos sociais e novos meios de comunicação no Instituto do Futuro/ Institute for the Future (IFTF). Em 2012, o IFTF lançará o projeto “Previsão Social Mundial” — uma plataforma online que possibilitará imaginar outros mundos, construídos especificamente para a comunidade do Fórum Social Mundial. É também fundador e diretor executivo do Global Lives Project.


O artigo “Solidarity takes more than 140 characters”, do sociólogo estadunidense David Evan Harris, presente no Fórum Social Mundial, avalia o impacto, e o futuro da tecnologia e redes sociais na mobilização política e na transformação do mundo. O texto foi publicado na BBC Business Online, e cedido gentilmente ao Portal Mercado Ético.


“Como pesquisador do Institute for the Future (Palo Alto, California), é fácil para mim sucumbir ao ‘tecno-otimismo’: “tecnologia é a revolução”, eu diria. Com um laptop por criança, e um tweeter em cada casa, um novo mundo de internautas hiperconectados parece nascer das cinzas do nosso devastado planeta.


Após meu quarto Fórum Social Mundial, em Dakar, o mundo parece diferente. O triunfo do mercado no Vale do Silício é completamente ausente aqui.


Se empreendedores podem ter um importante papel aqui na África, precisamos nos lembrar das instituições públicas que criaram, e agora reproduzem, as condições políticas e econômicas que possibilitam ao mercado prosperar nos Estados Unidos: educação pública, leis de salário mínimo, redes de segurança social, redes de esgoto, e sistemas de água e eletricidade, e, por fim, a separação nominal entre os poderes da igreja e do estado, e os diferentes braços do governo.


Os jovens do Egito e da Tunísia, usando as últimas ferramentas da comunicação, destituíram dois ditadores em dois meses. Essas revoluções muito provavelmente teriam acontecido com ou sem essas tecnologias. Mas provavelmente não tão rapidamente, ou relativamente em paz.


Além disso, ambos os países, ainda estão na contramão da miséria, das dramáticas desigualdades, e cara a cara no enfrentamento da reconstrução de instituições democráticas, para os quais não há modelos claros.


Também no Fórum Social Mundial, surgem questões sobre os novos tipos de instituições. Falamos não apenas de revolução, mas nos perguntamos sobre que tipo de mundo, baseado em que tipo de instituições a serem criadas no amanhecer dos escombros de ditaduras. Índia e Brasil – duas das grandes democracias — mostram que a extrema pobreza é completamente compatível com o rápido crescimento econômico e a proliferação de empreendedores.


Um dos perigos possíveis emana das tecnologias - aquelas que permitiram a ação revolucionária de quem seguiu tweets da Praça Tahrir (”Praça da Libertação”, no centro do Cairo), e expressou sua solidariedade no Facebook e agora estará distraído com uma nova causa, perdendo de vista o sinal das correntes mais profundas do jogo, e a necessidade de criação de estruturas sustentáveis que as superem.


Com 140 caracteres permitidos, é fácil esquecer que a arquitetura financeira global que nos dirigiu à crise está intocada. Séculos de pilhagem do hemisfério Sul não podem ser apagados no espaço de um simples tweeter. A solidariedade real é um compromisso para a vida inteira”.



Fonte: Mercado Ético





"Os cabelos e as mulheres da Amazônia"

Em novembro/2009, após aparar meus cabelos e deixá-los à altura dos ombros, tomei conhecimento de uma campanha de doação de cabelos para a confecção de perucas para mulheres que sofreram escalpelamento nos rios da Amazônia.


Àquela época, tomei a decisão de deixá-los crescer, sem aparar um milímetro sequer. Pretendia cortá-los no meio do ano, em junho ou julho/2010. Mas achei que não estavam em um bom tamanho. No último dia 06/01/2011 cortei meus cabelos. No dia seguinte levei ao Espaço Acolher, da Santa Casa do Pará.

Anos atrás, quando conheci o drama vivido por ribeirinhas, que tinham o couro cabeludo arrancado pelo eixo do motor de pequenas embarcações, fiquei indignado em saber que havia uma solução, simples e barata, que impediria por completo que esse tipo de acidente voltasse a acontecer.

Infelizmente vivemos em um mundo capitalista, onde a sede de lucro comanda as ações dos donos do poder. Infelizmente vivemos em um mundo capitalista, onde a imensa maioria dos governantes, ou faz parte de uma ínfima minoria, proprietária dos meios de produção, ou faz parte de uma casta subserviente a seus desmandos. E as mulheres escalpeladas da Amazônia não fazem parte desse minúsculo círculo. Na verdade, a maioria delas está excluída por completo dos centros de decisão.

Há um ditado que diz: "se fosse o homem quem engravidasse, o aborto não seria considerado crime". A lógica é similar, no caso dos escalpelamentos, pois se fosse um acidente que atingisse ricas damas da sociedade, certamente os governantes já teriam, há muito tempo, determinado uma solução definitiva ao problema.

E a solução é tão absurdamente simples, que chega a ser inacreditável que muitas mulheres – crianças, jovens, adultas, idosas – sejam vítimas de tal crueldade: basta cobrir o eixo do motor, com um assoalho de madeira ou com uma carenagem metálica. Mas as frágeis vítimas estão lá, no meio da Amazônia. No interior de rios e igarapés que correm distantes dos grandes centros urbanos. Distantes dos olhos e ouvidos do mundo. E isso faz toda a diferença.

Em 2009 foi promulgada a Lei 11.970, que altera a Lei 9.537/97, e torna "obrigatório o uso de proteção no motor, eixo e quaisquer outras partes móveis das embarcações que possam promover riscos à integridade física dos passageiros e da tripulação". Na verdade, a lei de 1997 nem precisaria de reforço, pois o seu artigo 4º, inciso V, determina que é atribuição da autoridade marítima "estabelecer a dotação mínima de equipamentos e acessórios de segurança para embarcações e plataformas". Talvez, se fossem os homens – ou as autoridades marítimas – que tivessem seus cabelos arrancados...

Esta "pequena" mudança, que foi colocada em prática graças aos conselhos existentes nas comunidades ribeirinhas, aliada a uma campanha de conscientização, foram as responsáveis – ao que tudo indica – pela redução nos casos de escalpelamento. Em 2009, 21 mulheres (boa parte crianças) tiveram seus cabelos arrancados, no Pará. E às vezes, foram junto com orelhas e a pele do rosto e pescoço. Em 2010, somente 07 casos foram registrados na Santa Casa.

Isso sem falar dos casos não informados, dos óbitos não contabilizados...

Se, de fato, a promulgação da nova Lei e a campanha de esclarecimento foram determinantes para essa drástica diminuição dos acidentes, há de se comemorar. Mas, também, há de se questionar: se era tão simples, porque não foi feito antes?

Confirmando a decisão tomada a pouco mais de um ano, cortei e doei meus cabelos.

Sei que é um pequeno gesto, minúsculo. Sei que não trará de volta a felicidade em poder observar o simplório ciclo de crescimento e queda de fios de cabelo. Sei que não trará de volta o prazer em banhar-se nas águas dos rios sem sentir dor na fina pele transplantada para o crânio. Sei que não trará de volta a saudável vaidade de pentear e acariciar os cabelos.

Mas sei que, de alguma maneira, essa pequena doação colocará um sorriso no rosto de alguém que já passou por muitos sofrimentos, mas não desistiu de lutar. E não desistiu de ser feliz.

E sei, também, que se quisermos baixar a zero a quantidade de vítimas, será preciso botar a boca no mundo. Gritar. Berrar o mais alto que puder. Para que acordem os responsáveis pela fiscalização e cumprimento de mais uma lei. Apenas o silêncio pode impedir a felicidade das mulheres dos rios da Amazônia. Não nos calemos, jamais!


Fonte: Mauricio Santos Mato
Grata, EVANI

ANÁLISE SOCRÁTICA DOS TEMPOS ATUAIS



Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'.


Comemorei: 'Que bom então de manhã você pode brincar dormir até mais tarde'.


'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'


'Que tanta coisa?', perguntei.


'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada.


Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'


Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.


Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.


Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'.


'Olha uma maravilha, não tinha uma celulite!'


Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?


A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.


Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.


O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.


Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping Center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...


Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.


Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...


Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.'


Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:


- "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz !"





FREI BETO