sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O Conselho Tutelar e os diferentes papéis- Natalicia Alfradique

Esta reflexão veio após a leitura do texto da Carla Lam e Auro Lescher do artigo publicado na revista Scientific American Brasil, Ed. Especial nº 38. Coloco em link o texto para quem quiser conferir. Vale a pena!


Bom dia Carla!


Estou me sentindo honrada em ler o seu artigo. Nessas horas a internet tem o seu lugar bem definido e de relevante valor.

Parabéns, você foi brilhante ao sintetizar a história da infância e seus aspectos no decorrer da história. Falou com profundidade e conhecimento o verdadeiro papel da escola enquanto espaço de ensino aprendizagem e assim sendo mais um espaço educativo.

Fui me nutrir de uma boa canjica (literalmente), algo doce, natural e com características bem brasileiras para conversar com você, com mais amorosidade. Nutrir-me de algo doce, me satisfaz, alegra o meu dia e me faz crer que tudo é possível quando se tem conhecimento, vontade e atitude. Aliás, três ingredientes bem sinalizados em seu artigo.

Hoje estou trabalhando no Conselho Tutelar de Rio Bonito. Algo que para mim é muito novo, além de só ter o olhar do mesmo, sobre o ponto de vista educacional, pois a minha carreira profissional sempre esteve presente em um ambiente escolar.

Quanto ao Conselho Tutelar, estou tateando e criando o meu espaço, que até o momento me parece ter um parecer equivocado quanto ao que seja ser uma pedagoga em uma instituição de defesa aos direitos da criança /adolescentes e jovens. Isso se apresenta no dia a dia através de discursos, que devem ser aprofundados, quanto ao conceito de infância e da falta de projetos que sustentem ações efetivas.

Assim sendo, pensei em algumas propostas, que compartilho com vocês e tentarei ser breve e objetiva.

1- Além de muita "discussão" no campo das ideias, compartilhar conceitos e estudar muito, pois é raro encontrar os seus pares quando nada se expõe. O diálogo deve crescer para sustentar as próprias ações a serem implantadas.

2- Concordei com a ideia da criação de um site do CT de Rio Bonito, entretanto, ampliando a visão do mesmo, isto é ampliando a sua função de normatividade e caminhando em busca de serviços que possam efetivamente colaborar para esclarecer, elucidar, informar e formar indivíduos a serem cidadãos.

3- Sustentei a ideia que o CT tenha que criar uma identidade própria, local e com serviços diferenciados, atendendo a clientela em suas dúvidas, expandindo a relação de troca e de serviços.

4- Levei a ideia de se criar um canal de comunicação em rede, com os diferentes segmentes da sociedade, para ouvirmos e sermos ouvidos quando necessário se fizer.

5- Criar ações pedagógicas no intuito de minimizar a problemática existente entre ensinantes e aprendentes, dando oportunidade a essa clientela de expor quais são as suas dúvidas quanto a um determinado assunto de seu interesse.

6- Possuir um serviço online onde pudessem ser ouvidas as queixas, angústias e aflições de muitas demandas dos pais, por falta de compreensão do que deve "ser feito" numa hora de conflito. Muitos pais vêem até nós, quando o fato está consumado, sem nenhuma ação preventiva.

7- Conhecer e estudar com outras comunidades em rede, para haver mais troca de conhecimentos e de experiências.

8- Ter um terapeuta para acompanhar os projetos desenvolvidos em parceria com as escolas e ou ONGs, que afine com a proposta e os conceitos em pauta.

9- Ter acesso direto e irrestrito aos espaços representativos governamentais, sempre que necessário, sem passar por tanta burocracia.

10- Ser ouvido e atendido sempre que justifique nas ações implantadas, para que não haja desvio de verbas.

11- Criar parcerias com a comunidade, órgãos públicos e privados como uma das ações sustentáveis a esse projeto.

12- Defender a ideia que o "Projeto Bolsa-Família", possua novos credenciais para a permanência do mesmo, que não seja só a frequência escolar.

13- Defender a ideia do livre acesso de ir e vir das crianças/ adolescentes e jovens para poderem usufruir dos diferentes espaços de sua comunidade.

14- Ter mais acesso aos livros, teatro, cinema, área de lazer, que são poucos em nossa cidade.

15- Fazer parcerias para a oportunizar o acesso ao esporte, como uma das formas de desenvolver a dignidade do cidadão.

16- Fazer parceria em projetos com as diferentes secretarias municipais, oferecendo cursos educativos para os jovens e sua família.

17- Oportunizar cursos para os conselheiros e sua equipe.

18- Que tudo que se crie e que seja significativo, que seja de consenso e bom, seja oficializado, normatizado, para que num próximo mandato, não seja jogado na lata do lixo, por apenas uma visão egoica.

19- Que se tenha tutores educacionais, onde preserve a integridade dessas crianças, onde oriente as famílias a "serem famílias", dando oportunidade de elas permanecerem no seu espaço. Criando uma rede amorosa, onde o afeto comece na gestação e que esta tenha sido concebida por "escolha", criando uma consciência maior entre corpo/ mente e desejo.

20- E por último: respeito a todos, sem preconceitos, sem julgamentos morais e reconhecendo que o mundo se constrói dia após dia. Que nada é tão rígido que não possa mudar e nem tão flexível que não se possa "moldar". O equilíbrio é a opção do meio termo.



Bem... Muitas ideias. Podem colocar outras e até algumas reflexões que por ventura eu não pensei... Podem concordar e discordar. É isso que preciso para crescer e até "acreditar" que elas sejam realmente viáveis.

O mundo anda muito imediatista, muito corrido, muito louco. Muito pensamos e ainda fazemos pouco. E encontramos poucos que queiram correr atrás do prejuízo.

Queria eu estar aí, talvez assim eu pudesse exercer com mais efetividade as minhas intenções. Mas, como acredito q estou onde devo estar, devo fazer a minha parte.

Não nego o cansaço, a falta de grana, a falta de compartilhar ideias e ser ouvida. Isso é raro.

Espero que não tenha tomado muito tempo de vocês, mas estou aqui cumprindo uma parte do meu dever, isto é, de ser eu mesma.



Um abraço fraterno, amoroso e cheio de "canjica", rs.

Natalícia