sábado, 27 de fevereiro de 2010

“Teoria Moral da Manga”



O velho caipira, com cara de amigo, que encontrei num Banco estava esperando para ser atendido. Ele ia abrir uma conta. Começo de um novo ano... Novas perspectivas... E como não podia deixar de ser, também começou ali um daqueles papos de fila de banco. Contas, décimo terceiro que desapareceu, problemas do Brasil, tsunami... Será que vai chover? Mas em determinado momento a conversa tomou um rumo: "- Qual é então
o maior problema do Brasil para ser resolvido? "E aí o representante rural, nosso querido "Mazaropi da modernidade" falou com um tom sério demais para aquele dia:

" - O Maior Problema do Brasil é que sobra muita manga!"

Tentei entender a teoria...Fez-se um silêncio e ele continuou:

" - O senhor já viu como sobra manga hoje debaixo das árvores? Já percebeu como se desperdiça manga?

"Sim... Creio que todos já percebemos isto... Onde tem pé de manga, tem sobrado manga... E Aí ele continuou:
" - Num país onde mendigo passa fome ao lado de um pé de manga... Isso é um
absurdo! Num país que sobra manga tem pouca criança. Se tiver pouca criança as casas são vazias... Ou as crianças que tem já foram educadas para acreditar que só "ice cream" e jujuba são sobremesas gostosas. Boa é criança que come manga e deixa escorrer o caldo na roupa... É sinal que a mãe vai lavar, vai dar bronca, vai se preocupar com o filho. Se for filho tem pai... Se tiver pai e manga de sobremesa é por que a família é pobre... Se for pobre, o pai tem que ser trabalhador... Se for trabalhador tem que ser honesto... Se for honesto, sabe conversar... Se souber conversar, os filhos vão compreender que refeição feliz tem manga que é comida de criança pobre e que brinca e sobe em árvore... Se subir em árvore, é por que tem passarinho que canta e espaço para a árvore crescer e para fazer sombra... Se tiver sombra tem um banco de madeira para o pai chegar do trabalho e descansar... Quem descansa no banco, depois do trabalho, embaixo da árvore, na sombra, comendo manga é porque toca viola... E com certeza tá com o pé na grama... Quem pisa no chão e toca música tem casa feliz... Quem é feliz e canta com o violeiro, sabe rezar... Quem sabe rezar sabe amar... Quem ama, se dedica... Quem se dedica, ama, reza, canta e come manga, tem coração simples... Quem tem coração assim, louva a Deus.
Quem louva a Deus, não tem medo... Nada faltará porque tem fé... Se tiver fé em Deus, vê na manga a providência divina... Come a manga, faz doce, faz suco e não deixa a manga sobrar... Se não sobra manga, tá todo mundo ocupado, de barriga cheia e feliz. Quem tá feliz... Não reclama da vida em fila do banco... "

Daí fez-se um silêncio...


Muito mais que o padrão de vida, deve-se procurar a qualidade de vida. Quer uma manga?...

Fonte: autor desconhecido,recebido por e.mail.


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

“Passeio Socrático” – Frei Betto


 

Ao  viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do  Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São  Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares,  preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já  haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um  outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois  modelo produz felicidade?'

Encontrei  Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à  aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de  manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de  meditação!'

Estamos construindo  super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do  interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não  tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em  relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como  estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como  fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a  palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga  íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de  prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A  palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a  publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é  o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é  que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que  acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a  neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades,  auto-estima, ausência de estresse.

Há uma  lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média,  as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil,  constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há  mendigos, crianças de rua, sujeira pelas  calçadas...

Entra-se naqueles claustros  ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.  Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos  de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na  eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo  hambúrguer do Mc Donald...

Costumo  advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro  comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!"


 

Fonte: recebi de uma grande amiga ( Evani) por e.mail

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O programa de proteção às crianças e adolescentes deve ser revisto...


 

O jovem Ezequiel Toledo Lima, de 19 anos, condenado pelo assassinato do menino João Hélio, em 2007, no Rio, se apresentou, no final da noite desta terça-feira, 23, à 2ª Vara da Infância da Capital, após o desembargador Francisco José de Asevedo, da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, anular a inserção do rapaz no Programa de Proteção às Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM).

Ezequiel está sob custódia da Justiça e enfrenta nesta quarta-feira, 24, uma nova audiência para decidir se cumprirá o regime semiaberto na cidade ou se ingressará no programa de proteção. O rapaz era menor na época da morte de João Hélio e cumpriu três anos de medida socioeducativa.

O crime aconteceu em fevereiro de 2007. Acompanhado por três comparsas maiores de idade, ele abordou o Corsa Sedan dirigido pela mãe de João Hélio, Rosa Cristina Fernandes.

O grupo anunciou o assalto e impediu que a mulher retirasse a criança do carro. O então adolescente fechou a porta e deixou João Hélio pendurado pelo cinto de segurança. O menino foi arrastado por seis quilômetros e morreu.

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Começar a falar sobre o caso do menino João Hélio, já nos traz uma sensação de impotência e frustração. Digo isto, porque nem o tempo ameniza a dor de ter vivenciado momentos de tamanha brutalidade. Se não fosse o papel da mídia, provavelmente acreditaríamos que estávamos num túnel do tempo, que teríamos voltado ao tempo das arenas, onde as pessoas eram sacrificadas. Foram dias de terror. Se aquela imagem não tivesse sido reproduzida e repetida por tantas vezes, provavelmente tudo teria caído no esquecimento.

Indubitavelmente somos fracos de memória. Tivemos três anos para revermos as leis, estatutos, etc. No entanto, fomos ingênuos ao acreditarmos que apenas a opinião pública daria conta de fazer a justiça. Infelizmente, não é o que estamos presenciando.

Não entendo por que um adolescente comete um crime hediondo e tenha que ser tratado como alguém irresponsável, sem identidade, sem vontade própria, como se fosse um débil mental, coisa que ele não é... Não entendo como uma pessoa escolhe em se juntar a uma gangue, comete um crime e ainda duvidamos de sua total responsabilidade de seus atos.

Não entendo também, porque o mesmo não é julgado como uma pessoa comum, afinal somos todos iguais perante a lei. Não é a idade que torna a sua responsabilidade maior ou menor. E sim... a sua crueldade. E nesse exato momento, este já é maior de idade, portanto, pode e deveria responder por seus atos. Sinto que a responsabilidade de olhar os fatos de forma adulta cabe a nós, que querendo ou não fazemos parte dessa sociedade que demonstra a sua insanidade.

Esse camarada que um dia foi adolescente passou por um processo que todos nós em algum momento já passamos e nem por isso saímos agredindo ou matando pessoas. Então o que nos difere? O que nos faz diferente? Como somos diferentes...

Alguns justificariam que existem seres humanos que nascem com essa índole para o mal. Outros diriam que já nasceram com uns genes diferentes, ou seja, já nascemos com uma disponibilidade para cometermos ações tão desprezíveis. Mas, qualquer que seja a explicação, nenhuma nos satisfaz. Nenhuma sociedade aceitaria atos tão hediondos como algo normal, aceitável, compreensível, razoável, cientificamente explicável... Não existe nada razoável quando quebramos a moral, a ética, o direito de sermos diferentes entre tantos iguais e principalmente emotivos.

Eu me pergunto, onde fica a emoção? A emoção de ser agradável, responsável, digno, de ser flexível com o que somos e pretendemos ser.

Sei que uma pessoa desequilibrada convive com as suas mil faces, sem ao menos se dar conta. Mas sei também que este pode viver por muitos e muitos anos sem se quer agredir ninguém. Tudo depende do seu meio social. Por isso, a aplicação de ações educativas (e não reeducativas) em alguns casos será para vida inteira. Não existem pessoas prontas, acabadas. Existem pessoas em formação e em transformação. Portanto, o mundo pode ser explorado de diferentes formas, só depende das escolhas que fizermos. As minhas crenças, valores serão o termômetro. Não existe o impossível quando vejo que há espaço para todos. Existe sim, pessoas que não acreditam em si própria, por total falta de conhecimento de suas possibilidades. E neste quesito a família tem total participação e responsabilidade.

Assim, no mínimo essas pessoas com atitudes e ações desqualificadas: ações agressivas, atitudes que põe em risco a sua vida e a de outrem, devem viver em total vigilância e cuidados terapêuticos. Não existe meio termo para elas, tanto é assim que elas não pensam duas vezes quando estão cometendo os seus delitos.

Mas, o que nos torna diferente é o fato de que uma pessoa em sã consciência, não mata para virar notícia. Não mata para ter um minuto de audiência. E tem mais, amam...

Pessoas ditas normais fazem de seu minuto de estrelado algo positivo, para si e para o outro.

Acreditar que a justiça será feita é o mínimo que posso esperar. Não sou defensora da menor idade penal. Acredito que não resolveria. O que resolve é um melhor acompanhamento no andamento desses processos. Uma política pública capaz de reconhecer que a punição ainda é algo subjetivo, visto que, o que pode ser punição para mim, não é para outra pessoa.

Acredito que o razoável é crermos que trabalho torna as pessoas dignas e responsáveis. Que ambiente educativo ainda é a melhor fonte de conhecimento. Que família amparada é aquela que reconhece os seus erros e trata dos seus com carinho e amparo. Que o espaço de uma má ação, deve ser ocupado por uma boa ação. E que existem boas e más pessoas e que devemos reconhecer que o pior dos seres humanos deve ser tratado com dignidade. E que o seu papel na sociedade será de se cuidar e trabalhar em benefício próprio. Ninguém deve cuidar de sua sobrevivência a não ser ele próprio. Cuidado é algo que vem com responsabilidade, amadurecimento e dignidade.

E que somos todos iguais, no mundo de diferenças desiguais. Não existe nada que não possa ser recuperado, a não ser a morte.

Por isso viva, um ou dois milhões de dias, mas faça a sua parte. Não espere que a sociedade a faça. Não seja permissivo, bajulador e nem político de porta de cadeia.

Seja digno, seja humano, seja responsável por sua pobreza. Não responsabilize a todos aquilo que lhe diz respeito.

Pense, seja homem, foi isso que você ouviu a vida toda. A fase de criancice já passou. A única criança dessa estória foi para outro plano espiritual. Por isso, em sua memória, respeite a dor de uma família e de muitos brasileiros.


 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

“ O primeiro mundo logo ali”

Volto de três semanas de férias no Chile e peço licença para falar mais do nosso companheiro de América do Sul. Em Santiago, o taxista me perguntou, incrédulo: "É verdade que pelos carros brasileiros que compramos aqui, vocês pagam mais lá no Brasil?" Expliquei que somos um país com uma altíssima carga tributária, como se fôssemos um povo rico. E tive que contar ao motorista que, mesmo com tanto imposto,  não temos segurança pública, a educação é ruim a saúde pública é péssima e nossas estradas são piores ainda. Andei pelo Chile de norte a sul, o que não é pouco: a distância entre Punta Arenas, no extremo sul e Arica, no extremo norte, equivale à distância entre o Oiapoque e o Chuí. Com a dificuldade de estar tudo espremido entre a mais alta cadeia de montanhas do planeta, fora do Himalaia, e o mar. E as rodovias são um tapete. Fui reapresentado aos buracos no asfalto quando voltei à capital do meu país.

    Andei na Patagônia, na região dos lagos, no deserto do Atacama, na região dos vinhos, na capital, Santiago. Estive a quase 5 mil metros de altitude e a cinco graus negativos, escalei um vulcão, caminhei por geleiras, fiz trilhas no deserto, cavalguei, dirigi, andei de barco e avião. E não vi lixo em lugar algum. Nem mesmo no deserto mais seco do mundo, onde o lenço-papel para assoar o nariz volta para o bolso, pois ninguém tem coragem de poluir. As cidades maiores têm a mesma limpeza; o transporte público de Santiago é perfeito; o trânsito é silencioso e o sinal Pare serve para parar os carros, como no primeiro mundo. A propósito, se o Chile estivesse na Europa, ficaria à frente da Espanha, da Grécia, de Portugal, da Itália e talvez da França, em organização urbana e serviços públicos, pelo que notei como visitante. Os chilenos são educados, simpáticos, e até tratam os brasileiros com pedagógica amabilidade, nos fazendo perceber que não estamos no Brasil, mas num lugar civilizado, e, portanto, nos induzem, com cortesia, a que nos comportemos de modo diferente do cotidiano tupiniquim.

    Divertiu-me encontrar a cada dia nos jornais uma aventura diferente do novo presidente, Sebastián Piñera, que toma passe dia 11. Num dia cavalgava, no outro jogava futebol, no dia seguinte pilotava uma potente moto, no quarto dia praticava mergulho com cilindro, no quinto jogava tênis, no sexto velejava e no sétimo dia brincava com os netos... ufa! O primeiro país a ser visitado por ele como presidente será o Brasil. Uma boa oportunidade para o presidente Lula compará-lo a seus companheiros sul-americanos, como Chavez, Evo, Correa, e pensar no "dize-me com quem andas..." Não custa repetir que o Chile tem taxa anual de juros de 2,5% e uma dívida pública equivalente a 4% do PIB – no Brasil, a proporção é de 10 vezes mais.

  Enfim, confirmei, nesses dias, que é possível ser primeiro mundo mesmo sendo latinoamericano. O Chile teve a sorte de ser também influenciado pelo meu herói sul-americano, o argentino Domingo Faustino Sarmiento. Esteve exilado no Chile e aproveitou para fazer lá a revolução na educação, que mais tarde aplicou à Argentina, como presidente. A educação é a base de tudo. Aqui no Brasil, na última eleição presidencial, o candidato que teve a educação como plataforma, recebeu 2% dos votos. Talvez não queiramos educação, porque a educação liberta, forma cidadãos livres, produtivos, civilizados, felizes.

Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve semanalmente em Só Notícias