quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

"Família é prato difícil de preparar"- Francisco Azevedo



Família é prato difícil de preparar.



São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema,


principalmente no Natal e no Ano Novo.


Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige


coragem, devoção e paciência.


Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível.


Às vezes, dá até vontade de desistir.


Preferimos o desconforto do estômago vazio.


Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação


sobre o que se vai comer e aquele fastio.


Mas a vida (azeitona verde no palito),


sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.




O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares.


Súbito, feito milagre, a família está servida.


Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto,


é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade.


Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo.


Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante.


Aquele o que surpreendeu e foi morar longe.


Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.




E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia?


Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo?


A mais sentimental? A mais prestativa?


O que nunca quis nada com o trabalho?


Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo.


Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida.


Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo!




Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada


e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também


estará cheirando a alho e cebola.


Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona.


E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.




Primeiro cuidado:


temperos exóticos alteram o sabor do parentesco.


Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase


sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar,


tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.




Atenção também com os pesos e as medidas.


Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre.


Família é prato extremamente sensível.


Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.




Outra coisa:


é preciso ter boa mão, ser profissional.


Principalmente na hora que se decide meter a colher.


Saber meter a colher é verdadeira arte.


Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família,


só porque meteu a colher na hora errada.




O pior é que ainda tem gente que acredita na receita


da família perfeita.


Bobagem! Tudo ilusão.


Não existe Família à Oswaldo Aranha, Família à Rossini,


Família à Belle Meuni, Família ao Molho Pardo,


em que o sangue


é fundamental para o preparo da iguaria.

Família é afinidade, é à Moda da Casa.


E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.




Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas.


Há também as que não têm gosto de nada,


seriam assim um tipo de Família Dieta,


que você suporta só para manter a linha.


Seja como for, família é prato que deve ser servido


sempre quente, quentíssimo.


Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.




Enfim, receita de família não se copia, se inventa.


A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo


o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que


sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel.


Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho


já meio caduco como eu.




O que este veterano cozinheiro pode dizer é que,


por mais sem graça, por pior que seja o paladar,


família é prato que você tem que experimentar e comer.


Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas.


Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.

Aproveite ao máximo!


Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.
 
 
(do livro "O Arroz de Palma", de Francisco Azevedo)

Ano-Novo, vida nova



UMA LEITORA, que me autoriza a citar seu e-mail, mas prefere que seu nome não seja mencionado, pergunta: "Gostaria de saber sua opinião sobre parceiros que simplesmente somem, desaparecem mesmo, sem deixar rastro. Cancelam telefones, e-mail, conta no Skype e somem, sem se despedir, sem nem mesmo um MSN. E não falo de um relacionamento de alguns dias, mas de anos. Oito para ser mais precisa. Nem falo de um adolescente, mas de um homem de 57 anos.



Ele foi trabalhar no Oriente Médio, num alto cargo, a empresa fechou e ele desapareceu. Não morreu, não foi sequestrado por terroristas. (...) O que leva alguém a agir assim? Obrigações econômicas não estão em jogo".


A cada ano, mundo afora, há centenas de milhares de pessoas que somem e nunca mais dão notícias a familiares e amigos.


Quando se trata de adultos sem obrigações jurídicas (dívidas ou pensões alimentícias, por exemplo), a polícia descobre, eventualmente, o novo paradeiro ou a nova identidade de quem sumiu, mas só o próprio desaparecido pode autorizá-la comunicar estas informações aos parentes e amigos de sua vida, digamos assim, "anterior".


No passado, nesta página, se me lembro direito, já assinalei o fato de que, estranhamente, em geral, quem some não vai longe: acaba numa cidade parecida com a que ele abandonou, a poucos quilômetros de distância. Também, na maioria dos casos, o desaparecido reconstrói uma vida próxima da vida da qual ele fugiu -encontra um ofício parecido com o que ele praticava e cria uma família similar à que deixou.


Essa "constância" nos surpreende porque imaginamos que, em regra, alguém suma por querer uma vida nova. Por alguma razão, o caminho gradativo, que consistiria em se despedir, fazer as malas, fechar as contas etc., pareceria impraticável ou insuficiente aos olhos de nosso fugitivo: talvez ele tenha esperado demais e sua paciência excessiva (para com os outros ou para consigo mesmo) exija, de repente, uma explosão, um corte sem conversa alguma. De qualquer forma, supomos (ingenuamente) que, se alguém decidiu sumir, foi para mudar radicalmente.


De fato, como disse antes, os desaparecidos acabam reconstruindo uma vida parecida com a anterior ao seu sumiço, e isso nos leva à conclusão oposta: talvez quem some não queira mudar de vida -então, ele some por quê?


Conheci pouquíssimos que sumiram, mas conheço muitos que expressam a vontade de sumir. Todos explicam sua vontade da mesma forma: trata-se de fugir de exigências impossíveis de serem satisfeitas. Mas, cuidado: "Eles me pedem demais" é a tradução projetiva de "eu me peço demais". Quem foge das exigências do mundo está quase sempre fugindo das exigências que seu próprio desejo lhe coloca.

Vamos agora ao que acontece com quem decide sumir apenas para alguém -um familiar (se não a família inteira) ou um parceiro.


Às vezes, é justificada a sensação de que, sem um sumiço, uma relação se eternizaria pela simples dificuldade de qualquer um dos dois reconhecer que acabou. Onde está a covardia, e onde a coragem? Não sei. Talvez haja covardia em não conseguir declarar que um amor terminou, assim como talvez haja covardia na incapacidade de escutar essa declaração. Há a covardia de quem some e também de quem sobra, quando ambos parecem precisar do sumiço de um dos dois para aceitar que a história chegou ao fim.


Há covardia também em fingir que a relação continua, quando ela já morreu. Alguém, aliás, pode sumir para fugir de sua própria covardia, que o mantém calado, ou para fugir da covardia do outro, que não quer ouvir uma frase de despedida.


Seja como for, muitas vezes, alguém acaba uma relação e some porque o que era (e talvez ainda seja) seu desejo se transformou numa exigência intolerável.


Funciona assim: um dos jeitos de nos autorizarmos a querer o que desejamos consiste em transformar nosso desejo numa obrigação. Desejar é mais fácil (embora menos alegre) quando imaginamos desejar a mando de algum outro. O problema é que esse desejo, facilitado por ser mandatário, logo aparece como uma exigência da qual, eventualmente, vamos querer fugir.


Meu voto para o Ano Novo: que nos preocupemos menos em mudar nossas vidas e encontremos jeitos de conseguir desejar o que já desejamos sem transformar nosso desejo em obrigação.



Blog: Contardo Calligaris


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

2011 está chegando! Natalícia Alfradique


Comecei o blog sem muitas pretensões e fico admirada ao ver que já possuo 29 pessoas acompanhando-o e mais de 13.000 visitantes. Isso para mim demonstra um grande desafio, confiança e demonstração de afeto. Aliás, acredito que estes são ingredientes fundamentais para a escolha de uma leitura e de acesso a informações relevantes.


Sinto-me honrada com a presença de todos e farei o possível para ampliar o repertório de assuntos, procurando sempre ser criteriosa na escolha, sem interferências fundamentalistas, visando apenas dar oportunidade de expressão de algumas ideias que por hora acredito e que sejam razoáveis nesse mundo em constante transformação.

Gosto de ser eclético gosto de quase tudo e tenho algumas opiniões- fortes crenças, mas sempre tenho a intenção de deixar os meus leitores bem à vontade para opinar, discordar e concordar. Fiquem à vontade, pois este espaço sem a presença de vocês, não faz o menor sentido.

Agradeço a todos que me enviaram belos textos, dos quais alguns aqui estão. Agradeço os elogios, que por ora tem sido muitos. Agradeço as críticas, pois delas tirei bons ensinamentos.

Agradeço sempre o meu amigo virtual Cesar (do Administrando Pessoas), pois ele foi o principal arquiteto do mesmo. Sem ele eu ainda estaria engatinhando.

Sou fã dos amigos virtuais, eles são sinceros e sempre presentes, pois quando te adiciona o faz por livre escolha. A eles o meu eterno agradecimento.

Espero que nesse novo ano que logo se inicia, possamos conversar mais sobre educação, que o ensino passe a ser tratado como uma mercadoria de valor inquestionável, que a saúde seja uma prioridade e faça parte da pauta dos nossos governantes, que o trabalho seja uma oportunidade para muitos e não para alguns e que possamos desfrutar do lazer de forma prazerosa, agradável e com escolhas mais saudáveis.

Desejo que o próximo ano inicie com novos paradigmas, reconhecendo que a humanidade necessita de regeneração, de corpos e alma livres de compromissos com data de validade vencidos, que tenhamos mais compromisso com os nossos semelhantes, desejando o melhor para todos. Desejo que a humanidade avance em suas pesquisas, dando mais chance de vida digna aos portadores de doenças que ainda não descobrimos a cura e que possamos amar mais os animais, protegendo-os e acolhendo-os sempre que possível.

Desejo que as nossas crianças tenham mais livros em casa, mais oportunidade de leitura, que tenham quintal, praças, rios, praias, campos, um lugar ao sol para brincar e não fiquem trancadas num quarto só vendo TV e/ ou usando o computador. Espero que toda escola reconheça que ensinar bem é dar oportunidade de expressão, livre pensamento, livre escolha curricular e que o desejo de ensinar seja tanto do aprendente quanto do ensinante.

E por último desejo para mim mais sexo (rs), mais paixão, mais estudo e paciência com os tolos que pensam que quando se chega aos 56 anos, você já aprendeu tudo.

E para os amigos... Tudo o que quero em dose dupla, rs... Afinal, amar é muito bom!!!



Feliz 2011.

Beijos, Nata

Do Livro: Repositório de sabedoria




Hoje é o dia que dá início a um novo ano.

É o dia primeiro.

Todos queremos iniciar mais um ano com esperanças renovadas.


É um momento de alegria e confraternização.

As rogativas, em geral, são para que se tenha muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.


Mas será que se tivermos tudo isso teremos a garantia de um ano novo cheio de felicidade?


Se Deus nos dá saúde, o que normalmente ocorre é que tratamos de acabar com ela em nome das festas.

Seja com os excessos na alimentação, bebidas alcoólicas, tabaco, ou outras drogas não menos prejudiciais à saúde.

Não nos damos conta de que a nossa saúde depende de nós. Dessa forma, se quisermos um bom ano, teremos que fazer a nossa parte.


Se pararmos para analisar o que significa a passagem do ano, perceberemos que nada se modifica externamente.

Tudo continua sendo como na véspera.

Os doentes continuam doentes, os que estão no cárcere permanecem encarcerados, os infelizes continuam os mesmos, os criminosos seguem arquitetando seus crimes, e assim por diante.


Nós, e somente nós podemos construir um ano melhor, já que um feliz ano novo não se deseja, se constrói.

Poderemos almejar por um ano bom se desde agora começarmos um investimento sólido, já que no ano que se encerra tivemos os resultados dos investimentos do ano imediatamente anterior e assim sucessivamente.


Poderemos construir um ano bom a partir da nossa reforma moral, repensando os nossos valores, corrigindo os nossos passos, dando uma nova direção à nossa estrada particular.

Se começarmos por modificar nossos comportamentos equivocados, certamente teremos um ano mais feliz.


Se pensarmos um pouco mais nas pessoas que convivem conosco, se abrirmos os olhos para ver quanta dor nos rodeia, se colocarmos nossas mãos no trabalho de construção de um mundo melhor, conquistaremos, um dia, a felicidade que tanto almejamos.


Só há um caminho para se chegar à felicidade.

E esse caminho foi mostrado por quem realmente tem autoridade, por já tê-lo trilhado. Esse alguém nós conhecemos como Jesus de Nazaré, o Cristo.


No ensinamento "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo" está a chave da felicidade verdadeira.

Jesus nos coloca como ponto de referência.

Por isso recomenda que amemos o próximo como a nós mesmos nos amamos.

Quem se ama preserva a saúde.

Quem se ama não bombardeia o seu corpo com elementos nocivos, nem o espírito com a ira, a inveja, o ciúme etc.

Quem ama a Deus acima de todas as coisas, respeita sua criação e suas leis. Respeita seus semelhantes porque sabe que todos fomos criados por ele e que ele a todos nos ama.


Enfim, quem quer um ano novo repleto de felicidades, não tem outra saída senão construí-lo. Importa que saibamos que o novo período de tempo que se inicia, como tantos outros que já passaram, será repleto de oportunidades. Aproveitá-las bem ou mal, depende exclusivamente de cada um de nós.

O rio das oportunidades passa com suas águas sem que retornem nas mesmas circunstâncias ou situação.

Assim, o dia hoje logo passará e o chamaremos ontem, como o amanhã será em breve hoje, que se tornará ontem igualmente.

E, sem que nos demos conta, estaremos logo chamando este ano que se inicia de ano passado e assim sucessivamente.

Que todos possamos aproveitar muito bem o tesouro dos minutos na construção do amanhã feliz que desejamos, pois a eternidade é feita de segundos.




Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no livro Repositório de sabedoria.
Fonte: E.mail. Grata Valéria.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Quisera Senhor


Quisera Senhor
Neste Natal,
Armar uma árvore...
E nela pendurar
Ao invés de bolas,
Os nomes de TODOS
Os meus amigos...

Os amigos de longe...
Os amigos de perto...

Os antigos
E os mais recentes...
Os que vejo a cada dia...
E os que raramente encontro...

Os sempre lembrados...
E os que às vezes
Ficam esquecidos...
Os constantes...
E os internitentes...

Os amigos das horas difíceis...
E os das horas alegres...
Os que, sem querer,
Eu magoei...
Ou os que, sem querer,
Me magoaram...

Aqueles a quem
Conheço profundamente...
E aqueles de quem conheço
Somente a aparência...

Os que me devem...
E aqueles a quem muito devo...
Meus amigos humildes...
E meus amigos importantes...

Os nomes de TODOS
Os que já passaram
Pela minha vida...

Uma árvore de raízes
Muito profundas
Para que os seus nomes
Nunca sejam
Arrancados do meu coração.

De ramos muito extensos
Para que novos nomes
Vindos de todas as partes
Venham juntar-se
Aos existentes...

Uma árvore de sonhos
Muito agradáveis
Para que nossa amizade
Seja um momento
De repouso
Nas lutas da vida...


FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO
DA FAMÍLIA ALFRADIQUE PINTO DE AZEVEDO

sábado, 18 de dezembro de 2010

Fonte de Dubai




Esta é uma gravação da cerimônia de abertura da Fonte de Dubai.
É considerado atualmente como o show tecnologicamente mais avançado.

A Fonte de Dubai custou EU$ 218 milhões.

Os jatos de água podem atingir até 50 andares de altura. Além disso, a fonte mede mais do que dois campos de futebol (mais de 275 metros de comprimento).

É tão impressionante quando está em plena exibição, que pode ser vista de até 200 milhas em um dia claro.

E eu me pergunto?

Será se esse dinheiro não poderia ser melhor empregado? Entendo que as cidades devam ser lindas esteticamente e belas aos nossos olhos. Mas... só havia essa forma de nos encantar? Só havia essa forma de ajudar-nos a compreender porque se gasta tanto numa fonte e não se investe em cultura, educação, inovações científicas onde se possa descobrir uma nova vacina contra alguma doença degenerativa? Será se nenhum país emergente ao receber essa doação, não gastaria essa pequena fortuna de forma melhor?
Eu penso que somos muito vaidosos e extremamente egoístas.
Desculpe, se contrario a opinião de milhões de pessoas, mas é assim que vejo a vida.

Natalícia

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Plano Nacional de Educação 2011-2020 ( 2ª parte)

Conheça as metas que compõem o Plano Nacional de Educação 2011-2020




Meta 1: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4

e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a

atender a 50% da população de até 3 anos.



Meta 2: Criar mecanismos para o acompanhamento individual de cada estudante

do ensino fundamental.



Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a

população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de

matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa etária.



Meta 4: Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento

escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de

ensino.



Meta 5: Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os 8 anos de

idade.



Meta 6: Oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas

de educação básica.



Meta 7: Atingir as médias nacionais para o Ideb já previstas no Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE)



Meta 8: Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos de modo

a alcançar mínimo de 12 anos de estudo para as populações do campo, da

região de menor escolaridade no País e dos 25% mais pobres, bem como

igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à

redução da desigualdade educacional.



Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais

para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e

reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.



Meta 10: Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens

e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do

ensino fundamental e no ensino médio.



Meta 11: Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de

nível médio, assegurando a qualidade da oferta.



Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50%

e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a

qualidade da oferta.



Meta 13: Elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da

atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior

para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do

total, 35% doutores. 7 estratégias.



Meta 14: Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação

stricto sensu de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25

mil doutores. 9 estratégias.



Meta 15: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o

Distrito Federal e os municípios, que todos os professores da educação

básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso

de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.



Meta 16: Formar 50% dos professores da educação básica em nível de

pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação

continuada em sua área de atuação.



Meta 17: Valorizar o magistério público da educação básica a fim de

aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de

onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com

escolaridade equivalente.



Meta 18: Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de

carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de

ensino.



Meta 19: Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos

estados, do Distrito Federal e dos municípios, a nomeação comissionada

de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e

desempenho e à participação da comunidade escolar.



Meta 20: Ampliar progressivamente o investimento público em educação

até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do

País.





Fonte: Márcia Figueiredo

Coordenadora Geral do Centro de Educação a Distância

20 metas do PNE 2011-2020

Das 20 metas do PNE 2011-2020, pelo menos 6 são iguais ou aumentam um pouco os objetivos almejados pelo governo Lisandra Paraguassú - O Estado de S.Paulo, 16 de dezembro de 2010


As 20 metas do Plano Nacional de Educação 2011-2020, apresentadas ontem

pelo governo federal, são um retrato do que o Brasil deixou de fazer nos

últimos dez anos. Apesar do foco maior em qualidade - o plano anterior se

concentrava mais na quantidade - , o novo PNE repete vários dos objetivos.


Das 20 metas, pelo menos 6 são ou exatamente iguais - caso da

erradicação do analfabetismo - ou aumentam um pouco a anterior, sem

trazer um avanço real. Assim é, por exemplo, com a meta de ampliação do


ensino superior. Em 2001, a previsão era de que, até 2011, fosse atingida

uma taxa líquida de 30% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade. No

período, o País alcançou 14,4%. A nova meta também cresceu pouco, para

33%.

A mesma coisa ocorre na outra ponta do ensino. A meta de atendimento em


creches estacionou nos 50% de dez anos atrás. Isso porque, apesar de ter

dobrado o porcentual de crianças em creches, apenas 18% são atendidas. Na

educação infantil, a decisão agora é pela universalização, enquanto

em 2001 previa chegar a 80%. Atualmente, 74,8% das crianças brasileiras

têm acesso à educação infantil.

A erradicação do analfabetismo volta à tona. Apesar dos programas

realizados por sucessivos governos, 9,6% da população brasileira ainda

não sabe ler e escrever.

Para Mozart Ramos, do Movimento Todos Pela Educação, a repetição de

metas se deve ao fato de o Brasil estar longe de atingi-las. "São metas

que ainda traduzem o nosso imenso desafio. Por isso, podemos dizer que é

um plano factível e equilibrado. "O ministro da Educação, Fernando


Haddad, afirma que o novo plano é um avanço por ter foco maior na


qualidade. "Deixou de ser apenas quantitativo", disse. "Mas é claro que é

um plano mais realista. Quando tínhamos 9% de atendimento em creche,

imaginar que poderia chegar a 50% era irreal."

O maior avanço do atual PNE é a transformação das metas de qualidade em

números. A pretensão de elevar a nota nacional no Índice de


Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para 6, já proposta pelo

Ministério da Educação quando criou o índice, também passa a integrar

o PNE.

O plano também traz a decisão de relacionar o Ideb com o Programa


Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), incluindo a meta de chegar a


473 pontos em 2020. Isso significa crescer 71 pontos nos próximos dez anos

e dobrar a velocidade de melhora - de 2001 a 2009, a média brasileira

aumentou 33 pontos.

Também no ensino superior entraram objetivos numéricos. O PNE exigirá


das universidades federais o aumento do número de alunos por professor dos


atuais 10 para 18 - apesar das reclamações das instituições, que queriam uma média de 14.

 Além disso, as universidades terão de chegar a pelo menos 33% de vagas nos cursos noturnos, quando

hoje são 26%, e fazer com que 90% dos alunos concluam o curso - atualmente, apenas cerca de 50%

chegam à graduação.

Nova lei. O governo enviará na próxima semana ao Congresso um projeto

para criação da lei de responsabilidade educacional. A proposta é

alterar a Lei de Ação Civil Pública, criando instrumentos para que o

Ministério Público possa ingressar com ações contra secretários de

educação que não cumpram suas obrigações.



Fonte: COLABORARAM LÍGIA FORMENTI e MARIANA MANDELLI



Márcia Figueiredo

Coordenadora Geral do Centro de Educação a Distância

Centro Universitário Barão de Mauá

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"Poema de Natal"- Vinícius de Moraes

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.



(Fonte: http://www.releituras.com/viniciusm_natal.asp - O poema acima foi foi extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147)



sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

" Viela do livro"- Gilberto Dimenstein

NA NOITE DE SÁBADO PASSADO, ventava e caía garoa nas dezenas de crianças espremidas numa viela íngreme e tortuosa de um bairro da periferia de São Paulo (Jardim Ibirapuera), transformada provisoriamente em sala de cinema. Nenhuma delas saía do lugar. Estavam atentas ao filme “O Garoto”, mudo e em branco e preto, de Charles Chaplin.


Entre as cenas, quem dava dicas sobre o filme (tinha legendas em inglês) era o apresentador de TV Marcelo Tas, que fora atraído para aquela viela por um personagem que daria um roteiro ainda mais interessante do que o que se via na tela: um ex-traficante, Anderson Agostinho (apelidado Buiú), de 29 anos, que se apaixonou por livros. “Vi que também podia fazer com que as crianças gostassem de ler”, conta Buiú.

Resolveu, então, fazer misturas sedutoras. Uma delas foi a criação de um campeonato de futebol em que, para participar, os garotos têm de fazer parte de uma roda de leitura. Outra foi a leitura que antecede um filme, com direito a pipoca e refrigerante.

A tela fica na viela, em cima da casa de Buiú, até pouco tempo só conhecido por causar medo.

Ele seguiu uma trajetória infelizmente comum: deixou a escola, abusou das drogas, viciou-se e, para bancar o vício, virou assaltante e traficante. “Eu tinha poder de liderança.” Mas, vendo os amigos serem presos ou mortos, começou a pensar que iria seguir o mesmo caminho. “O que me incomodava mesmo era o sofrimento da minha mãe”, diz, apontando para sua mãe, uma das espectadoras, naquela noite de sábado, do filme de Chaplin.

Como gostava de grafitar, Buiú meteu-se num programa de artes plásticas na região do Jardim Ângela, na zona sul. Passou a ter contato com arte-educadores. “Tive, então, a ideia de fazer alguma coisa na minha viela.”

Testou a leitura. Primeiro, criou o campeonato de futebol com roda de leitura. Professores da região não só estimularam a ideia como quiseram contribuir na organização dos encontros. Com a aceitação, ele resolveu fazer, uma vez por mês, o cinema. Antes de cada sessão, alguém lê um trecho de algum livro.

Buiú voltou a frequentar o ensino fundamental. E quer ir mais longe. Descobriu uma pequena casa, no fim da sua viela, que poderia ser usada como biblioteca. “Virou meu sonho.” Imagina que, com aquela casa, as crianças e adolescentes vão ficar menos nas ruas e mais metidos nos livros. Está percorrendo várias associações do entorno, entre as quais a Casa do Zezinho, da pedagoga Dagmar Garroux, para ver se o projeto da biblioteca sai do papel.

Uma das ideias é criar uma espécie de “viela-livro”. Em todos os muros da rua, seriam copiados trechos de romances, contos ou poesias -o final daria na sonhada biblioteca. “Dá para encher este lugar aqui de poesia.”

Enquanto a biblioteca ainda permanece no plano da ficção, o projeto como um todo já está atraindo uma série de pessoas -Marcelo Tas é uma delas- dispostas a fazer deste Natal um mutirão para coleta de livros para a viela.

GILBERTO DIMENSTEIN

Fonte: Folha de São Paulo

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Cursos de graduação à Distância são aceitos em concursos

O Presidente da República, no uso das atribuições, divulga o Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, afirmando que diplomas e certificados de cursos e programas a distância, expedidos por instituições credenciadas e registrados na forma da lei, terão validade nacional.

Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.

A educação a distância poderá ser ofertada nos seguintes níveis e modalidades educacionais:

I - educação básica, nos termos do art. 30 deste Decreto;

II - educação de jovens e adultos, nos termos do art. 37 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996;

III - educação especial, respeitadas as especificidades legais pertinentes;

IV - educação profissional, abrangendo os cursos e programas técnicos, de nível médio; e tecnológicos, de nível superior;

V - educação superior, abrangendo os cursos e programas sequenciais; de graduação; de especialização; de mestrado; e de doutorado.

A criação, organização, oferta e desenvolvimento de cursos e programas a distância deverão observar ao estabelecido na legislação e em regulamentações em vigor, para os respectivos níveis e modalidades da educação nacional.

Mais informações podem ser obtidas através do endereço eletrônico www.mec.gov.br.


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Fonte: Quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

" Deliquência e privação"- Contardo Calligaris

UMA CENA emblemática da desfeita (temporária ou não) do tráfico carioca foi a visão de um punhado de traficantes armados, correndo e tropeçando, fugindo da Vila Cruzeiro em direção ao Morro do Alemão.
Um amigo comentou que esses restos esfarrapados de um exército na debandada lhe davam pena. "Pena?", estranhei. O amigo respondeu que ele conhece as crueldades das quais os traficantes são capazes, mas, acrescentou, "no fundo, eles são as verdadeiras vítimas". "Vítimas de quê?", perguntei. "Da miséria, da exclusão, da pobreza material e moral", ele respondeu, com condescendência.

Meu amigo não é bronco: ele sabe que nem a miséria nem a exclusão são suficientes para produzir um delinquente. Justamente, os fugitivos da Vila Cruzeiro eram um punhado: o crime, no morro, é a escolha de pouquíssimos.

Ainda assim, meu amigo acredita que as durezas são, no mínimo, uma causa coadjuvante da delinquência. Quando e como surgiu essa ideia?

Não sei dizer, mas um marco é a carta endereçada ao British Medical Journal, no fim de 1939, por J. Bowlby, D.W. Winnicott e E. Miller; ela é reproduzida no começo de "Privação e Delinquência" (Martins Fontes), que reúne os extraordinários textos de Winnicott sobre o tema. A carta foi escrita enquanto, na Inglaterra, as crianças citadinas eram evacuadas para lares rurais, na intenção de protegê-las dos bombardeios. Os autores assinalam que, para crianças entre 2 e 5 anos, a separação prolongada de seus lares é "um importante fator externo na causação de delinquência" futura.

Entre as crianças evacuadas estavam os protagonistas de "As Crônicas de Nárnia" (livros e filmes), e as crônicas talvez ofereçam um prognóstico complementar ao da carta que citei.

Pelas crônicas, as crianças que forem privadas de um lar não se tornarão necessariamente más e transgressoras: elas tentarão conferir a suas vidas uma dimensão "heroica", do jeito que der -como se, na falta de um lar onde ser tranquilamente quaisquer, elas precisassem transformar suas vidas em epopeias. Com isso, algumas lutarão ao lado do leão Aslam, uma delas trairá Nárnia e, mais perto de nós, algumas inventarão sua própria épica grotesca brandindo armas do alto de um morro carioca.

Seja como for, aceito a ideia de Bowlby e Winnicott de que a privação de amor e de cuidados maternos pode ser uma das causas da delinquência. Mas essa constatação inicial engendrou uma versão "ampliada" pela qual, em geral, uma infância sofrida explicaria a delinquência do adulto.

O elo é que uma frustração trivial, imposta a uma criança, pode funcionar como uma privação afetiva: se não tenho o tênis que quero é porque a mãe (indigna) não me ama. Portanto, quem sofre pela falta de um tênis está sendo, de fato, privado de amor (e tem mais chances de se tornar delinquente).

Ora, para que serve essa ideia de que as frustrações produziriam delinquência? Pois bem, essa ideia nos permite, por exemplo, explicar a existência do mal: a delinquência existe porque frustramos cruelmente um monte de crianças. Ou seja, a nossa culpa organiza e torna inteligível o mundo.

Será que com isso nossa ação será mais fácil? Afinal, se o mundo é iníquo por culpa nossa, não deveria ser simples mudá-lo? Infelizmente, não é assim que a culpa funciona: quem se sente culpado não age -no máximo, ele espera que suas vítimas se vinguem. Conclusão: podemos idealizar a delinquência como justa revanche dos que nós, egoístas, privamos de tênis e de amor.

Meu amigo diria: por que não? A revanche não seria um bom jeito de fazer justiça? Seria, mas a espera da revanche dos privados e dos frustrados nunca passa de uma atitude retórica para amenizar a culpa, que, de novo, não leva a ação alguma, só a lamúrias em prol, como dizia meu amigo, das "verdadeiras vítimas" (as falsas, "obviamente", seriam as que sofrem com a violência delinquente).

Agora, uma boa notícia: ao longo do fim de semana, exceção feita pela observação de meu amigo, não escutei nenhum ato de contrição. É uma boa notícia, porque isto aprendi ao longo de minha clínica: só é possível agir e mudar (um pouco) o mundo com a condição de se liberar da culpa e da falsa compreensão que ela produz.

Talvez, desta vez, sem as ladainhas da culpa, algo mude no Rio de Janeiro.


Contardo Calligaris

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Arteterapia- Os quatros elementos: Fogo, água,terra e ar - Patrícia Pinna Bernardo

Fernando Pessoa




Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
O infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado,
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
.
Mas cada um cumpre o destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
-
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça em maresia,
Ergue a mão e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

########


Pra Você que tanto curte o netinho.
Natalícia

domingo, 28 de novembro de 2010

" Ensinar a alegria"- Rubem Alves




Muito se tem falado sobre o sofrimento dos professores. Eu que ando sempre na direção oposta e acredito que a verdade se encontra no avesso das coisas, quero falar sobre o contrário: a alegria de ser professor, pois, o sofrimento de ser um professor é semelhante ao sofrimento das dores de parto: a mãe o aceita e logo dele se esquece, pela alegria de dar à luz um filho.

Reli, faz poucos dias, o livro de Hermann Hesse, O jogo das contas de vidro. Bem ao final, à guisa de conclusão e resumo da estória, está este poeminha de Ruckert:


Nossos dias são preciosos mas com alegria os vemos passando

se no seu lugar encontramos uma coisa mais preciosa crescendo: uma planta rara e exótica, deleite de um coração jardineiro, uma criança que estamos ensinando, um livrinho que estamos escrevendo.


Este poema fala de uma estranha alegria, a alegria que se tem diante da coisa triste que é ver os preciosos dias passando... A alegria está no jardim que se planta, na criança que se ensina, no livrinho que se escreve. Senti que eu mesmo poderia ter escrito essas palavras, pois sou jardineiro, sou professor e escrevo livrinhos. Imagino que o poeta jamais pensaria em se aposentar. Pois quem deseja se aposentar daquilo que lhes traz alegria? Da alegria não se aposenta... Algumas páginas antes o herói da estória havia declarado que, ao final de sua longa caminhada pelas coisas mais altas do espírito, dentre as quais se destacava a familiaridade com a sublime beleza da música e da literatura, descobria que ensinar era algo que lhe dava prazer igual, e que o prazer era tanto maior quanto mais jovens e mais livres das deformações da deseducação fossem os estudantes.


Ao ler o texto de Hesse tive a impressão de que ele estava simplesmente repetindo um tema que se encontra em Nietzsche. O que é bem provável. Fui procurar e encontrei o lugar onde o filósofo (escrevo esta palavra com um pedido de perdão aos filósofos acadêmicos, que nunca o considerariam como tal, porque ele é poeta demais, "tolo" demais...) diz que "a felicidade mais alta é a felicidade da razão, que encontra sua expressão suprema na obra do artista. Pois que coisa mais deliciosa haverá que tornar sensível a beleza? Mas esta felicidade suprema", ele acrescenta, é ultrapassada na felicidade de gerar um filho ou de educar uma pessoa".


Passei então ao prólogo de Zaratustra.


Quando Zaratustra tinha 30 anos de idade deixou a sua casa e o lago de sua casa e subiu para a montanha. Ali ele gozou do seu espírito e da sua solidão, e por dez anos não se cansou. Mas, por fim, uma mudança veio ao seu coração e, numa manhã, levantou-se de madrugada, colocou-se diante do sol, e assim lhe falou: Tu, grande estrela, que seria de tua felicidade se não houvesse aqueles para quem brilhar? Por dez anos tu vieste à minha caverna: tu te terias cansado de tua luz e de tua jornada, se eu, minha águia e minha serpente não estivéssemos à tua espera. Mas a cada manhã te esperávamos e tomávamos de ti o teu transbordamento, e te bendizíamos por isso.

Eis que estou cansado na minha sabedoria, como uma abelha que ajuntou muito mel;; tenho necessidade de mãos estendidas que a recebam. Mas, para isso, eu tenho de descer às profundezas, como tu o fazes na noite e mergulhar no mar... Como tu, eu também, devo descer...

Abençoa, pois a taça que deseja esvaziar-se de novo...

Assim se inicia a saga de Zaratustra, com uma meditação sobre a felicidade. A felicidade começa na solidão: uma taça que se deixa encher com a alegria que transborda do sol. Mas vem o tempo quando a taça se enche. Ela não mais pode conter aquilo que recebe. Deseja transbordar. Acontece assim com a abelha que não mais consegue segurar em si o mel que ajuntou;; acontece com o seio, túrgido de leite, que precisa da boca da criança que o esvazie. A felicidade solitária é dolorosa Zaratustra percebe então que sua alma passa por uma metamorfose. Chegou a hora de uma alegria maior: a de compartilhar com os homens a felicidade que nele mora. Seus olhos procuram mãos estendidas que possam receber a sua riqueza. Zaratustra, o sábio, transforma-se em mestre. Pois ser mestre é isso: ensinar a felicidade.


"Ah!", retrucarão os professores, "a felicidade não é a disciplina que ensino. Ensino ciências, ensino literatura, ensino matemática..." Mas será que vocês não percebem que essas coisas que se chamam "disciplina", e que vocês ensinam não é um deleite para a alma? Se não fosse, vocês não deveriam ensinar. E se é, então é preciso que aqueles que recebem, os seus alunos, sintam prazer igual ao que vocês sentem. Se isso não acontecer, vocês terão fracassado, na sua missão, como a cozinheira que queria oferecer prazer, mas a comida saiu salgada e queimada.


O mestre nasce da exuberância da felicidade. E, por isso mesmo, quando perguntado sobre a sua profissão, os professores deveriam ter coragem para dar a absurda resposta: "Sou um pastor da alegria..." Mas, é claro, somente os seus alunos poderão atestar da verdade da sua declaração...


Rubem Alves


Fonte:http://www.peabirus.com.br/redes

Obrigada Denise Vilardo

Comissão da Diversidade e Direito Homoafetivo do IBDFAM

Coordenação geral:

Dra. Maria Berenice Dias

Coordenação local:

Drs. Marília Arruda, Ana Gerbase, Patrícia Sanches, Raquel Castro, Silvana Monte

Realização:

Comissão da Diversidade e Direito Homoafetivo do IBDFAM;

Grupo de Trabalho da Diversidade Sexual e Combate à Homofobia – Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ.



Sobre o Direito Homoafetivo


O Direito Homoafetivo tem se desenvolvido como um novo ramo do Direito, com todo um arcabouço de proteção Jurídica que passa pelas relações familiares, de direito pessoal, sucessório, previdenciário, criminal, entre outras.


Atentos às transformações sociais, o IBDFAM - Instituto Brasileiro de Direito de Família - através de sua Comissão da Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo, a OAB/RJ, e as diversas Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil, através de seus Grupos de Trabalho e Comissões de Diversidade Sexual e Combate à Homofobia, apoiam o I Congresso Nacional de Direito Homoafetivo, coordenado pela Dra. Maria Berenice Dias.


O Evento ocorrerá nos dias 23, 24 e 25 de março de 2011, na Cidade do Rio de Janeiro.


Programação



23 de março

17h – Credenciamento

18h – Abertura


Wadih Damous – Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Rio de Janeiro;

Rodrigo da Cunha Pereira – Presidente do IBDFAM;

Ana Gerbase – Advogada, representante do Grupo de Trabalho da Diversidade Sexual e Combate à Homofobia, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ;


19h – Palestra

Palestrante: Maria Berenice Dias – Desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; Advogada Especializada em Direito Homoafetivo; Vice-Presidente e fundadora do Instituto Brasileiro de Direito de Família.


20h – Cocktail de Abertura.



24 de março

10h – Família Homoafetiva: uma nova hermenêutica constitucional

Palestrante: Rodrigo da Cunha Pereira - Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná e Mestre em Direito Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais. Presidente Nacional do IBDFAM.


11h – Adoção Homoparental: o princípio do melhor interesse da criança.

Palestrante: Conceição Mousnier – Desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, coordenadora da Comissão Estadual Judiciária de Adoção - CEJA.


12h – Almoço


14h – Reprodução Assistida e Gravidez por Substituição.

Palestrante: Ana Carla Harmatiuk Matos – Mestre pela Universidade Federal do Paraná e pela Universidad Internacional de Andalucía; Doutora pela Universidade Federal do Paraná; Professora Adjunta da Universidade Federal do Paraná e Complexo de Ensino Superior do Brasil – UNIBRASIL.

15h – Guarda e Alienação Parental

Palestrante: Gerardo Carnevale – Juiz de Direito da 2ª. Vara de Família da Capital do RJ


16h – Coffee Break

16:30h – Poder-Dever aos Alimentos

Palestrante: Cristiano Chaves de Farias – Promotor de Justiça do estado da Bahia; Mestre em Ciências da Família na Sociedade Contemporânea pela Universidade Católica do Salvador (UCSal); Professor do Curso JusPODIVM e das Faculdades Jorge Amado; Membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) e do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP).


17:30h – Direito Sucessório: uma vocação hereditária?

Palestrante: Zeno Veloso - Professor de Direito Civil e de Direito Constitucional aplicado na Universidade da Amazônia – UNAMA e na Universidade Federal do Pará – UFPa.


18:30h – As relações homoafetivas nos Tribunais Superiores

Palestrante: Luis Roberto Barroso (a confirmar) – Advogado; Doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Professor Titular de Direito Constitucional dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ).



25 de março

10h – Expressões da Transexualidade: concepções da medicina e da psicologia

Palestrante: Maria Cristina Milanez Werner (a confirmar)

11h – Implicações jurídicas da transexualidade

Palestrante: Tereza Rodrigues Vieira – Advogada; Pós Doutorada pela Université de Montreal, Canadá; Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Université Paris; Pós-Graduada em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Pós-Graduada em Sexualidade Humana pela Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana; Pós-Graduada em Interesses Difusos e Coletivos pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo.; Professora titular do Mestrado em Direito Processual e Cidadania na Universidade Paranaense.


12h – Almoço

14h – A Criminalização da Homofobia

Palestrante: Jéssica Oliveira de Almeida – Delegada de Polícia Civil; Subsecretaria de Ensino e Programas de Prevenção da Secretaria de Estado de Segurança; Ex-Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro.


15h – Aspectos registrais e notariais do Direito Homoafetivo

Palestrante: Christiano Cassettari – Advogado; Mestre em Direito Civil pela PUC-SP; Especialista em Direito pelo IBET; Professor de Direito Civil. Membro e Diretor Cultural do IBDFAM-SP.


16h – Coffee Break


16:30h – Bullying e assédio nas relações de trabalho

Palestrante: Fábio Goulart Villela – Procurador do Ministério Público do Trabalho da 1ª. Região e professor universitário;


17:15h – Painel:

Aspectos Processuais e Previdenciários

Debatedores:

Viviane Girardi – Advogada; Mestre e Professora de Direito Civil. Especializada Direito das Famílias.

Sergio Camargo – Advogado; Mestre em Direito e Economia; Membro do IBFAM.


18h – A Homossexualidade e a Religião

Palestrante: Pe. Luís Corrêa Lima – Padre Jesuíta e Historiador; Coordenador do grupo de pesquisas sobre diversidade sexual, cidadania e religião da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ.

18:30h – Palestra

Palestrante: Nancy Andrighi (a confirmar) – Ministra do Superior Tribunal de Justiça.

"Bullying homofóbico"

Columnista del periódico O GLOBO relata una experiencia de "bullying" homofóbico sufrida en su vecindario, ubicado en un barrio de la zona sur de Río de Janeiro. El caso revela, por un lado, que la homofobia y los prejuicios persisten incluso en las clases sociales más altas y, por otro, que falta información dirigida al sector LGBT acerca de los servicios legales a los que tiene derecho.


Em palestra no CLAM, em outubro de 2008, o psicólogo norte-americano James T. Sears, professor do programa on line de mestrado e doutorado em Educação da Penn State University (EUA), examinou pesquisas sobre o tema da violência psicológica e física exercida sistematicamente por alunos sobre outros alunos nas escolas, quando esta é relacionada à discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. “Se casos de bullying acontecem nas escolas muito mais frequentemente do que imaginamos, uma parte significativa desses casos é de bullying homofóbico”, sustentou o pesquisador.


Jefferson Lessa mora em um bairro da zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Identifica-se como um gay de meia-idade. Em texto-desabafo publicado na edição de domingo do jornal O GLOBO (Ed. 18/07/2010), afirma estar sendo vítima dessa mesma violência psicológica de forma sistemática, mas não na escola, e sim em sua vizinhança. Abaixo selecionamos alguns trechos do texto publicado pelo jornal:


“Na semana em que a Argentina aprova o casamento gay, peço licença para relatar uma historinha banal. Moro num bairro aprazível e ‘tranquilo’, sonho de consumo de dez entre dez cariocas. (...) De um tempo para cá, por motivos que me são alheios, alguns playboys deram de gritar ‘veaaaaaado!!!’ quando me veem na rua. Outro dia, derrubaram minha pasta no chão. Numa noite anterior, rolou um inesperado banho de uísque com Redbull no casaco novo... Depois disso, a calçada ficou mais longa que uma maratona. Chegar à varanda torna-se uma decisão pesada, difícil de tomar. A pasta, o cheiro do uísque com Redbull... Difícil.

Como vocês podem ver, trata-se de uma história de bullying, a palavra do momento. Seria só mais uma, não fosse o caso de atingir um certo cara no auge da meia-idade. Eu. Nunca havia passado por isso antes. E não pretendia experimentar agora. Mas aconteceu — fazer o quê? Penso em várias ‘soluções’. A mais radical é mudar de bairro. Deixar para trás uma casa que adoro e que montei aos poucos, no ritmo que o salário aguado permitiu. Deixar para trás, também, um prédio no qual fiz amigos. É uma ‘solução’ penosa e triste, creio. Faz com que eu me sinta covarde, pequeno, sujo, miserável. A outra ‘solução’ é sugerida por amigos, que perguntam: ‘Por que você não denuncia? Por que não procura a polícia?’ Simplesmente porque não vivo dentro de um episódio de ‘Law & order: Special Victims Unit’, a genial série americana que ficcionaliza o cotidiano da unidade de elite da polícia novaiorquina especializada na investigação de crimes de natureza sexual. Se eu tivesse a certeza de que meu ‘caso’ seria tratado pelos detetives Stabler e Benson, correria para a delegacia mais próxima. Na maior confiança. Como todos sabemos, não é bem o caso por aqui”.

Segundo James Sears, além da psicologia do agressor, o bullying não é apenas uma conduta individual anti-social, mas é sustentado em opiniões amplamente difundidas e se trata de um mecanismo chave na reprodução de idéias preconceituosas sobre o gênero e a sexualidade. “Quem mais sofre bullying são as pessoas que se apresentam como desviantes em termos de sexualidade”, afirmou o pesquisador. Sears destacou que pesquisas feitas em diferentes países mostram padrões similares ao de um estudo realizado no Brasil no qual um em cada sete alunos afirmou preferir não ter um colega de classe homossexual.

Para o pesquisador norte-americano, “o bullying não deve ser entendido como algo necessariamente físico”. De modo análogo aos xingamentos do qual o colunista do Globo foi vítima, “a pichação reforça a ideia de que o lugar público é um espaço heterossexual e que ninguém deve se comportar de maneira diferente em relação à sexualidade. Ao deixar que a pichação homofóbica permaneça em suas instalações, como nos banheiros masculino e feminino, a escola acaba por ensinar a heterossexualidade e por reforçar a heterodoxia sexual e de gênero. O recado serve para demarcar um território de tolerância para a homofobia”, ressaltou Sears.

“Fazer o que?”, questiona-se em certa altura Jefferson Lessa. O problema enfrentado por Lessa – e por muitos – chega ao conhecimento público uma semana depois de o governo do Rio de Janeiro ter inaugurado o mais importante produto do festejado programa Rio sem Homofobia: o Centro de Referência e Promoção da Cidadania LGBT, local onde a população de gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans poderão encontrar atendimento legal e psico-social (o Centro conta com advogados, psicólogos e assistentes sociais) quando vítimas de discriminação e violência (seja ela verbal ou física). Projeto talvez até superior a um ‘Law & order: Special Victims Unit’. Além disso, a população LGBT do Rio de Janeiro também conta atualmente com mecanismos de denúncia inexistentes em um passado recente: a categoria “homofobia” pode também aparecer nos boletins de ocorrência (B.O.) da polícia civil como motivação para qualquer crime. A medida também faz parte do pacote de iniciativas inaugurado pelo programa Rio sem Homofobia.


O comportamento dos “playboys” citados no texto de Lessa não chega a surpreender pois, sabe-se, se a cidade do Rio de Janeiro – embora conhecida mundialmente como gay friendly – precisa de um programa chamado “Rio sem Homofobia” é por que a discriminação e o preconceito por orientação sexual persistem. Mas como interpretar a prática do bullying quando esta não acontece exatamente no ambiente escolar, para onde aponta a grande maioria das atenções e estudos concernentes ao problema?

Há cinco anos, os resultados da Pesquisa Política, Direitos, Violência e Homossexualidade (CLAM/CESeC), realizada durante a 9ª Parada do Orgulho LGBT do Rio de Janeiro, trouxeram à tona dados impressionantes em relação à discriminação e a violência sofridas por gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros no ambiente familiar, na escola, no trabalho e em locais públicos, como a experimentada por Lessa. Um dado: 22% dos respondentes tinham entre 30 e 39 anos, enquanto 19,4% revelaram idade superior a 40, possivelmente a faixa etária em que Lessa se enquadra.

De acordo com a pesquisa, o círculo de amigos e vizinhos era citado como o campeão em discriminação – 33,5% dos gays, lésbicas, pessoas trans e bissexuais entrevistados[Horacio3] disseram ter sido discriminados neste ambiente, enquanto 27% apontaram o ambiente familiar. A discriminação nas escolas e universidades, por parte de professores e colegas vinha logo em seguida, com uma incidência de 26,8%. Os ambientes religiosos (20,6%) e de lazer (18%) vinham num segundo bloco, seguidos pelas discriminações no ambiente de trabalho (11,7%) e no atendimento na área de saúde (11,1%).

Entretanto, foram as agressões verbais citadas como as que mais atingem a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e trans – o estudo indicou uma incidência de 55,4%, o que significa que mais da metade dos entrevistados já tinham sido vítimas de xingamentos, humilhações verbais ou ameaças. Para os autores da pesquisa, as agressões verbais são expressivas da “disseminação cultural da homofobia”. “Aparentemente, as sanções sociais e legais para ofensas de natureza sexual não têm sido suficientemente fortes para impedirem a homofobia que se generaliza através da palavra”, ressaltam em um trecho do relatório.

Curiosamente, o nível alarmante de ofensas verbais convive com um ambiente de tolerância e valorização da homossexualidade, no momento em que a cidade acolhe e apóia paradas que reúnem milhares de gays, lésbicas e travestis, e inaugura aparelhos do Estado protetivos dos direitos dessa população. O maior problema, no entanto, também apontado pelo estudo do CLAM/CESeC, era o desconhecimento do próprio segmento em relação aos seus direitos. Ao serem perguntados sobre leis que beneficiam os (as) homossexuais, entre os participantes, 50.1% disseram conhecer a existência de lei, aprovada ou em discussão, no Rio ou no Brasil, que proteja os homossexuais. No entanto, uma proporção quase idêntica (49.9%) disse não conhecer qualquer legislação. A legislação sobre parceria ou união civil foi a mais lembrada (27.7%) entre as 206 menções espontâneas, embora esta nunca tenha sequer sido votada no país.


Essa falta de informação sobre serviços a que procurar parece ser um dos maiores desafios do movimento LGBT: alcançar o segmento de forma eqüitativa e fazer chegar suas informações a esta parcela da população, para que esta tome conhecimento dos serviços existentes que têm à sua disposição. A visibilidade de conquistas locais, como a inauguração do Centro de Referência de Promoção da Cidadania LGBT, tem de ser equivalente à disseminação de informações como a da aprovação do matrimônio gay pelo Senado argentino.


Fuente: CLAM
O Globo

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

" Um dia da caça e outro do caçador"- Natalícia Alfradique


 Ontem fui à rua comprar enfeites de natal! Quando me deparei de repente com vários cachorros de rua, maltratados, famintos e sem condições mínimas de sobrevivência. Eu fico incomodada e estarrecida como nós não fazemos nada em prol de melhorias em nossa cidade. Como é difícil encontrarmos parceiros na hora de ajudar o próximo! E tem mais... Alguns ainda judiam dos pobres animais porque disputam com os pedestres um espaço na calçada.


E no mês de dezembro, o mês que todos elegem para sermos mais solidários, isso para nos confortarmos de nosso egoísmo, ainda passamos por estes e nada fazemos. Tive vontade de trazê-los para casa! Mas como tenho um cachorro e mais dois gatos, que acredito que ainda faço pouco por eles, o que fazer com mais meia dúzia, isso em poucas horas de idas e vindas num percurso de 500m?

Fico pensando como a nossa cidade é descuidada, não se vê responsável pela saúde no sentido amplo da palavra. Afinal, esses animais merecem um destino melhor, fora o fato que todos transmitem doenças, por total abandono e falta de cuidado.

Sinto por eles e gostaria de ter soluções práticas para os mesmos. Não sei se existe lei que possa ser acionada em prol dos mesmos, pois eles merecem serem cuidados.

Eu não suporto crueldade! Fico indignada e me revolto quando vejo um ato de vandalismo com os animais. Já cuidei de alguns aqui em frente de minha casa, com a ajuda de alguns vizinhos, mas eles continuavam na rua. Isso era sempre um desafio, pois cuidávamos e no dia seguinte eles estavam machucados devido às agressões que sofriam. Tentei acolher alguns, mas devido o hábito de viverem na rua, eles pulam, arranjam sempre um jeitinho de escapulir.

Se todo ser humano se preocupasse um pouco mais com os animais, não veríamos tantas atrocidades!

Já trabalhei em escolas onde fatos desagradáveis já aconteceram como por exemplo, mães acharem normal o seu filho de 6 anos puxar o rabo do gato,mordê-lo, trancá-lo em gaiolas, apertá-lo como se fosse um boneco, alegando que isso é carinho. Eu pergunto: Alguém gostaria de passar pelo mesmo? Aí, vem logo a resposta... Mas estamos falando de um animal. E eu continuo, mas nós somos animais!? E daí pra frente vocês imaginam a batalha que é para convencer a essas mães, que não faz diferença em ser um agressor de animais ou de gente. Tudo nos leva a cometermos erros, grandes erros!

Uma criança dita saudável não desenvolve esse tipo de perfil... Temos que ficar em alerta quando uma criança não faz a diferença entre ser agredido e em ser o agressor. Quando ele desrespeita a tudo e a todos! Quando em momento algum se coloca no lugar do outro, afinal ora podemos ser vilões e ou vítimas! Mas, quem dirá para essa criança o limite de suas ações? Acredito que num primeiro momento a família. Se a família encoraja uma criança a “machucar” o outro em nome de uma defesa pessoal, fiquemos em alerta. Cuidado! Porque muitos equívocos são cometidos em nome da defesa pessoal, que de pessoal não tem nada, a não ser o incômodo que essas pessoas e ou animais nos acarretam.
Lembram-se da história do índio queimado? Não está muito longe desses conceitos equivocados que temos sobre a falta de limites, da falta de correção de ações erradas que cometemos na primeira infância, e acreditávamos que era uma atitude boba, sem maiores conseqüências. Aí, na fase da adolescência ou adulta os erros se apresentam de forma muito mais contudente. E ninguém não pode dizer que não havia visto isto antes.

Uma vez travei uma discussão com um aluno, porque ele agrediu, machucou um sapo, sem menor sentido. Só pela demonstração de força e de poder sobre o outro. Ele falou exatamente isso: É só um sapo! Porque te incomodas tanto? Juro que tive que me segurar, porque eu já estava perdendo a razão. Não me importa se é um sapo ou um elefante... Isso não faz a menor diferença!

Nesses dias ouvi uma história que também me fez refletir. É a seguinte. Um amigo a passeio ao Mato Grosso foi visitar um fazendeiro. Logo que chegou foi recepcionado com um belo churrasco. No dia seguinte, foi o dia da caçada, onde todos os fazendeiros se reúnem para caçar onça, pois a mesma é um problema para os fazendeiros, afinal cada onça mata inúmeros gados. E o fazendeiro não pode aceitar isso como normal e nem arranjar outra solução que não seja o prazer de sair para caçar. Entender que aqui temos um problema, eu entendo, mas será se as onças são tantas que não podem ter outro destino?

E tem mais... Não bastando à demonstração de força, de poder, saem para caçar jacaré. E isso é uma grande infração, afinal os mesmos estão em área de preservação, de tanto que já mataram estão se tornando extintos. E eles saboreiam só o rabo do jacaré, pois o restante é aproveitado, menos para consumo humano. E tudo é vendido!

E eu me pergunto ainda: Quem é o animal e o humano? Quem é desleal, arbitrário e desumano nisso tudo?

Só o arsenal de armas que esses fazendeiros possuem, dá para armar todos os policiais do Rio de Janeiro. E quantas crianças são criadas vendo isso tudo e achando que é normal? Imaginem eles vendo o filme “Dança com  Lobos”, devem rir...

Acredito que um dia essa história mudará. Sei que a esperança em dias melhores virão. Por isso, escrevo por desabafo, por indignação, para que todos possam ajudar a melhorar o nosso planeta, com mais amor e responsabilidade.





 

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma carta de amor- Natalícia Alfradique


Minha filha tem várias amigas e uma delas é jornalista. Esta amiga é muito especial, elas se amaram desde o primeiro dia que se conheceram e estudaram juntas desde a alfabetização. Eu sempre a incentivo a escrever a sua história, porque sei que dará um belo livro. Na verdade, temos sempre boas histórias a contar, mas alguns possuem excelentes histórias, mas não conseguem reconhecê-las. Talvez isso se deva a nossa cultura, que nos afirma sempre que gostar de si mesma é uma demonstração de egoísmo e um exagerado ego. Eu diria que não! Mas, infelizmente a escola, assim como as nossas famílias, preferem acreditar nos outros, do que nos seus.

Presenciamos o tempo todo à valorização que damos ao que é importado, não nos incomodamos de como eles nos chegam, de qual o seu destino e que males eles possam nos trazer.

Assim, as histórias desde a minha infância foram construídas. Tudo que era do outro, era melhor do que o meu. Desde os aspectos materiais, até os aspectos intelectuais...

Quantas escolas nos ridicularizavam quando não tínhamos uma pronuncia correta do inglês? Quanto de nós sofria quando não entendíamos a história que nos era contada, afinal era tão distante de nossa realidade que parecia que era uma ficção, que estávamos ali perdendo tempo!

O melhor jeito de se educar é sendo educado. Educado no sentir, no agir e no fazer! E isso nos era arrancado desde cedo, pois escola não é um espaço onde diferentes emoções, sentimentos, discórdias, podiam se digladiar no seu dia a dia.
 Isso era considerado falta de educação. Graças a Deus que a liberdade nos chegou, ainda que tardia, ainda após ter feito muitos estragos e criado a síndrome do neurônico único! A este me refiro a àqueles que ainda acreditam no vestibular, que acreditam que após se concretizar seis anos de faculdade de medicina, você deva fazer mais cinco anos de especialização.
Será se no passado os médicos, tiveram essa mesma oportunidade? Será se eles foram piores médicos do que os de hoje? Ou será se isso tudo não passa de uma crise mercadológica, onde o único objetivo é ter mão de obra barata por mais cinco anos? Afinal, quem pode ficar à disposição em um hospital por 40h, com baixa remuneração e ainda construir uma família? Parece-me que nem todos possam fazer essa escolha sem remorso. Provavelmente terá que abrir mão de algo...

Nesse país as histórias se repetem com freqüência. Os anos demoram a passar muito mais que no hemisfério norte. Às vezes penso que o clima influi. Talvez o frio ajude a ficarmos mais em casa lendo e ouvindo música. Não é à toa, que são eles que estão sempre na frente quando o terreno é estudo e trabalho e para completar sempre nos dizem o que é certo ou errado.

Na verdade, temos tantos talentos como eles. Só nos faltam oportunidades! Se cada professor desse país abraçar e acolher a história de vida de um de seus alunos, tudo muda!

Não existem crianças perdidas, existem histórias perdidas, existem crianças excluídas de afeto, de credibilidade, de perseverança e crença em si mesmas.

Fui dar uma palestra e ouvi a seguinte afirmação de uma coordenadora escolar: - Tem mães que vem para cá, nos entregando os filhos e nos dizendo que eles não prestam para nada. E eu respondi para ela:- E Você acreditou nisso!? Não deixe nunca uma mãe te convencer daquilo que você não vê! Não deixe uma mãe dizer aquilo que ela diz por desespero e você faz dela suas palavras, reforçando assim um ciclo vicioso de abandono intelectual e afetivo.

Nós por medida de proteção, dizemos muitas coisas das quais não acreditamos, mas também insistimos na nossas crenças, dizendo sempre a verdade para os pais como são os seus filhos. E muitas das vezes falamos, agimos e fazemos com que o pai acredite em seu filho, discursando para os pais:- Ame seus filhos e contem a eles a sua história de vida, demonstrando o seu amor por eles!

Mas ainda existe escola que por comodidade, por subverniência concorda com aquilo que lhe é mais fácil tratar, sem se dar conta que está indo contra aos próprios princípios que ela acredita.

Eu duvido que alguém na condição de mãe, gostaria de ouvir de um funcionário de uma escola que o seu filho não serve para nada. E, no entanto, falamos em ações, muitas das vezes sem ao menos perceber que o fazemos. E essa é a lógica que nós criamos e os alunos não entendem, se sentem perdidos, afinal dizemos para eles o tempo todo:- Você é bom nisso e péssimo naquilo e vice-versa. Assim, em que devo acreditar? Na lógica dos adultos ou na visão das crianças que ainda estão se construindo como autores de sua história?

O que nos leva a crer que maçã é melhor do que pêra? Que inglês é mais fácil do que alemão? Quais são as nossas crenças que não tiveram uma única influência do outro?

E eu me pergunto: - E quando eu não sou o outro?

Essa é a grande dúvida. A escola tem muito que aprender. A escola ainda deve perceber que eu não existo se não existisse o outro dentro de mim. Somos muitos e na verdade únicos! Não existe verdade que não tenha passado pela inverdade, pois sem a qual a verdade não existiria.

Criei duas filhas, tão diferentes que os caminhos foram arduamente construídos de formas completamente desiguais, mas nem por isso pior. Apenas diferentes! Criei duas filhas para o sucesso, como sempre me ensinaram, mas não as deixei se consumirem na competição desleal de vencer a qualquer preço. E isso eu chamo dignidade.

O pai de minhas filhas é exemplo de vida para as duas e em nenhum momento eu interferi em suas escolhas. E agradeço a ele por ser essa grande pessoa.

Deus me deu a oportunidade de conhecer e ter belas pessoas ao meu lado. Por isso, tento retribuir sendo uma boa amiga e profissional.
Espero que minha filha, que hoje se formou em medicina, faça de sua trajetória um exemplo de vida e que nunca se esqueça de seus bons exemplos, para que o seu trabalho possa sempre ser fonte de boas referências, pois elas que garantirão o futuro das novas gerações.


Se cuide filha e enfrente tudo com o coração e muita dignidade.

Beijos de sua mãe.


Natalícia