sábado, 25 de setembro de 2010

" Estas Mãos Inquietas" Antonio Carlos Villaça

ESTAS MÃOS INQUIETAS…



Antonio Carlos Villaça

Servir foi teu destino.
Se descobres uma pequena mancha,
ou um botão ausente,
logo te levantas,
com tuas mãos inquietas,
disposta a servir.


Serviste longamente.
Teu destino foi servir.
Queres limpar os sapatos,
queres costurar as roupas,
queres lavar o que está sujo,
as meias,
os corações.


Caminhas pelo mundo como um anjo.
Nasceste para ajudar
Com que delicadeza,
com que pressa,
te levantas e te debruças,
ó infatigável enfermeira,
ó ser misericordioso e humilde.


És tão prestativa,
tão solícita,
tão serena em meio a todos os pesares,
tão fiel a ti mesma, a teu destino.


Tens o gosto do próximo,
do pobre,
do sofrimento que ninguém viu
e tu vês, tu descobres,
ó humana criatura.


Como um anjo serviste.
Insaciável, tu prossegues.
Tens a vocação do serviço –
- a pequena mancha,
o botão caído,
o sapato a engraxar ou a limpar,
a cotidiana tarefa, que ninguém percebe,
tu cumpres tudo isso,
como um ritual secreto,
que é a vida de tua vida,
a essência de ti mesma,
a verdade do teu destino,
leve,
gracioso,
………..verdade nítida.


.


(Poema inédito, 11-09-1968)
 
 
Fonte:http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=3813

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