sábado, 31 de outubro de 2009

Recente estudo sobre o Autismo


Pesquisadores norte-americanos estudam a possível relação entre a concentração de mercúrio no organismo e o diagnóstico de autismo em crianças de 2 a 5 anos de idade.

O autismo ainda é uma doença de difícil compreensão. As crianças apresentam dificuldade de relacionamento interpessoal, comportamentos repetitivos e interesses limitados.
Não existe diferença entre os níveis de mercúrio no organismo das crianças autistas quando comparadas com as crianças normais.

A doença tem várias formas de manifestação, desde a mais completa até outras gradações. Uma delas é a síndrome de Asperger, em que as dificuldades podem se apresentar parcialmente ou de forma muito leve.

Os fatores de risco conhecidos até hoje são: crianças do sexo masculino predominam entre os autistas, filhos de pai ou mãe mais velhos e uma série de alterações em vários genes.

O papel do fator genético está sendo mais conhecido a partir dos estudos do genoma humano e os cientistas avaliam a força da interação entre a genética e os fatores ambientais no aparecimento do autismo.
Para conhecer melhor essa interação, um grande estudo populacional está em curso na Califórnia, nos Estados Unidos.

Um grupo de mais de 400 crianças, com idades entre 2 e 5 anos e com diagnóstico de autismo clássico, manifestações leves e crianças normais foi analisado.

Os cientistas mediram os níveis de mercúrio no sangue dessas crianças para descobrir se existe associação entre esse metal e o autismo. As fontes possíveis de mercúrio são várias, mas as mais importantes são o consumo de peixe, a presença de obturações dentárias à base de amálgama e as vacinas e medicamentos de uso comum contendo timerosal.

Como a maior fonte de mercúrio é o consumo de peixes como atum e outros peixes de oceano, o consumo de peixes pelas crianças foi alvo de um análise específica.

Após dosarem os níveis de mercúrio no sangue das crianças, uma primeira conclusão foi possível. Não existe diferença entre os níveis de mercúrio no organismo das crianças autistas quando comparadas com as crianças normais.

A aplicação de vacinas contendo timerosal, como agente preservante, não modificava esses resultados, não havendo relação entre sua aplicação e os níveis de mercúrio no organismo das crianças autistas e normais.

As crianças com autismo apresentaram um padrão de consumo de peixe menor do que a média do grupo das crianças normais. Esse dado foi atribuído a reações ao sabor e odor do peixe como componente da dieta.

Fonte:G1.globo.noticia.com/saude



sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Bullying


Quando eu era criança brincava muito na rua. Sempre com muitas amigas. A noite parecia muito pequena diante de tanta vontade de brincar. Noites essas de verão, onde as famílias se dispunham há passar algumas horas a conversar em suas calçadas.

Essas amigas eram as que iam pra escola comigo. Terrível era agüentar os seus irmãos. Era um grupinho de crianças mais velhas, portanto se achavam. Eles eram brincalhões. Adoravam acordar cedo só pra mexer com as meninas.

Quando eu me atrasava, ia sozinha. Aí, tudo mudava. Alguns deles adoravam implicar. Só que havia um que era terrível, chegava a ser cruel. E quanto mais ele percebia que me incomodava, mais ele fazia. Tinham mania de colocar apelido, zombavam de tudo, inclusive adoravam humilhar as pessoas, não importava a sua idade. Nessa época, achava-se “normal” esse tipo de comportamento. Na verdade acreditava-se que era um comportamento inadequado, coisa de adolescente, um comportamento anti-social que logo, logo iria passar.

Lembro-me que uma vez fui a casa desse adolescente, brincar com a sua irmã. E esperei a mesma na sala. Ele teve a coragem de fazer-me levantar da onde eu estava sentada, porque aquele era o seu lugar. Ele adorava agir dessa forma. Ficava claro o quanto ele se satisfazia com essa atitude agressiva e antipática. Normalmente, ele não aceitava as repreensões como algo natural. Caso essas o acontecessem ameaçava as suas vítimas com gestos e palavrões.

A ansiedade que os jovens sentem com as mudanças que ocorrem no corpo, nessa fase, não é coisa pequena e caso ele não tenha bons valores incutidos, poderá nesse momento interpretar essas mudanças como um ponto fraco. Os pais são os espelhos da criança, já que tudo o que ela faz passa por eles. Perder esse apoio e referências tão fortes nessa idade torna-os vulneráveis. É nessa fase que os adolescentes procuram se identificar com aqueles que para eles será um modelo de “vida”. Isso supõe testar a capacidade, aprender a reconhecer limites e riscos, organizando a sua relação com o grupo, seja o familiar ou social.

Hoje esse tipo de violência é um fenômeno conhecido como bullying, que apresenta conseqüências preocupantes para a saúde física e principalmente emocional de seus atores- tanto faz se são os agressores, as vítimas ou as testemunhas. E o que é pior: a intimidação, o medo e a vergonha tornam-se um pacto de silêncio entre os jovens.

A forma de agredir varia muito: acontece desde agressões físicas, moral, material e até sexual. O motivo que justifica o ato violento, em geral é apenas um pretexto, qualquer coisa que diferencie a vítima: peso, altura, cor do cabelo, religião, classe social ou outras características que sirva ao preconceito.
Atualmente a internet tem sido usada também para esse fim.
O ambiente escolar está cada vez mais sendo palco para essas agressões. E o pior, ouço depoimentos de pais que não sabem o que fazer. Entregam, ou melhor, delegam o poder de repreensão à escola. Desistem literalmente de educar os seus filhos, tamanha a falta de controle sobre a situação.

Por isso, muitas dessas crianças ou adolescentes chegam à escola tendo que aprender a se comunicar, a falar com os seus pares e com os adultos.

O bullying é o exemplo dessa comunicação atrapalhada. Hoje se considera que faz muito mal à saúde, principalmente quando a vítima fica exposta a esses acontecimentos com freqüência, podendo acarretar conseqüências como: fobias, depressão e outros traumas. Além de tornar as suas vítimas pessoas inseguras e de baixa estima.

O que se verifica é que o quanto antes esse quadro for identificado, mais cedo à situação fica neutralizada.

Assim, os casos mais sérios, em geral acontecem com adolescentes, à ajuda médica ou terapêutica será necessária. Portanto, não veja tudo como uma brincadeira, fique mais atenta, infelizmente o ser humano ainda necessita de bons exemplos, seja na família, na escola ou socialmente falando pra ter uma boa convivência.
Essas palavras da Bárbara Freitag ( socióloga brasileira), são muito atuais:
" Os gregos diferenciavam, como sabemos, entre dois conceitos distintos de tempo: cronos e cairós. O primeiro refere-se à passagem contínua do tempo ( donde, cronologia) e o segundo conceito refere-se ao momento certo, maduro, para certos eventos. Há também, no caso da psicogênese infantil, momentos certos ( cairós) para promover o pensamento lógico, a modalidade autônoma e a competência linguística. Sociedades que se omitem e não fornecem as condições materiais e sociais adequadas para as novas gerações nos momentos certos, perdem a oportunidade de criar cidadãos maduros, capazes de assumir com responsabilidade e autonomia suas funções na sociedade".

Ironicamente o tempo de maturação, está precocemente sendo abolida. Não é à toa que as crianças começaram a ter enfermidades de adultos, mais cedo. Enfermidades essas como dores de cabeça, por inesperadas pressões precoces, vindas sempre como forma de superação de um obstáculo.

Os seus direitos de criança estão sendo cada vez mais esquecidos em nome de uma maturidade precoce. A imposição cultural é autoritária e permanente objeto de alienação na cabeça de todos. Quando queremos que nossos filhos se vistam como adultos, estamos sendo tão irresponsáveis quanto a atitude de uma criança. Portanto, ainda há tempo de devolvermos as nossas crianças a possibilidade de vivenciar a infância com alegria, sem preocupações não condizentes a essa etapa de vida, com chances de amadurecer no tempo certo.



terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mudanças Climáticas- um problema global




Muitas das atividades dos seres humanos produzem esses gases que aumentam o efeito estufa e isso começou a se acelerar quanto às tecnologias foram ficando mais sofisticadas. Por volta de 1750, com a chamada Revolução Industrial passamos a produzir e a consumir mais coisas e a produzi-las de modo diferente, substituindo o trabalho humano e animal pelo maior consumo de combustíveis fósseis como petróleo e carvão mineral.

Na década de 1970, os cientistas passaram estudar esse problema mais de perto e, embora alguns acreditem que o planeta não corre o risco de ficar superaquecido, existe uma preocupação muito grande de que, se continuarmos a produzir esses gases, poderá haver uma alteração climática séria num futuro próximo.

Os países devem adotar políticas e incentivar o uso de tecnologias limpas na indústria e no setor agrícola, apoiarem as pesquisas sobre o tema-cooperar com outros países que sofrem com o problema, facilitar o acesso às informações para todos os cidadãos e cidadãs e abrir um debate com a sociedade sobre isso. Os países industrializados que mais emitem os gases de efeito estufa devem estabelecer metas de redução ou limitação desses gases.

Os Estados e municípios devem examinar a realidade regional e local e diminuir a emissão dos gases de efeito estufa tratando os resíduos, melhorando seus sistemas de transporte, adaptando as edificações ao clima local, com aquecimento, iluminação e ventilação vindas de fontes de energia renováveis e limpas, evitando queimadas, incentivando o reflorestamento e outras atividades que mantenham florestas em pé.

As pessoas devem pensar nas suas responsabilidades e nas ações do dia a dia o que consomem, como usam transportes e energia, como o trabalho e a moradia de cada um estão relacionados à alteração climática.

O Brasil é também emissor de gases de efeito estufa e isso é resultado, principalmente, do uso que fazemos do solo com os desmatamentos e queimadas. Desmatar é retirar totalmente a vegetação nativa de uma área para utilização do solo em atividades como pecuária, agricultura, produção de carvão vegetal, produção madeira, instalação de usinas hidrelétricas, mineração e especulação imobiliária.

O modo como geramos energia também é preocupante, mas nesse caso o Brasil tem contribuições positivas. Nós usamos muitos recursos naturais renováveis de origem hídrica (utilização da água para geração de energia) solar, eólica (produzido pela ação ou força do vento). Além disso, utilizamos a biomassa-a energia que os organismos biológicos produzem e que pode ser transformado em eletricidade, combustível ou calor a partir de matérias primas como a cana de açúcar (álcool), lixo orgânico (biogás), lenha e o carvão vegetal, e alguns óleos vegetais (mamona babaçu).

Durante o Rio 92, os representantes dos países ali reunidos fizeram um documento sobre as Mudanças Climáticas, porque esse passou a ser um problema ambiental muito sério. Assim, foi escrita a Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na qual a comunidade internacional formalizou:
- reconheceu que as mudanças climáticas são problemas reais e planetários;
- reconheceu também que as atividades humanas têm um papel importante nas mudanças climáticas e que é preciso que todos os países façam um esforço para diminuir o problema.
- colocou como objetivo para os países a redução e a estabilização dos gases de efeito estufa. Assim, as atividades econômicas e a produção de alimentos devem ser feitas de uma maneira diferente.

Para transformar essa Convenção em propostas objetivas de responsabilidades e ações nos países, foi criado em 1997, o Protocolo de Quioto, que só entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005. A partir dessa data, os países que assinaram devem desenvolver projetos para diminuir a taxa de emissão de gases de efeito estufa até 2012.

Reconheço que as escolas devem trabalhar de forma sistemática esse tema. Alguns currículos já são formatados para discutir o tema de forma objetiva e construtiva. Hoje o assunto é recorrente, porém as soluções ainda são primárias, diante do agravamento constante. Ainda presenciamos muito desrespeito a natureza. Só no Brasil são milhares de áreas queimadas por dia. São milhares de litros de água sendo desperdiçado. São quilos de alimentos sendo jogados fora por falta de "conservação" adequada. Enfim, o desrespeito ao que a natureza nos dá é imenso.

Assim, proponho que pensemos a respito do que faz ou possa ser feito para diminuir tamanho desperdício. O que você como educador ( pois todos somos educadores), faz por tudo aquilo que conquistou, pelo o que se acredite que seja necessário para uma vida saudável, não se torne um exagero e acabe indo para o lixo. Isso nas mais diferentes esferas, tome ciência e consciência do seu "resíduo"... O seu resíduo não tem que ser além do necessário, para que ele não se torne um problema maior, que se chama: culpa. A falta de consciência, de moderação e respeito nos leva a certas atitudes que nem sempre nos orgulhamos.

Fonte: uol.com.br



segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Eleições Municipais para os candidatos ao cargo de Conselheiro Tutelar- ECA

Por ser assunto em pauta, converso com vocês o que tem sido dito nos grandes jornais sobre o ECA. Coloco também um pouco as minhas impressões, impressões estas de quem vive em cidade pequena, mas sofre tanto quanto como quem vive em cidade grande. Os problemas são os mesmos, talvez a diferença fique na frequência dos fatos.

Para alguns juristas o estatuto ainda é uma legislação avançada e as políticas públicas devem melhorar para que o texto seja cumprido.
“Há um consenso de que a legislação (o ECA) é avançada porque traz para o interior do panorama legal brasileiro o que existe de melhor nas normas internacionais. Mas tem um dissenso. De que é uma lei que o Brasil não tem condições de cumprir. Alguns acham que é preferível ter uma lei exequível, que possa ser cumprida. Mas tem outro lado que acha que lei é realidade, e o estatuto é a lei. E sabe que há uma diferença entre a lei e a realidade, ninguém nega. Uma parte acha que precisamos piorar a lei para ficar mais próxima. A outra facção, acha que a realidade é que tem que melhorar."

Sancionado em 13 de julho de 1990, o ECA é a regulamentação dos artigos 227 e 228 da Constituição que estabelece como "dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária".

Muitos que acompanham de perto a atuação do ECA , afirmaram que o estatuto é uma legislação avançada e criticaram a falta de "estrutura" e de políticas públicas para a garantia dos direitos das crianças.


"Precisaria ter uma política nacional que tratasse do assunto para que esses menores tivessem acesso à educação. Para que não fique preso como os adultos, que é o que acaba acontecendo." Para o magistrado, no entanto, o Estado "não tem cumprido suas obrigações para dar a prioridade que a criança precisa".

"Continua faltando escola, creche, atendimento especializado. É uma legislação atual, que satisfaz de forma plena os operadores do direito. Mas ainda falta a implementação de políticas públicas. Falta moradia, emprego para os pais, saúde para família. O Judiciário também não se equipou para priorizar os processos da criança e do adolescente."

Avaliam que o Judiciário deveria ter mais varas da infância e da juventude. "Além disso o corpo técnico de assistentes sociais, psicólogos e pedagogos é reduzido. Existem estudos dentro do Judiciário para ampliar, mas geralmente os orçamentos não comportam."
O governo federal, no entanto, diz que as políticas públicas voltadas para as crianças e os adolescentes existem, mas a aplicação cabe a cada prefeitura.


Na época da Constituinte, foi criada uma frente parlamentar para introduzir o direito da criança nas leis. Nós brasileiros sabíamos o que não queríamos porque o filme 'Pixote - A lei do mais fraco', deixou claro o que não queríamos mais. O filme foi lançado em 1981 e se baseou no livro "A Infância dos Mortos", de José Loureiro, que conta a história de um menino, abandonado pelos pais, que sobrevive em meio ao crime e às drogas.

A história conta que o ECA foi uma regulamentação da Constituição. Mas para o direito da criança ser inserido na Constituição, foi necessária uma emenda constitucional de iniciativa popular. Um grupo formado por várias entidades, como a Unicef, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Sociedade Brasileira de Pediatria), o movimento em defesa dos meninos de rua, entre outros, participou da coleta de assinaturas.

"Conseguiram mais de 30 mil assinaturas para uma emenda chamada Criança Prioridade Nacional' e mais de 2 milhões de assinaturas que não tinham valor legal, mas sim político, de crianças e adolescentes de programas e escolas públicas. E puseram essas assinaturas em carrinhos de supermercado e levaram no Congresso para Ulisses Guimarães (que presidiu a Assembleia Constituinte)."

Em seguida, começaram as discussões para aprovação do ECA, criou-se um grupo de redação do estatuto, formado por juristas e entidades, e o texto foi enviado para a Câmara dos Deputados e para o Senado, na intenção de agilizar a aprovação. O motivo para a pressa,era uma conferência da ONU em 1990 que o Brasil participaria e precisaria, até lá, ter a legislação regulamentada.

O mesmo aconteceu com as Prefeituras que tiveram que implantar todos os procedimentos para constituir uma comissão do ECA no Município em um curto prazo, prejudicando assim a compreensão do documento. Lembro-me que as escolas e as comunidades foram convocadas para ler e conhecer o ECA, mas o fato de ter sido tudo muito corrido, os equívocos foram inúmeros.
Vejo que hoje este material é conhecido por muitos, mas ainda é mal interpretado. Para alguns virou apenas mais um livro onde o conteúdo pouco surte efeito. Acredito, que por falta de infraestrutura, o manual perdeu o crédito, por falta de sua execução na hora certa e no momento certo. Pouco se faz, muito se discute e a burocracia começa a tomar conta em nome de uma eficiência.


Essa é a realidade em muitas cidades. O papel dos Conselheiros têm sido disputar com os parceiros de trabalho ( professores, diretores, comunidades envolvidas), quem tem o poder pra resolver a problemática. Na verdade se tornou um jogo de disputa entre quem manda e quem executa as tarefas. Por falta de estratégias eficazes e/ou falta de estrutura de serviço, mais estrutura de metas de trabalho, muito se discute e pouco se concretiza. O que passa acontecer é que a criança volta a ficar "abandonada" por aqueles que poderiam fazer algo por elas.

Os locais de abrigo para essas crianças são precários em sua grande maioria. Muitos dessas crianças- são crianças que praticaram pequenos delitos, mal comportamento social, o que exige uma equipe de conselheiros bem estruturados e formados, mais uma equipe multidisciplinar para acompanhar o desenvolvimento dessas crianças. Na verdade, estas continuam a freqüentar à escola e muitas das vezes não há nenhum acompanhamento, porque na escola também não há especialistas.

Hoje, ser Conselheiro Tutelar, infelizmente virou um cabide de emprego ou um trampolim para uma futura carreira política. Para conter um pouco o tamanho despropósito, formalizaram uma “seleção” para o cargo de Conselheiro Tutelar. Uma das exigências é que o candidato saiba o Manual do ECA, algumas noções sobre infância e adolescência (isto é, sem menor conteúdo pedagógico acadêmico). Infelizmente, acredito que estamos longe de um critério plauzível para tamanha responsabilidade.

Parece-me que deveria haver mais rigor nessa seleção e um dos quesitos era que todos os Conselheiros fossem acompanhados por psicólogos ou um terapeuta. Pessoas que não possuem o processo de auto-cura ou de autoconhecimento não tem nenhuma condição de atuar nessa tarefa de "resgate de vida".

Alguns Conselheiros são tão despreparados para assumirem o seu papel, que alguns desistem em pouco tempo, após assumir o cargo. E aí, tudo recomeça. Essa é a tônica de trabalho, um eterno recomeço, onde as equipes tem data prevista para entrar, com prazo pra sair e assim mesmo não agüentam o rojão.



Fonte: Uol.com.br

domingo, 25 de outubro de 2009

" Como o poeta vê a favela"- Carlos Drummond de Andrade



À memória de Alceu Amoroso Lima,que me convidou a olhar para as favelas do Rio de Janeiro.

Favelário Nacional


1. Prosopopéia

Quem sou eu para te cantar, favela,
que cantas em mim e para ninguém a noite inteira de sexta
e a noite inteira de sábado
e nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?

Sei apenas do teu mau cheiro: baixou a mim, na vibração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.

Decoro teus nomes. Eles
jorram na enxurrada entre detritos
da grande chuva de janeiro de 1966
em noites e dias e pesadelos consecutivos.

Sinto, de lembrar, essas feridas descascadas na perna esquerda
chamadas Portão Vermelho, Tucano, Morro do Nheco,
Sacopã, Cabritos, Guararapes, Barreira do Vasco,
Catacumba catacumbal tonitruante no passado,
e vem logo Urubus e vem logo Esqueleto,
Tabajaras estronda tambores de guerra,
Cantagalo e Pavão soberbos na miséria,
a suculenta Mangueira escorrendo caldo de samba,
Sacramento... Acorda, Caracol. Atenção, Pretos Forros!

O mundo pode acabar esta noite, não como nas Escrituras se estatui.
Vai desabar, grampiola por grampiola,
trapizonga por trapizonga,
tamanco, violão, trempe, carteira profissional, essas drogas todas,
esses tesouros teus, altas alfaias.
Vai desabar, vai desabar
o teto de zinco marchetado de estrelas naturais
e todos, ó ainda inocentes, ó marginais estabelecidos, morrereis
pela ira de Deus, mal governada.

Padecemos este pânico, mas
o que se passa no morro é um passar diferente,
dor própria, código fechado: Não se meta,
paisano dos baixos da Zona Sul.
Tua dignidade é teu isolamento por cima da gente.
Não sei subir teus caminhos de rato, de cobra e baseado,
tuas perambeiras, templos de Mamalapunam
em suspensão carioca.

Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
medo só de te sentir, encravada
favela, erisipela, mal-do-monte
na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver.
Nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.

Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégiose
traçar a planta
da justa igualdade.

Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.

Mas favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
Vês que perdi o tom e a empáfia do começo?


Carlos Drummond de Andrade