Hoje fui conversar com os pais da Escola Municipal daqui de minha cidade, que tinha como objetivo trazer a família à escola.
Vi no pátio da escola, um mural com a foto do Wellington. Fiquei um pouco perplexa, pois não esperava, visto que essa escola é de educação infantil e primeiro segmento do ensino fundamental. Não tive tempo de perguntar aos professores do que se tratava e de como a escola trabalhou aquela notícia.
De repente, me veio a ideia de falar sobre acolhimento. Como enfrentamos a nossa dor e a do outro? Como posso dialogar com o meu filho, sem agredi-lo, inibi-lo e aproximá-lo de uma convivência saudável? E daí para frente tudo fluiu bem.
Às vezes penso, que as palavras não virão, mas de repente elas brotam como uma nascente de rio, que necessita de cuidado diário.
Grata a todos e a Você em especial - Sandra Celano.
Natalícia
*********
O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro vem a público manifestar sua total solidariedade às famílias e aos funcionários diretamente atingidos pela tragédia ocorrida na Escola Estadual Tasso da Silveira em Realengo, e a todos os que, mesmo indiretamente, sofrem o impacto brutal da violência deste acontecimento.
Para uma dor de tal magnitude não se procura palavras vazias de consolo. Buscamos nesta nota problematizar a vida que vem sendo condenada a sobrevivência sob o julgo permanente da violência, das mais diversas violências, a qual todos estamos submetidos, cotidianamente.
Muito se tem discutido e interpretado nas mais diversas mídias acerca das motivações de Wellington, desde seu comportamento introspectivo, das humilhações sofridas na infância e adolescência e de um diagnóstico psiquiátrico, o qual, hoje apenas pode ser suposto. Muito se tem falado também sobre medidas de prevenção que garantiriam nossa segurança e de nossos entes queridos. Tais medidas, veiculadas em geral nos meios de comunicação de massa, têm como característica comum uma maior repressão: policiamento nas escolas, câmeras de vídeo, catracas eletrônicas e maior punição para os condenados. As soluções apontadas sinalizam que a sociedade deveria ser mais repressiva e punitiva, que solidária e acolhedora com a diferença.
Pouco se tem falado em tais mídias do modo como temos funcionado como sociedade. Diante de um acontecimento traumático e imprevisível, encontramos como explicação mais pacificadora para nossos afetos a “monstruosidade sociopata” de Wellington, advinda de uma patologia tranquilizadora para nossa suposta normalidade. Ao focarmos no indivíduo que empunhou as armas, deixamos de pensar a naturalização cada vez mais veloz da violência em nosso cotidiano.
Na nova ordem mundial é esperado que, sozinho, o indivíduo enfrente todas as adversidades da vida, muitas delas produzidas pelo modo como exploramos os trabalhadores, abandonamos os desempregados, os idosos, as crianças e os adultos fragilizados por uma sociedade onde se vale o quanto se pode comprar, o quanto se pode consumir.
Na atual ‘ordem’ carioca, cujo lema central da gestão estatal é o ‘choque’, como sair das análises individualizantes para fomentar reflexões sobre o campo social, avaliar o processo de trabalho das gestões públicas no investimento de políticas que garantam acesso aos direitos a todo e qualquer cidadão, no momento em que ele necessita, e não apenas diante da vivência de uma tragédia que produz incomensurável dor coletiva.
Neste sentido, nos cabe fazer algumas perguntas: como as políticas públicas vêm sendo implementadas e se mantendo na “cidade maravilhosa” para responder às violências cotidianas que afetam toda e qualquer pessoa? De que modo vem se estruturando a rede pública assistencial? Há serviços suficientes? Há profissionais concursados, com dignas remunerações para acolher às demandas crescentes, oriundas do sofrimento da população?
Diante da tragédia no bairro de Realengo, em que tanto se pedem psicólogos, psiquiatras, médicos, assistentes sociais e outros profissionais para o atendimento às pessoas que foram diretamente atingidas, o que dizer do fato de que, justamente nesta região, os serviços de atenção primária em saúde são escassos. Assim como são muito poucos os profissionais nos ambulatórios de saúde, nos Centros de Atenção Psicossocial (há apenas dois serviços de atenção diária em saúde mental para um território de quase 850 mil habitantes), e nos serviços de assistência social (CRAS e CREAS). Nada tão diferente da realidade da maior parte dacidade do Rio de Janeiro.
É preciso se preocupar com a continuidade do cuidado a toda e qualquer pessoa que em algum momento buscará a rede pública para atendimento de suas demandas, as quais, por mais que estejam sendo protagonizadas em um indivíduo, traduz uma produção coletiva do adoecer.
De fato, temos acompanhado que as políticas públicas de apoio solidário são abandonadas pelas gestões políticas, há muitos anos – a saúde é sucateada e levada à beira da falência, a educação é ignorada, a assistência social não consegue ampliar a implantação de seus serviços e articular ações visando proteção social e a Previdência Social condena quase todos à miséria, quando de seu adoecimento ou quando a idade deveria significar descanso dos longos anos de trabalho.
Seria possível encontrar saídas individuais para as mazelas nas quais estamos imersos? Eis uma questão impossível de ser calada, não obstante a espetacularização midiática que tem sido produzida no cotidiano de nossas vidas...
14 de Abril de 2011
http://www.crprj.org.br/noticias/2011/0414-solidariedade_e_direitos_aprendendo_com_a_tragedia_em_realengo.html
Vi no pátio da escola, um mural com a foto do Wellington. Fiquei um pouco perplexa, pois não esperava, visto que essa escola é de educação infantil e primeiro segmento do ensino fundamental. Não tive tempo de perguntar aos professores do que se tratava e de como a escola trabalhou aquela notícia.
De repente, me veio a ideia de falar sobre acolhimento. Como enfrentamos a nossa dor e a do outro? Como posso dialogar com o meu filho, sem agredi-lo, inibi-lo e aproximá-lo de uma convivência saudável? E daí para frente tudo fluiu bem.
Às vezes penso, que as palavras não virão, mas de repente elas brotam como uma nascente de rio, que necessita de cuidado diário.
Grata a todos e a Você em especial - Sandra Celano.
Natalícia
*********
O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro vem a público manifestar sua total solidariedade às famílias e aos funcionários diretamente atingidos pela tragédia ocorrida na Escola Estadual Tasso da Silveira em Realengo, e a todos os que, mesmo indiretamente, sofrem o impacto brutal da violência deste acontecimento.
Para uma dor de tal magnitude não se procura palavras vazias de consolo. Buscamos nesta nota problematizar a vida que vem sendo condenada a sobrevivência sob o julgo permanente da violência, das mais diversas violências, a qual todos estamos submetidos, cotidianamente.
Muito se tem discutido e interpretado nas mais diversas mídias acerca das motivações de Wellington, desde seu comportamento introspectivo, das humilhações sofridas na infância e adolescência e de um diagnóstico psiquiátrico, o qual, hoje apenas pode ser suposto. Muito se tem falado também sobre medidas de prevenção que garantiriam nossa segurança e de nossos entes queridos. Tais medidas, veiculadas em geral nos meios de comunicação de massa, têm como característica comum uma maior repressão: policiamento nas escolas, câmeras de vídeo, catracas eletrônicas e maior punição para os condenados. As soluções apontadas sinalizam que a sociedade deveria ser mais repressiva e punitiva, que solidária e acolhedora com a diferença.
Pouco se tem falado em tais mídias do modo como temos funcionado como sociedade. Diante de um acontecimento traumático e imprevisível, encontramos como explicação mais pacificadora para nossos afetos a “monstruosidade sociopata” de Wellington, advinda de uma patologia tranquilizadora para nossa suposta normalidade. Ao focarmos no indivíduo que empunhou as armas, deixamos de pensar a naturalização cada vez mais veloz da violência em nosso cotidiano.
Na nova ordem mundial é esperado que, sozinho, o indivíduo enfrente todas as adversidades da vida, muitas delas produzidas pelo modo como exploramos os trabalhadores, abandonamos os desempregados, os idosos, as crianças e os adultos fragilizados por uma sociedade onde se vale o quanto se pode comprar, o quanto se pode consumir.
Na atual ‘ordem’ carioca, cujo lema central da gestão estatal é o ‘choque’, como sair das análises individualizantes para fomentar reflexões sobre o campo social, avaliar o processo de trabalho das gestões públicas no investimento de políticas que garantam acesso aos direitos a todo e qualquer cidadão, no momento em que ele necessita, e não apenas diante da vivência de uma tragédia que produz incomensurável dor coletiva.
Neste sentido, nos cabe fazer algumas perguntas: como as políticas públicas vêm sendo implementadas e se mantendo na “cidade maravilhosa” para responder às violências cotidianas que afetam toda e qualquer pessoa? De que modo vem se estruturando a rede pública assistencial? Há serviços suficientes? Há profissionais concursados, com dignas remunerações para acolher às demandas crescentes, oriundas do sofrimento da população?
Diante da tragédia no bairro de Realengo, em que tanto se pedem psicólogos, psiquiatras, médicos, assistentes sociais e outros profissionais para o atendimento às pessoas que foram diretamente atingidas, o que dizer do fato de que, justamente nesta região, os serviços de atenção primária em saúde são escassos. Assim como são muito poucos os profissionais nos ambulatórios de saúde, nos Centros de Atenção Psicossocial (há apenas dois serviços de atenção diária em saúde mental para um território de quase 850 mil habitantes), e nos serviços de assistência social (CRAS e CREAS). Nada tão diferente da realidade da maior parte dacidade do Rio de Janeiro.
É preciso se preocupar com a continuidade do cuidado a toda e qualquer pessoa que em algum momento buscará a rede pública para atendimento de suas demandas, as quais, por mais que estejam sendo protagonizadas em um indivíduo, traduz uma produção coletiva do adoecer.
De fato, temos acompanhado que as políticas públicas de apoio solidário são abandonadas pelas gestões políticas, há muitos anos – a saúde é sucateada e levada à beira da falência, a educação é ignorada, a assistência social não consegue ampliar a implantação de seus serviços e articular ações visando proteção social e a Previdência Social condena quase todos à miséria, quando de seu adoecimento ou quando a idade deveria significar descanso dos longos anos de trabalho.
Seria possível encontrar saídas individuais para as mazelas nas quais estamos imersos? Eis uma questão impossível de ser calada, não obstante a espetacularização midiática que tem sido produzida no cotidiano de nossas vidas...
14 de Abril de 2011
http://www.crprj.org.br/noticias/2011/0414-solidariedade_e_direitos_aprendendo_com_a_tragedia_em_realengo.html
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