Hoje fui convidada a conversar numa escola com crianças entre 8 a 12 anos. O principal motivo são os inadequados comportamentos repetitivos.
Conversa vai e conversa vem... Um dos meninos falou-me que Lula foi presidente e não estudou. Isso depois de eu fazer todo o meu discurso dentro de uma lógica de adulto e principalmente de pedagoga.
Aí eu parei e falei. Você tem razão. Lula não é o melhor exemplo que nós temos de um intelectual. Mas, com certeza é um grande exemplo do que seja ser popular, o primeiro presidente eleito por uma grande maioria de votos de pessoas com pouco estudo, mas rico em habilidades que normalmente a escola não valoriza: que são as relações interpessoais. Ele soube valorizar e priorizar qual era a sua maior habilidade, que é fazer política e ser um cidadão com um discurso onde o povo falava como ele.
E eu lhe perguntei: O que tem de errado nisso? O importante é você conseguir entender que todos nós possuímos uma, duas ou muitas habilidades e é com ela que eu farei a diferença. Se eu considero que todos nós somos iguais nos direitos e deveres: O que me torna diferente de você?
É exatamente o que eu faço com a minha habilidade. Querendo ou não, você possui uma, basta observar o que você mais gosta de estudar, fazer e realizar enquanto ação.
E aí me veio à mente, o atual casamento real, na Inglaterra com uma cidadã que não faz parte da mesma casta das famílias que tanto a Inglaterra valoriza, dentro das normas e princípios da realeza. E por que hoje é aceito com bons olhos esse casamento? Por que a sociedade mudou e todos nós temos que conviver com essa realidade.
Eu expliquei para este pequeno aluno, que por hora se pergunta, o que serei quando crescer, afinal se eu estudo não tenho garantia de emprego e estudando tenho que agüentar por quatro horas aulas que me desafiam a ser motivado, quieto, ter boas notas e um cidadão de respeito, sem eu perceber que faço parte desse contexto que na verdade nunca me perguntaram o que quero.
Quantas questões a serem resolvidas, não só no universo infantil dessa criança, como no ambiente escolar.
Fico perplexa quando a escola não percebe que o aluno de hoje não é mais o de antigamente, onde se dizia, senta e todos atendiam sem questionar nada.
É verdade também que nós percebemos o quanto a família mudou. E com ela criamos novos problemas, desafios e nem sempre damos conta, afinal o principal papel da escola é ensinar. E hoje, os pais delegam à escola toda e qualquer responsabilidade de educar os seus filhos e de preferência sem incomodá-los. Aí, fica difícil, afinal a escola não é uma "mãe adotiva" e nem um lugar onde se "deposita crianças".
O mundo contemporâneo tem nos mostrado que a história muda, que a sociedade não necessita mais de padrões homogêneos, onde uma única opção é a correta.
E como viver com tanta diversidade? Com tantos desafios e informações irrelevantes e muitas também relevantes, mas que não são aproveitadas no currículo escolar, porque não é algo “concreto”, palpável e que possui retorno rápido.
A diferença nessa hora se soma, cria redes, e se expande de tal forma que aquele que não tiver soluções rápidas e democráticas, estará fora da escola, porque infelizmente os currículos são excludentes.
Eu só vejo uma saída. A reflexão. É urgente que façamos algo para que esses alunos pensem, pergunte, problematize algumas questões, para aí sim, perceber que ele faz parte desse contexto e que ele é sujeito da história.
E alertei a esses pequenos jovens, que a consciência é a responsabilidade caminham juntas. Elas andam de mãos dadas, uma amparando a outra, pois não somos nada se não tivermos a ajuda do outro. Que é necessário compartilhar ideias, soluções, amores, conflitos, para vencermos o medo de crescermos.
Nada mais cruel, do que crescer e se vê só... Nada mais improdutivo, do que se ver adulto sem desejo e sem esperança.
A ação nos torna forte, nos torna aquecida para enfrentarmos os desafios, porque eles existirão sempre, independentes de sua idade.
Eu desejo que as escolas revejam os seus currículos. Que dêem voz aos alunos. Que ouçam os seus desejos como uma ponte entre a realidade do adulto e da criança.
Nessa visão, a escola muda o tom da conversa, passa não existir espaço para a competição e sim para a colaboração, onde sou mais um entre os muitos que existem, fazendo e criando história por onde passar.
Natalícia
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