A caminho da paradisíaca praia da Cacimba do Padre, uma das preferidas dos surfistas em Fernando de Noronha, o cheiro de lixo chega às narinas dos visitantes.
O motivo pode ser visto de cima, já na chegada ao arquipélago: os dejetos se acumulam em um terreno próximo, entre a praia e o aeroporto.
Conhecido simplesmente como “lixão” entre os moradores, o local é, oficialmente, uma usina de compostagem – processo que transforma resíduos orgânicos, como restos de comida, em adubo.
Na prática, porém, as imediações da usina funcionam como um grande depósito de lixo a céu aberto.
Isso acontece porque a quantidade de dejetos produzida no arquipélago é muito maior do que a capacidade de lidar com ele.
Por dia, na baixa temporada, são pelo menos 8,8 toneladas de resíduos. No período com mais turistas, o número chega a 10 toneladas.
A maior parte desse lixo (63%) – especialmente plástico, papelão, alumínio e alguns resíduos orgânicos- deveria ser mandada de volta para o continente, o que acaba não acontecendo.
No melhor dos cenários, o navio que faz o transporte consegue levar 95 toneladas a cada 20 dias. Ou seja: sobram pelo menos 15 toneladas de lixo por viagem.
Sem ter como sair da ilha, o excedente, que chega a 31 toneladas na alta temporada, acaba acumulado na área externa ao lado da usina.
Embora os resíduos estejam separados por tipo e acondicionados em grandes sacos especiais, ainda se configura um lixão, na opinião de Eglê Teixeira, do Departamento de Saneamento e Ambiente da Unicamp.
Lixão moderno – “A diferença é que é um lixão mais moderno, com tudo empacotado. Mas ele ainda oferece riscos, como a proliferação de ratos, sem contar uma possível contaminação do solo”, afirma ela.
A administração do arquipélago, que é feita pelo governo de Pernambuco, informou que prepara um plano de gerenciamento de resíduos sólidos, com consultas à comunidade.
Ele deve ficar pronto até junho deste ano e, com base nele, serão instituídas “outras práticas sustentáveis” para lidar com o problema.
O lixo orgânico também atrai muitas garças. “Como o local é muito próximo do aeroporto, há risco de acidentes aéreos”, diz Teixeira.
Embora menos grave, há outro problema com o processo de compostagem ali: o risco de contaminação.
Como o adubo costuma ser usado em hortas e plantações para consumo humano, é preciso haver um controle rígido sobre a qualidade dos resíduos que vão formá-lo.
Não existe coleta seletiva em Fernando de Noronha. O lixo chega todo misturado e é separado por funcionários da usina. Com isso, aumentam as chances de que restos de comida, muito usados na compostagem, possam ter entrado em contato com substâncias tóxicas, como as de pilhas e baterias.
“Qualquer contaminação desse tipo no adubo usado para o consumo humano oferece graves riscos à saúde”, afirma a pesquisadora.
A administração da ilha diz que há seleção criteriosa do material usado na compostagem e que a coleta seletiva deve ser implantada na ilha até julho deste ano.
Surfe - As águas de Fernando de Noronha são ideais para a prática de vários esportes. No entanto, por causa das dificuldades estruturais e, principalmente, ambientais, há um controle rígido sobre o que é autorizado na ilha.
Atualmente, há dois eventos de grande porte: a Regata Internacional de Pernambuco e o campeonato de surfe Hang Loose Pro Contest.
Noronha recebeu mais de uma centena de surfistas entre os dias 15 e 20 deste mês para a chamada etapa WQS, divisão de acesso à elite mundial do surfe.
O campeonato acontece bem no período em que as tartarugas marinhas, ameaçadas de extinção, sobem as areias para botar seus ovos.
Como os bichos preferem fazer isso à noite, as provas precisavam acabar até as 18h.
Além disso, a estrutura que ficava na areia, como palanques e caixas de som, precisou ser bem mais alta do que o habitual para permitir que as tartarugas transitassem livremente.
(Fonte: Giuliana Miranda/ Folha.com)
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