domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Solidariedade pede mais do que 140 caracteres" - André Trigueiro

Solidariedade pede mais do que 140 caracteres




Por David Harris, tem pós-graduação pela Universidade de São Paulo, e hoje investiga desigualdade, movimentos sociais e novos meios de comunicação no Instituto do Futuro/ Institute for the Future (IFTF). Em 2012, o IFTF lançará o projeto “Previsão Social Mundial” — uma plataforma online que possibilitará imaginar outros mundos, construídos especificamente para a comunidade do Fórum Social Mundial. É também fundador e diretor executivo do Global Lives Project.


O artigo “Solidarity takes more than 140 characters”, do sociólogo estadunidense David Evan Harris, presente no Fórum Social Mundial, avalia o impacto, e o futuro da tecnologia e redes sociais na mobilização política e na transformação do mundo. O texto foi publicado na BBC Business Online, e cedido gentilmente ao Portal Mercado Ético.


“Como pesquisador do Institute for the Future (Palo Alto, California), é fácil para mim sucumbir ao ‘tecno-otimismo’: “tecnologia é a revolução”, eu diria. Com um laptop por criança, e um tweeter em cada casa, um novo mundo de internautas hiperconectados parece nascer das cinzas do nosso devastado planeta.


Após meu quarto Fórum Social Mundial, em Dakar, o mundo parece diferente. O triunfo do mercado no Vale do Silício é completamente ausente aqui.


Se empreendedores podem ter um importante papel aqui na África, precisamos nos lembrar das instituições públicas que criaram, e agora reproduzem, as condições políticas e econômicas que possibilitam ao mercado prosperar nos Estados Unidos: educação pública, leis de salário mínimo, redes de segurança social, redes de esgoto, e sistemas de água e eletricidade, e, por fim, a separação nominal entre os poderes da igreja e do estado, e os diferentes braços do governo.


Os jovens do Egito e da Tunísia, usando as últimas ferramentas da comunicação, destituíram dois ditadores em dois meses. Essas revoluções muito provavelmente teriam acontecido com ou sem essas tecnologias. Mas provavelmente não tão rapidamente, ou relativamente em paz.


Além disso, ambos os países, ainda estão na contramão da miséria, das dramáticas desigualdades, e cara a cara no enfrentamento da reconstrução de instituições democráticas, para os quais não há modelos claros.


Também no Fórum Social Mundial, surgem questões sobre os novos tipos de instituições. Falamos não apenas de revolução, mas nos perguntamos sobre que tipo de mundo, baseado em que tipo de instituições a serem criadas no amanhecer dos escombros de ditaduras. Índia e Brasil – duas das grandes democracias — mostram que a extrema pobreza é completamente compatível com o rápido crescimento econômico e a proliferação de empreendedores.


Um dos perigos possíveis emana das tecnologias - aquelas que permitiram a ação revolucionária de quem seguiu tweets da Praça Tahrir (”Praça da Libertação”, no centro do Cairo), e expressou sua solidariedade no Facebook e agora estará distraído com uma nova causa, perdendo de vista o sinal das correntes mais profundas do jogo, e a necessidade de criação de estruturas sustentáveis que as superem.


Com 140 caracteres permitidos, é fácil esquecer que a arquitetura financeira global que nos dirigiu à crise está intocada. Séculos de pilhagem do hemisfério Sul não podem ser apagados no espaço de um simples tweeter. A solidariedade real é um compromisso para a vida inteira”.



Fonte: Mercado Ético





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