Relatório da ONU aponta que educação é fundamental para que as tecnologias da informação e comunicação sejam efetivas na redução da pobreza no mundo
A crescente presença das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) no dia-a-dia da sociedade fez a Organização das Nações Unidas contemplá-las com destaque pela primeira vez neste ano no seu relatório sobre Comércio e Desenvolvimento, publicado desde 2005.
O “Information Economy Report 2010”, apresentado no Brasil pelo CGI.br - Comitê Gestor da Internet, traz dados globais que apontam que as TIC podem ajudar a reduzir a pobreza no mundo e mostra que a educação que contempla o desenvolvimento de habilidades para melhor explorar as possibilidades da cultura digital é essencial para o sucesso das iniciativas que buscam contribuir para essa redução.
Para chegar à conclusão, foram levantadas, por agências nacionais e internacionais de desenvolvimento, experiências cotidianas de uso das TIC em diversos países e, principalmente, em comunidades assoladas pela pobreza. Além disso, dados estatísticos fornecidos por grupos privados da área de comunicação foram analisados e ajudaram a compor o cenário.
Para o conselheiro do CGI.br e doutor em pensamento social e político, Carlos Alberto Afonso, que se debruçou sobre os resultados do relatório, esse cenário, de fato, é promissor. Ele, no entanto, observa que as iniciativas ainda não constituem um macro-modelo a ser seguido: “as experiências relatadas no relatório mostram que as TIC são capazes de promover transformações que ajudam a combater a probreza, mas até agora temos casos exemplares em níveis setoriais específicos, não temos uma ação macro, em um país, por exemplo”.
Entre os casos narrados no relatório, está o de uma comunidade rural na cidade montanhosa de Pazos, no Peru. Um telecentro local atrelado à orientação profissional para que produtores da região buscassem fontes de pesquisa sobre métodos de cultivo resultou na criação de uma estufa que produziu uma excelente safra.
O resultado positivo é fruto de uma lógica que pode ser vista como semelhante ao da presença das tecnologias na escola: se há estrutura que contempla a cultura digital e ainda há orientação para usar as “ferramentas” de forma produtiva, as chances de bons resultados aparecerem aumentam.
A indicação de que o contrário também pode ser verdade está na continuidade do exemplo de Pazos, quando é exposto que outras comunidades tiveram acesso às TIC, mas não obtiveram êxito ao tentarem implementar mudanças nas suas atividades produtivas. De acordo com o estudo, a diferença entre o mal e o bem-sucedido está na conjuntura. Como destacou Carlos Alberto Afonso durante a apresentação do relatório, “não adianta apenas oferecer as TIC e fazer com que o custo do acesso seja baixo, tem que haver uma estrutura que contemple o desenvolvimento das habilidades humanas, treinamento e suporte”.
O relatório destaca que o crescimento da disponibilidade das TIC não tem sido acompanhado por uma expansão rápida da evolução dos conhecimentos sobre a forma como essas tecnologias podem impactar o combate a pobreza. E aponta que “muito mais deve ser entendido sobre isso”.
Mais pesquisas e integração das instituições
O caminho para essa ampliação do entendimento a respeito do impacto das TIC no combate à pobreza é, de acordo com o Information Economy Report, o aumento do investimento em pesquisas por parte das empresas, universidades e agências de desenvolvimento, assim como a integração entre essas instituições. O estudo destaca que governos e agências de desenvolvimento não podem assumir o combate à pobreza com as TIC por conta própria e diz que o setor privado é extremamente importante como fonte de investimento em infra-estrutura e em serviços inovadores.
O relatório expõe que a erradicação da pobreza é o maior desafio global que o mundo enfrenta e também um requisito fundamental para um desenvolvimento sustentável. De acordo com dados da ONU, mesmo que uma das Metas do Milênio seja atingida e, em 2015, o mundo tenha reduzido pela metade o número de pessoas que passam fome, ainda assim quase um bilhão de pessoas estarão em situação de pobreza extrema. Por isso, destaca o estudo, investir em programas sociais de educação que preparem as pessoas para usar as TIC em suas atividades produtivas deve ser um esforço conjunto.
TIC no mundo: celular é o destaque
O “Information Economy Report” apresentou dados estatísticos sobre a penetração das TIC nas diferentes regiões do mundo. Os números são de 2009 e mostram que nos países da América do Sul as assinaturas de celular apresentam a maior média para cada grupo de 100 habitantes quando comparadas a outros três indicativos: propriedade de linhas de telefones fixos, usuários de internet e assinatura de banda larga.
No Suriname, a média é de 146,98 assinaturas de celular para cada 100 habitantes. Em seguida, vem a Argentina, com 128,84. O Brasil apresenta, de acordo com o IER 2010, a média de 89,79 assinaturas para cada centena de habitante. O Suriname é um dos países que ilustram uma das conclusões do relatório: os países que carecem de infra-estrutura para acesso à internet em computadores têm feito isso via celular. A média de assinatura de banda larga no Suriname é baixíssima: 1,65 para cada 100 habitantes. Na Argentina, é de 8,80. No Brasil, fica em 7,51. O Chile é o país da América do Sul com mais assinaturas de banda larga por habitante: 9,81.
Por Giulliana Bianconi
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