sábado, 3 de julho de 2010

Dúvida!








Acabei de comprar uma mala. Bem pequena, compacta e estou furiosa porque ela ainda não chegou. Vou viajar... A necessidade de pensar em outra opção me deixa angustiada.

O que você levaria de bagagem em sua mala? Qual seria a sua viagem predileta? Talvez vocês estejam pensando que vou viajar por muito tempo e que esta será mais uma viagem dentre muitas das que fiz. Mas... Não é bem assim. Para se viajar temos que antes de tudo fazermos um roteiro, traçar metas e principalmente estratégias para possíveis transtornos, imprevistos, porque na verdade elas podem acontecer.

Alguns lhes dirão, conheço um livro ou manual, do tipo executivo que te dará as melhores dicas para você não ser atropelada pelos imprevistos. Besteira! Nós humanos temos a mania de querermos respostas para tudo.

Na minha mala sempre levo presentes e de preferência algo que escolhi com muito cuidado, para que o mesmo represente o que “sinto” ou “desejo” para as pessoas que irei conhecer. Alguns diriam perda de tempo, pois as viagens normalmente são curtas e o que você trás são algumas impressões dos lugares ou das pessoas. Como saber o que é relevante para aquelas pessoas as quais você leva lembranças?

Realmente, voltei ao planeta terra, que por si só já lhe diz que a fantasia e a imaginação não percorrerem caminhos no ar.

Mas existe a possibilidade de olharmos o outro, o nosso visitante com mais humanismo, tentando revelar aquilo que se esconde atrás das muralhas que a vida nos proporciona a todo instante.

Viver viajando, no céu ou na terra, pode ser uma aventura, quando equilibramos o peso e a massa entre sentimentos tão dispares que trazemos dos diferentes espaços geográficos que conhecemos. Como compreender que o pensamento pode ocupar o mesmo lugar geográfico, afinal o pensamento é algo criado e inventado pelos homens e pode ter peso e massa, só depende de você!

Se seu pensamento percorre o mundo, você o vive de certa forma, pois eu só vivencio aquilo que penso, para que logo após possa abstrair algo compreensível em ações. Portanto, viajar é apenas um modelo de transição entre o que você quer e o que você deseja.

Se você viver viajando, na prática terá pouco tempo para criar algo substancial, como família, pois esta relação depende de tempo e compromisso.

Mas se você preferir viver viajando e criando ao mesmo tempo vínculos com as pessoas, a cidade, a família e o trabalho, com certeza estes não te deixarão na mão, muito pelo contrário, você terá sempre o que fazer e o seu presente sempre fará sentido.

A maior dúvida é o que fazer quando as viagens são escassas. E se você não tiver construído um caminho “sólido”, você se sentirá um peixe fora d’água.

Tem sido presente observarmos jovens com velhas ideias e velhos com ideias novas. O que não é normal é acreditarmos que os velhos em ideias não contribuíram para o crescimento da humanidade. Ninguém viaja de malas vazias, apenas carregam o necessário para cada viagem. Não é necessário sermos polivalentes para darmos conta de tudo, mas é necessário sermos dignos, solidários e humanitários para com o desenvolvimento daquele que convive comigo algumas horas ou o ano inteiro.

Nada me diz que para ser eficiente e competente eu tenha que atropelar o outro, que na verdade está na posição que um dia estive. Ele nunca será uma ameaça se eu souber equilibrar o peso da mala com o volume da mesma. As cobranças só existem para aqueles que vivem pesados e o volume é maior que sua mala. As pessoas deveriam tirar alguns dias por ano para exercitar o desapego.

Acomodação, ah!... Palavra muito usada nos dias atuais, principalmente no sentido negativo. Bem, se você souber utilizá-la verá que ela não é tão desprezível quanto parece, afinal ela te faz reagir, partir para a ação. Mas... Ela te promete muito mais... Ela significa, adaptação, conhecimento compreendido e significativo, devidamente guardado em sua cachola, para em breve ser utilizado. Portanto, deixem a hipocrisia de lado e passe a olhar que acomodar-se é um modo de ver a vida e recriá-la. É o tempo necessário que você se permite de viver viajando, para inventar, aliviar as tensões para logo em seguida voltar inteiro a vida, ao solo fértil: a terra.

Ontem um amigo me perguntou o porquê eu não fazia um mestrado e eu lhe respondi: - eu tenho os livros. E completei, as faculdades não mudaram muito do que presenciei em minha época. Isso serve tanto para os alunos, como para os professores e o ensino. Afinal, compreendo que um bom ensino se faz com as constantes reflexões sobre qual a função de cada um desses personagens no cenário educacional.

Mas, na verdade o que eu estava dizendo era que estudar significa trocar experiências e principalmente dúvidas. E a escola que conheço ainda não permite se ter dúvida. Isso demonstra insegurança e falta de interesse.

E eu as tenho graças a Deus. As dúvidas surgem exatamente para te cutucar, tirar do campo de conforto e te fazer se sentir tão pequeno, tão insignificante, que necessitamos criar algo grandioso pra se valer disso e crescer. Isso sim que é a grande viagem. E nela só se leva a esperança, de sermos grandiosos e vencedores sempre. Nela não cabe deslealdade, descompromisso e atos desumanos.

Nela cabe a saudade do fui e do que serei. Nela cabe o respeito a minha história de vida, os amigos que construí e os familiares.

Se houver alguma empresa que pense assim, por favor, me avise. Pois com certeza admitirei o quanto fui cruel e desleal.

No mais, continuo no universo da dúvida, onde o peso é relativo e a massa depende do espaço que você ocupa.

Até breve... E boa viagem.


Natalicia Alfradique

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