Gaza, 21/5/2010 – "Aprendi pela Internet a maior parte do que sei sobre edição de fotos e desenho gráfico", disse Emad, um cineasta palestino de 27 anos. Isto se tornou habitual em Gaza. "Este programa de edição de vídeo não está disponível aqui", explicou, sorrindo vitorioso enquanto terminava de baixar sua última versão. "E, mesmo se houvesse, eu não poderia pagar US$ 600 por ele, nem mesmo trabalhando durante dois meses. Mas preciso dele para meu trabalho, por isso busquei uma versão gratuita na Internet", explicou.
Isolados por um sítio que Israel impôs a Gaza pouco depois que o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) venceu as eleições de 2006, e que se intensificou em meados de 2007, os palestinos da Faixa de Gaza sofrem os efeitos desta alienação em todos os aspectos de suas vidas. A economia ficou devastada, tanto pelo prolongado sítio, quanto pela guerra que, entre 27 de dezembro de 2008 e 18 de janeiro de 2009, Israel levou a cabo contra a região, após a qual o desemprego chegou a cerca de 60%.
Além de negar aos moradores de Gaza uma grande quantidade dos elementos mais básicos de uso cotidiano – como materiais vitais para a reconstrução, o setor da saúde e escolas e universidades –, o sítio é uma agressão psicológica que tem forte impacto nos sonhos e nas esperanças das pessoas. "Em várias ocasiões tentei abandonar Gaza, para estudar no exterior. Embora tenha conseguido vistos e convites, as fronteiras fechadas de Israel e Egito me impediram de partir", contou Majed, de 24 anos.
Com Hatem aconteceu algo parecido. Obteve várias bolsas de estudos nos Estados Unidos e na Europa, mas as perdeu por causa do sítio. Apesar de todos esses obstáculos, os palestinos continuam buscando maneiras de se educar, além de se sentirem conectados com o resto do mundo. "A Internet é o mais útil no momento. Por exemplo, gostaria de estudar iluminação na universidade, mas isso não é possível. Esse tipo de programa para cinema e fotografia não existe em Gaza. E como não posso viajar, pego na rede das redes", disse Emad.
Na Faixa de Gaza praticamente não há mercado para o que oferecem artistas e músicos. O mesmo ocorre com os cineastas independentes. Graças à Internet, "alguém no mundo pode ver minhas fotografias, meus desenhos ou vídeos e posso me conectar com eles. Para mim o mais importante é enviar constantemente uma mensagem sobre a realidade da Palestina, seja sobre a vida das crianças ou sobre a guerra, ou o sítio", disse Emad.
Mahdi Zanoon trabalha como voluntário e faz filmagens para uma organização de Beit Hanoun, norte de Gaza. Quando não está trabalhando também procura o contato com o mundo exterior. "Converso por chat com amigos em outras partes da Palestina e em outros países. É uma pequena via de escape, quando sempre nos sentimos asfixiados", disse. Como é negada a oportunidade de visitar familiares que moram fora da Faixa de Gaza, a Internet cumpre outro papel vital. Telefonar para eles custa muito caro, "mas usando o Skype (programa de telefonia via Internet) ou um programa de mensagens posso manter contato", contou.
Ativistas e organizações educacionais também aproveitam ao máximo as possibilidades proporcionadas pela tecnologia. Videoconferências e conferências por Skype permitem aos estudantes de Gaza se conectar com universidades de fora desse território, que trabalham para romper o sítio em matéria de educação. Porém, para muitos moradores de Gaza, Internet e televisão são menos uma questão política e acadêmica do que um passatempo.
Em um território onde o tempo é a única coisa que sobra, a falta de trabalho e de atividades de lazer fazem com cada vez mais pessoas naveguem pela autopista da informação ou assistam televisão. As telenovelas turcas ganham uma vasta audiência em Gaza. "Gosto de ver algo diferente. Suas roupas, seus costumes, suas paisagens. Quando a eletricidade é cortada, fico muito ansioso porque perco um capítulo", contou Um Fadi.
Esses programas são uma possibilidade de fuga da realidade cotidiana vivida na faixa palestina, onde muitos sentem que amanhã não será diferente de hoje ou de ontem. "Nada muda, todos os dias são iguais. Não há trabalho, não há liberdade, não há nada para fazer", resumiu Mohammad.
Fonte: Por Eva Bartlett, da IPS/Envolverde
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