sábado, 24 de abril de 2010

31 ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR A MEMÓRIA


 


 

Pensamos, sentimos, nos movimentamos e experienciamos a vida (estimulação sensorial)

Todas as experiências são registradas no cérebro.

Elas são priorizadas pelo valor, significado e utilidade pelas estruturas e processos cerebrais.

Muitos NEURÔNIOS individuais são ativados.

Os neurônios transmitem as informações para outros neurônios, via reações elétricas e químicas.

Estas conexões são reforçadas pela repetição, pelo repouso e emoções. Memórias duradouras são formadas.


 


 

1. Pratique regularmente técnicas de relaxamento

Uma das maneiras mais eficazes de melhorar a memória pode ser relaxar conscientemente todos os músculos antes de aprender alguma coisa nova. Parece que o relaxamento muscular reduz a quantidade de ansiedade freqüentemente sentida por um pessoa tentando aprender algo novo. Em uma pesquisa na Universidade de Stanford, um grupo voluntário de 39 homens e mulheres (de 62 a 83 anos), foram divididos em dois grupos para fazer um programa de melhoramento de memória conduzido. Antes de começarem um curso de 3 horas de treinamento da memória, um dos grupos foi ensinado a relaxar seus grandes grupos musculares, enquanto o outro grupo foi, simplesmente, exposto a uma palestra sobre como melhorar sua atitude perante o envelhecimento. Os resultados do experimento mostraram que o grupo que foi instruído nas técnicas de relaxamento teve um desempenho 25%  melhor que o outro grupo para  lembrar o que aprendeu (nomes e rostos).


 

2. Ouça música clássica

Na Universidade da Califórnia, o Dr. Frances Rauscher e o Dr. Gordon Shaw, demonstraram em experimentos conduzidos no início dos anos 90, que pessoas expostas à música clássica, especialmente Mozart, demonstravam um significante reforço nas habilidades de raciocínio espaço-temporal. Essa descoberta, rapidamente apelidada de "Efeito Mozart" tem despertado um grande interesse. Alguns eruditos, incluindo Don Campbell, autor do livro O Efeito Mozart, acredita que ouvir músicas clássicas pode também ajudar a memória e o aprendizado; no entanto, esta premissa ainda não foi comprovada empiricamente.

 
 

3. Valorize o poder das estórias

Nossa memória semântica vive num mundo de palavras. Ela é ativada por associações, similaridades ou contrastes. Estórias provêm um esquema ou script para ligar ou ancorar informações na nossa memória. Imagens concretas engajam nossas emoções e senso de significado fornecendo um contexto e pista para a nova informação. Contar estórias tem sido uma tradição nas culturas antigas para passar as lembranças e memórias de uma geração para a outra.

4. Apoie-se em estratégias mnemônicas

Adquira o hábito de usar ferramentas mnemônicas regularmente. Codificar sua memória de uma maneira sistemática é a melhor maneira de ter certeza que você vai lembrar. Algumas pesquisas demonstraram que pessoas que usam mnemônicos aprendem 2 ou 3 vezes mais do que aqueles que confiam nos seus hábitos normais de aprendizagem.

5. Escreva o que você quer se lembrar em detalhe

Há muito tempo, diários, catálogos, jornais e transcrições têm sido reconhecidos de grande ajuda para assegurar uma memória acurada. Escrever a descrição de uma experiência, imediatamente após ela ter acontecido, é a melhor maneira  de lembrá-la em detalhes. Caixas de banco são treinados  para fazer isto imediatamente após um assalto. Mesmo antes deles fazerem um relato para a polícia, já que pode ocorrer uma distorção de memória, por exemplo, simplesmente pela maneira como o policial faz uma pergunta ou por um comentário ouvido ao acaso. É exigido pela Marinha que os comandantes dos navios mantenham um diário de bordo da viagem. Além de deixar uma gravação sem contaminação, o ato de escrever, por si só, melhora a memória. Por isso é aconselhável escrever ou reescrever anotações de estudos e resumir um tópico com suas próprias palavras. 

6. Organize seu pensamento

Impor uma ordem física na informação ou dar a ela uma estrutura lógica faz com que ela fique mais fácil de lembrar. Se você deseja se lembrar dos mamíferos da América do Sul, por exemplo, agrupe-os por cor, habitat, tamanho, a letra com que eles começam ou a ordem na cadeia alimentar. Organizar as informações para o cérebro pode fornecer um ponto de referência imediato para o seu resgate.

7. Use movimento para engajar o sistema corpo/mente

O movimento reforça a memória por fornecer uma âncora ou estímulo externo para conectar com o estímulo interno. Se você quer lembrar que "hola" significa olá em espanhol, toque sua boca com a ponta de seus dedos (como o gesto italiano para bom) e diga "hola". Você acabou de associar um gesto físico conhecido com uma nova palavra. Quando você repetir o movimento lembrará da palavra. Pesquisas recentes sugerem que os NÚCLEOS DA BASE e o CEREBELO, duas áreas cerebrais que se pensava anteriormente estarem relacionadas apenas com o controle do movimento muscular, são importantes também na coordenação do pensamento. O movimento inicia o processo de memória exatamente como o sabor, cheiro e a visão o fazem.

8. Mantenha padrões de boa saúde

Saúde comprometida, incluindo condições não graves como gripe ou pressão alta, podem atrapalhar a memória. Um estudo demonstrou que num período de mais de 25 anos, homens com pressão alta perderam até duas vezes mais a habilidade cognitiva quando comparados com os de pressão normal. Por outro lado, um estudo da  Universidade da Califórnia do Sul demonstrou que pessoas na faixa dos 70 anos tinham menos probabilidade de sofrer declínio mental durante um período de 3 anos se eles se mantivessem fisicamente ativos. Sono e nutrição adequados e enriquecimento mental desempenham um papel-chave num estilo de vida com corpo/mente/memória saudáveis.

9. Quando sua memória lhe escapa, investigue-a

Você pode investigar uma memória "perdida" retraçando seus passos, passando pelo alfabeto para ver se uma letra sugere uma pista, recapturando o humor em que você estava quando a memória foi formada ou, simplesmente, pensando sobre o contexto da memória que está tentando re-acessar.

10 - Use estratégias de ligação

Para relembrar itens de uma lista, ligue-os com uma ação imaginária. Por exemplo, visualize-os chocando-se, ficando grudados ou agindo como amigos. Coloque os itens abaixo, acima, dentro ou ao lado um do outro. Coloque-os dançando, conversando ou jogando juntos. Mesmo os antigos reconheciam a importância de ligar informações de forma a usar a imaginação e a ordem, muito tempo antes de nós termos evidências objetivas de que o lado esquerdo do cérebro se lembra de uma forma seqüencial, enquanto o lado direito se lembra de cor, ritmo, dimensões e abstrações. As ligações podem ser engraçadas, não reais ou ridículas; elas não têm que ser realistas ou razoáveis. Seja como for, você se lembrará com mais facilidade de uma associação concreta e orientada para a ação do que de uma associação abstrata.

11. Desafie a si mesmo

O cérebro produz substâncias químicas chamadas NEUROTRANSMISSORES que carreiam mensagens entre as células responsáveis pela memória. A disponibilidade de tais neurotransmissores, incluindo a substância química construtora da memória, a ACETILCOLINA, parece aumentar nos cérebros que estão freqüentemente acostumados a enfrentar problemas e a resolver desafios. Estudos importantes conduzidos no final dos anos 60 pela Dra. Marian Diamond na Universidade da Califórnia em Berkeley, demonstraram que ratos colocados em ambientes enriquecidos desenvolveram uma rede mais complexa de dendritos do que ratos não desafiados. Talvez, isso ocorra porque pessoas com QIs altos, freqüentemente, têm um desempenho melhor nos testes de memória: Eles tem mais "ligações de memória" ou circuitos neurais disponíveis, demonstrando o efeito bola de neve da memória e o papel de ambientes enriquecidos.

12 - Durma adequadamente

Falta de sono, especialmente durante a fase de sonho (REM), pode reduzir a habilidade da pessoa de lembrar aprendizagens complexas. Uma pesquisa na Universidade de Lilly mostrou que a mente realmente depende do sono para reter na memória tarefas difíceis. Sonhos podem, de fato, servir como um reforço para a aprendizagem e lembrança; bem como um meio para processar as emoções – separando o joio do trigo – e eliminando as informações desnecessárias dos circuitos sobrecarregados de sua memória. Alguns cientistas afirmam que uma redução de apenas 2 horas de sono pode atrapalhar a habilidade para lembrar coisas no dia seguinte.

13 - Coma alimentos leves, coma adequadamente e tome muita água

Prefira alimentos com baixo teor de calorias e gorduras. Os cientistas demonstraram que pessoas que fizeram uma refeição pesada de 1000 calorias antes de fazer teste de habilidade mental, cometeram 40% mais erros do que um grupo de pessoas que fizeram uma refeição leve de 300 calorias. Alimentos com baixo teor de gordura e alto teor de proteína são: galinha (sem pele), peixe, crustáceos e carne magra. Vegetais com baixo teor de gordura e bom teor de proteína são ervilhas e feijões. Produtos lácteos com baixo teor de gordura são queijo tipo Minas e cottage, leite desnatado e alimentos à base de soja. Tomar boa quantidade de água durante o dia ajuda a digestão, a respiração, aumenta a capacidade do sangue de carrear oxigênio e mantém a saúde das células.

14 - Exponha-se a estímulos novos

Alguns estudos mostram que as pessoas lembram melhor de coisas que são novas para os seus sentidos. Os estímulos não familiares podem desencadear a liberação de neurotransmissores que reforçam e ajudam na fixação da memória.

15 - Envolva as emoções

As emoções têm um tratamento privilegiado no nosso sistema de memória cerebral. Os estudos sugerem um aumento da memória para os acontecimentos associados com grandes emoções. As emoções negativas parecem ser lembradas mais facilmente, mas todas as experiências carregadas emocionalmente são mais facilmente lembradas que as neutras. "Eu não consigo memorizar as palavras sozinhas; tenho que memorizar os sentimentos e emoções". Marilyn Monroe

16 - Divida as informações, especialmente os números

As informações são mais fáceis de serem lembradas quando quebradas ou divididas em padrões significativos; por essa razão, o número de telefone, CPF, número da conta bancária etc são divididos em subgrupos de 3 ou 4 dígitos. 

17. Enfatize a memória dependente do estado

O que se aprende em um determinado estado mental ou circunstância externa, será melhor lembrado no mesmo estado ou circunstância. Então, se você toma café enquanto estuda para o teste, esteja preparado para tomar café durante o teste. Da mesma maneira, eventos tristes são mais facilmente lembrados quando você está triste e eventos alegres quando você está alegre.

18. Use sua modalidade preferencial de memória

Determine qual é a sua modalidade preferencial de memória e apoie-se nela. Aprendizes visuais beneficiam-se de fazer listas e desenhos. Aprendizes auditivos beneficiam-se em falar a respeito do que estão aprendendo e criar rimas e gingles. Todos nós somos aprendizes cinestésicos, o que significa que a nossa capacidade de aprender vai aumentar à medida que tocamos e manuseamos as coisas. Portanto, experimentos e experiências reais, excursões, movimentos e artes são extremamente benéficos para o processo da memória.

19. Interaja com o material para aumentar o significado

Dê significado à informação que você deseja lembrar encontrando uma relação entre o aprendizado novo e o anterior. Faça julgamentos pessoais a respeito dele e você dramaticamente aumentará suas chances de lembrá-lo. Resuma, reafirme, faça perguntas, desenhe, marque, dramatize, cante, faça uma piada sobre ele, manipule, discuta, faça um mapa mental.

20. Desenvolva a sua acuidade sensorial

A maioria das pessoas com boa memória tem boa percepção sensorial e sensibilidade. Quando você quer lembrar alguma coisa, faça uma pausa por um momento, se ligue e note (internamente ou externamente) o que quer lembrar a respeito da experiência.

21. Desenvolva uma atitude mental positiva

Troque a atitude de autocrítica como "Estou ficando muito velho para lembrar coisas como essas" para afirmações como "Se eu aplicar uma mnemônica para essa informação, aposto que posso lembrá-la". Examine as suas dúvidas e bloqueios mentais. A maioria deles foi estabelecida sem uma base real ou produtiva quando você era muito jovem.

22. Pratique uma ação imediata

Procure fazer as coisas quando você se lembra delas. Se você quer dar um telefonema, faça-o agora. Se isso for impossível, faça um lembrete: deixe uma mensagem na secretária eletrônica, escreva um bilhete ou deixe o telefone celular num lugar visível.

23. Faça revisões intervaladas

Informações que são revisadas em 1 hora, 1 dia, 1 semana e 1 mês após o aprendizado inicial serão lembradas. Quanto maior a exposição de tempo a um conceito ou habilidade, mais firmemente ele será embutido na sua memória. O velho ditado a prática leva à perfeição, não valoriza muito a necessidade do corpo por feedback e correção no processo de aprendizagem. Faça revisões freqüentes como parte da sua rotina de aprendizagem.

24. Dê ao seu cérebro uma injeção de glicose

A glicose, um dos 3 açúcares simples (os outros 2 são frutose e galactose) é a fonte primária de energia para o cérebro. Se a glicose não estiver disponível na corrente sangüínea, o cérebro não pode operar com a sua eficiência máxima. Alguns estudos concluíram que ingerir açúcar durante ou logo antes de um novo aprendizado melhora a lembrança do novo material. Mais especificamente, a glicose é o componente do açúcar que provê este benefício. O perigo, porém, é comer muito açúcar. Algumas pesquisas relacionaram dietas muito ricas em açúcar com hiperatividade, dificuldade de aprendizagem, com obesidade e outros problemas. Bebidas diet que contêm aspartame não devem ser consumidas. Alguns problemas  de saúde foram relacionadas com esse aditivo químico. A stévia, no entanto, não tem efeitos colaterais e parece ajudar no metabolismo do açúcar.

25. Faça exercícios regularmente

Além de melhorar a sua força física, os exercícios físicos ajudam a manter a sua memória funcionando bem ao assegurar um suplemento saudável de sangue e oxigênio no cérebro. Eles também estimulam a liberação de endorfinas (neurotransmissores do prazer), que aumentam a alegria, que é um ótimo precursor para uma boa aprendizagem e boa retenção.

26. Evite sedativos e substâncias que induzem sonolência

Tudo que seda o cérebro incluindo álcool, benzodiazepínicos (usados para tratar ansiedade) e muitas drogas "recreacionais" impedem o cérebro e a memória de trabalharem com eficiência máxima. Se você quer relaxar, coma alimentos ricos em carboidrato, que estimulam a produção de triptofano e agem como um sedativo natural.

27. Lembre-se do princípio: início e fim

Preste atenção redobrada às informações apresentadas no meio de uma sessão de aprendizagem, devido à tendência natural do cérebro de lembrar, com mais facilidade, o que é apresentado no início e no final.

28. Tome consciência dos seus ritmos ultradianos

Nossa mente e nosso corpo operam na base de um ciclo de atividade-repouso de 90 a 120 minutos. Esse ciclo é conhecido como ritmo ultradiano. Nosso desempenho mental, bem como outras funções como sono, controle de estresse, dominância cerebral e atividade do sistema imunológico, estão diretamente ligadas a esse ciclo básico. Para aumentar o desempenho da memória nós precisamos prestar atenção às variações nos nossos ritmos ultradianos. As tarefas que exigem muita demanda, devem ser realizadas quando estamos na fase ascendente do ciclo. As tarefas que exigem menos demanda física ou mental podem ser realizadas quando estamos na fase descendente.

29. Use a imaginação ativa

Visualizar informações abstratas com imagens concretas é a base para muitas ferramentas mnemônicas. Uma estratégia que incorpora o uso da imaginação é tirar uma foto imaginária de algo que você queira lembrar: focalize, dispare e diga "essa lembrança vale uma comemoração". Uma outra maneira é visualizar algo tranqüilizante e desejável que ajuda a relaxar. Um estado de relaxamento alerta é o melhor para aprender. O uso de imagens tem mostrado mudanças na química corporal e nos dá mais controle corpo-mente. Dê à imaginação permissão para criar maneiras divertidas, bem humoradas, absurdas e surreais. Essas imagens terão o poder de permanecer. Faça-as coloridas, em 3 dimensões, em movimento, orientadas para a ação, realistas ou ficcionais. A imaginação é só sua. O que chega a ela é organizado e, portanto, uma poderosa pista para recuperá-la mais tarde.

30. Use locais como cabides

Associe o que você quer lembrar a partes de seu corpo ou cômodos da sua casa. Faça isso: determine dez coisas que você queira lembrar e associe a primeira da lista ao topo da sua cabeça. Desça para os olhos, nariz, boca, garganta, peito, barriga, nádegas, quadris, coxas etc, ligando pedaços da informação a cada local com uma associação imaginativa. Quando você quiser lembrar de cada informação os locais serão um gatilho para a memória.

31. Dê ao seu cérebro tempo para descansar

Para funcionar bem, o cérebro precisa de descanso para a consolidação da memória. Se não der ao cérebro um descanso, com intervalos regulares, você pode continuar a estudar, mas tem grande chance de diminuir muito o rendimento da aprendizagem. O tempo de descanso é imperativo e varia em número de vezes e extensão, dependendo da complexidade e da novidade da informação, bem como da experiência prévia da pessoa com a informação. Uma regra boa é fazer de 3 a 10 minutos depois de cada 10 a 50 minutos de estudo ou aprendizagem.

 


 

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O tempo...

Sinceramente quem poderia viver sem:

- Uma boa música;

-Sem chocolate para adoçar a vida;

-Sem dias iluminados;

-Sem um bom livro para ler e

principalmente sem os amigos, seja em uma tarde de sol ou em dias frios, onde uma lareira aqueça a conversa...

Quem não tem um segredo a revelar ou uma caixa cheia de bilhetinhos guardados a sete chaves?! Nada melhor que um bom amigo, para acompanhar o crescimento de uma história.

Quando somos crianças, nos apressam a ser jovens, quando somos jovens nos apressam a ser adultos e quando envelhecemos já não nos exigem mais nada, como se nada tivéssemos a dizer. Ledo engano...

Nada mais temível que a velhice. Nada mais lúcido que a vida após os cabelos grisalhos. Você já observou o olhar de quem está na terceira idade? Já olhou o coração do mesmo?

Com certeza a batida do seu coração é suave, os seus pensamentos são leves e coloridos como uma aquarela.

Vejo que as pessoas possuem dificuldades de se verem velhos. Não sei se é por medo ou por achar que não chegarão até lá. Se eu chegar e tiver acrescentado algo na vida dos meus netos, ficarei grata.

Acredito, que essa preocupação não seja só minha, afinal me pareço como a maioria, apesar de viver numa total singuralidade, porque somos singulares.

As pessoas insistem em nos padronizar, em nos envelopar, como se fossemos cartas passadas. A vida no passado é triste, principalmente quando a vemos como um peso.

Mas, nada melhor que um lindo passeio pelo presente, para nos trazer de volta um belo sorriso!

Você já esteve à espera de alguém? Já percebeu que enquanto espera esse tempo parece interminável. Assim, são os efeitos de uma terceira idade plena de sentido. Ela parece longa e interminável. A vida se torna agradável pelo simples fato de estarmos vivos. Tudo é intensamente vivido, porque na verdade sabemos que o amanhã é outro dia e que logo será passado. Portanto, não voltará. Esse é o mistério da terceira idade, é reconhecer que só o aqui e agora vale. A consciência que possuímos a noção de tempo nos leva a sermos mais realistas e menos cruéis com a problemática da vida que levamos.

A insustentável pobreza de sentimentos torna-se espessa e menos visível. O que temos passa a ser valorizado a cada segundo que respiramos. Não há mais tempo para a pobreza de espírito e de sentimentos.

Não sabemos se teremos outra oportunidade de dizer eu te amo, nem o quanto você é importante para mim, por isso nos sustentamos na verdade daquilo que é dito e emocionalmente falado.

Nada melhor que um dia de chuva pra revelarmos o que sentimos e o que devemos dizer. Nada melhor que um dia de sol, com cheiro de maçã verde pra revelarmos em belas fotos o que sentimos. Isso nos faz diferente no meio de tantos iguais.

Gostaria de ter outro meio de revelar o que sinto, mas as palavras são engolidas. Afinal, não acreditamos que o outro nada saiba a seu respeito, após cinqüenta anos bem vividos, como ignorá-los?

Os filhos crescem, junto crescem a sua solidão, que não é diferente das demais gerações nos dias atuais. Infelizmente essa enfermidade nos acompanha.

Mas, os dias passam e insistimos que nada temos a acrescentar. Será?

Vejamos uma solução. Não aquela que se dilui como se fosse uma fórmula. Mas a solução que amenize a dor do coração, a da saudade, a do imenso vazio de quando alguém que você ame partiu.

A solução das palavras. Acredito que escrevendo a dor seja amenizada. É assim que passo os meus dias, acreditando que a vida e o tempo serão amenizados através de palavras. Serão lidas, não sei. Mas acredito que faça diferença entre o dizer e o não dizer.

Os dias passam rápidos. E com eles novidades surgem há todas as horas. Ficamos com as palavras, construindo um mundo melhor. Talvez nelas consigamos ser autênticos e não tentemos disfarçar a dor.

A saudade de quem partiu é constante. Mas, mais constantes são as lembranças. Elas são incontestáveis. Nada as derrubam.

A lembrança do seu primeiro baile, primeiro vestido de noite, primeiro livro, primeira formatura, primeiro emprego, primeiro beijo. Já percebeu quanta responsabilidade de se ser o primeiro?

Isso nos remete as fases da vida, afinal elas são únicas. Ninguém fica velho duas vezes...

E por ser único, não se repete. Como tudo que teve a sua primeira vez.


Natalícia Alfradique



quarta-feira, 14 de abril de 2010

“Os castigos corporais, devem ser usados ou não”? – Luiz Alberto Py

Frequentemente pais me perguntam sobre a conveniência e o acerto de se usar castigos corporais com seus filhos e quais os tipos de castigos adequados, se é que eles existem. Segundo um importante relatório do Laboratório de Investigações Familiares da Universidade de Hampshire (EUA), os castigos corporais às crianças poderão causar-lhes problemas sexuais na adolescência e na idade adulta.

A análise de quatro relatórios sobre castigos corporais de pais a filhos revelou uma vinculação entre sofrer castigos corporais e o surgimento, na adolescência ou na idade madura, de três problemas sexuais: violência física nas relações sexuais, sexo sem preservativo e sexo masoquista. Esses resultados, juntamente com mais de 100 outros estudos, sugerem que o castigo corporal origina relações sexuais violentas e problemas de saúde mental.

Os investigadores afirmam que a prevenção da relação sexual violenta é fundamental e dizem que os problemas de saúde mental e a violência nas relações sexuais podem ser prevenidos através de uma recomendação de que nunca se aplique castigos corporais às crianças.

A educação é de uma importância transcendental e de grande responsabilidade para os pais. Há no mundo muitos homens que se lamentam de desgraças devidas a faltas e descuidos dos seus pais. Em educação, como em tudo na vida, recolhe-se aquilo se semeou. É necessário inculcar nas crianças – gradualmente, à medida que elas vão sendo capazes de assimilar – a limpeza, a ordem, a obediência, o sacrifício, a lealdade, o espírito de serviço, a honradez, o saber renunciar, etc. E habituá-los a portarem-se bem em todos os lugares, a praticarem o bem embora seja penoso, a fugirem do mal ainda que seja sedutor, espontaneamente e por iniciativa própria, mesmo que ninguém vigie nem castigue.

Quando forem mais velhos, será muito difícil que adquiram virtudes que não foram semeadas neles quando eram pequenos. As crianças, para seu bom desenvolvimento, precisam de carícias desde a primeira hora. Fizeram-se estudos e verificou-se que crianças atendidas perfeitamente nas suas necessidades vitais, em centros especializados, mas com falta de carinho, mostraram anormalidades características.

Crianças mimadas

A alegação de que é preciso evitar que as crianças sejam mimadas é correta. A criança mimada torna-se caprichosa e pouco sociável. Isso virá lhe trazer problemas de aceitação entre os companheiros na escola, e irá dificultar a sua maturidade psicológica. Está comprovado que a criança que é bem aceita pelos companheiros, pelas suas qualidades pessoais, tem uma grande percentagem de probabilidade de um bom amadurecimento psicológico no futuro. Os filhos não devem ser mimados, mas também não os devemos castigar sem razão.

Castigo é inevitável

O castigo é inevitável, pois é moralmente impossível que as crianças não cometam alguma falta que o requeira: "Sem castigo não há educação possível", afirma um dos mais célebres pedagogos da nossa época, Foerster. Mas ao castigar é necessário evitar sempre a violência corporal. Outras formas de castigo são mais educativas e eficazes. E devem ser sempre:

a) Oportunas: escolhendo o momento mais propício para ser imposto, depois de passada a ira em pais e filhos.

b) Justas: sem exceder os limites do que é razoável.

c) Prudentes: sem nos deixarmos levar pela ira.

d) Carinhosas na forma: para que a criança compreenda que o castigo lhe é dado para seu bem. Não somos eficazmente castigados senão por aqueles que nos amam e a quem nós amamos.

O castigo corporal gera revolta, rancor, diminuição do sentimento de honra. Nas meninas, o castigo corporal debilita o sentimento da intocabilidade corporal, tão precioso para o recato da sua vida futura. Mais eficazes do que o castigo corporal são atitudes como pôr a criança para comer sozinha numa mesinha, virada para a parede, ou privá-la de uma manifestação de carinho habitual, ou de um doce que lhe agrade, ou do dinheiro que se lhe costuma dar. Depende de idades e de circunstâncias.

O castigo deve facilitar à criança o caminho da honradez, da obediência, da aplicação, etc., para fazer dela um homem moral. O castigo, mais do que para pagar pela falta cometida, deve servir para a correção. Para que assim seja, não é necessário que a criança reconheça a falta e a justiça do castigo. O castigo tem muito mais valor quando a criança o aceita voluntariamente, ou quando é ela mesma quem o impõe. Depois de aplicado o castigo, se deve fazer as pazes com a criança logo que possível. É preciso ter tato para corrigir com eficácia. Pouco se consegue com apenas ferir e humilhar. É preciso animar. Despertar o sentido da própria estima.
Uma correção eficaz deve deixar sempre aberta uma porta à esperança de superação. A autoestima é fundamental para a saúde mental e devemos proteger ao máximo a criança das lesões na mesma. É preciso ter cuidado para que o castigo não corresponda ao nosso mau humor, mas sim à gravidade da falta e à responsabilidade da criança. Depois de a criança ter reconhecido a culpa, e de o castigo ter sido aceito, é muito pedagógico diminuir esse com a promessa de emenda.


Luiz Alberto Py

Fonte: uol.com.br/vyaestelar.luizalbertopy/

domingo, 11 de abril de 2010

“ A quem Educa”- Artur da Távola



Educa quem educará. E quem aprender a perder. Quem, ou cuja obra, permanecer muito depois do momento de educar . Educará quem for capaz de dar no presente , com decisão, coragem e sem culpas, tudo o que no futuro fizer lembrar - ainda que com dor mas se possível com muita alegria - o momento da educação .

Educar é perder sempre as batalhas do imediato . Menos o amor de quem percebe o quanto ele preside o gesto do educador . É perder qualquer pretensão do reconhecimento e saber que quando ele vier - se vier - já tempo não haverá para receber o agasalho de sua manifestação , nem como reparar as injustiças feitas ,o silêncio , a falta do "muito obrigado". É perder porque é aceitar perdurar apenas na lembrança. É perder porque em qualquer sistema , em qualquer estrutura , em qualquer institucionalização de qualquer coisa sobre a face da terra, o verdadeiro educador estará ameaçando algo até mesmo tudo aquilo em que ele próprio acredita , porque o verdadeiro educador é o que acompanha as mutações da vida , dos tempos, dos comportamentos. É quem logo vê o abismo de imperfeições implícito no seu próprio ato de educar . Porque educar é educar-se a cada dia. E é ser capaz da eqüidistância de esquemas , sistemas ou fórmulas infalíveis e donas da verdade última das coisas.

Eu educo hoje com valores que recebi ontem para pessoas que são o amanhã. Os valores de ontem , os conheço. Os de hoje, percebo alguns. Dos de amanhã, não sei. Educo com os de ontem ( os da minha formação) ? Perderei os hojes e os amanhãs. Educo com os de hoje ? Perderei o que havia de sólido nos de ontem e nada farei pelos de amanhã ,que já serão outros ? Educo com os de amanhã ? Em nome de quê ? De adivinhações ? Da minha precária maneira de conceber um amanhã que escapa pelos desvãos meu cérebro ?

Se só uso os de ontem , não educo : condiciono. Se só uso os de hoje, não educo : complico. Se só uso os de amanhã , não educo : faço experiências à custa das crianças. Se uso os três , sofro. Mas educo.

Por isso educar é perder sem perder-se. Sempre. É ameaçar o estabelecido. Sempre. Mas é tudo isso sendo , também , integrar.Viver as perplexidades das mutações; conviver honradamente com angústias e incertezas ; ir dormir cravado de dúvidas , mas ter sensibilidade para distinguir o que muda do que é apenas efêmero; o que é permanente do que é renovado.

É dormir assim e acordar no dia seguinte renovado pelo trabalho interior e poder devolver ao aluno , ao filho ou amigo, a segurança , a fé, a confiança , formas éticas de comportamento, seu verdadeiro sentido de independência e de liberdade, seus deveres sociais consigo mesmo, com o próximo e com a sociedade, a parte que lhe cabe no esforço comum.

Educa quem educará. Quem for capaz de fundir ontens, hojes e amanhãs , transformando-os num presente onde o amor e o livre arbítrio seguem as bases. Educa quem educará porque capaz de dotar os seres dos elementos de interpretação dos vários "presentes"que surgirão repletos "passados em seus futuros".

O ser humano não é naturalmente bom , nem é naturalmente mau. O ser humano é um feixe de emoções em conflito , de poderes em confronto. Mas alicerces básicos em seu comportamento, comuns a qualquer latitude ou longitude do terráqueo. Educa quem os fortalece, quem é capaz de dar proteínas , vigor e confiança ao lado humano do amor , mais forte que o do ódio, tanto que permite a vida do homem sobre a face da terra. E só quem educa transforma, por mais que as pessoas se iludam com o resto .

Educa a velha professora de quem nos lembramos , sabe Deus porque, milênios depois, num momento em que sua lembrança não tinha razões aparentes para vir à tona , como o velho tio, o amigo, o pai e a mãe que saltam do passado com aquele olhar , aquela observação sobre a vida, à época julgados absurdos por nós. Educa aquele que só entendemos muitos anos depois e quando entendemos o espírito se liberta de antiga pressão , também amada de remorso enrustido.

Educa o que nos exigiu forças de que nos julgávamos desprovidos. Esforços de que nos acreditávamos incapazes. Confrontos conosco mesmo de que tanto fugimos e tantas desculpas menores encontramos para não defrontar. Educa quem integra, sempre e sempre pedaços de uma realidade realmente mais ampla do que nós . E só quem educa, em qualquer nível de atividade , merece viver integralmente as paradoxais intensidades de que é feita a vida.


Artur da Távola

sábado, 10 de abril de 2010

“ Por uma pedagogia com rosto”

Quero falar de um rosto. Nem de idéias nem de teorias, um rosto. Um rosto magro, um rosto moreno, um rosto. Pouco sei sobre este rosto, no entanto, é repleto de sentido, sentido que construo em meu viver cotidiano, nas circunstâncias que presencio no em que faço, de operário construído à operário em construção como cantado certa vez pelo poeta.

É do rosto que falo, deste mesmo rosto que me fala, que me pergunta com o olhar, com o cheiro e a cor, em traços estranhos de familiaridade plena, pois o conheço pouco ainda tendo visto muitas vezes. É do rosto do povo que falo. Do rosto de Ezequiel.

Ainda menino, mas com o rosto envelhecido, Ezequiel cata lixo na frente do prédio em que saio. Ezequiel fala comigo, ainda que em silêncio, seu rosto fala!

Ezequiel é homem-menino que sofre na pele e na alma o mundo que ajudamos a produzir todos os dias neste país. O mundo da deserção, um mundo de deserdados.

Ainda que Van Gogh, Gaguim, Portinari, Diego Rivera e outros pintassem, ainda que Sebastião Salgado fotografasse, ainda que Paulo Freire, Marx, Marcuse, Fanon, Fromm, Maturana, Saramago escrevessem, ainda que eu e você que esta lendo vissêmos, ainda assim é preciso pintar, fotografar, escrever, cantar e poetizar esses Ezequiéis, esses imortais Ezequiéis que pelo mundo afora falam com seus rostos. Mais do que uma idéia o que quero com este texto/artigo é uma imagem, o rosto de Ezequiel. O rosto sofrido e calejado que como a metropole que um dia foi capital de nosso país viu de súbito em meio ao seu mar de asfalto e concreto, nascer uma flor, ainda que pequena, certa de sua beleza, certa de sua conquista em terras tão áridas, certa que o poeta cruzaria por ela e a imortalizaria, furando o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Assim como a flor de Drummond de Andrade, faço do sorriso de Ezequiel uma pequena poesia. Uma homenagem ao sorriso que brota nas ruas de nossas cidades. O sorriso menino, malandro e irreverente que de pouco muito pouco precisa para desabrochar na acolhida de um encontro. A Ezequiel com quem andei meia quadra sonhando ao seu lado, a Ezequiel com quem partilhei meu pouco pão, a Ezequiel que abracei e afaguei num Domingo a noite em uma rua, a Ezequiel com quem compartilhei esperanças no encontro acidental, ao seu rosto que guardo mais do que teorias, pois nele esses anjos uma asa só que são as teorias podem voar encontrando a outra asa no seu corpo. Teoria e prática, como certa vez nos falou Gandhi, são como os homens, anjos de uma só asa, precisam abraçarem-se para alçar vôo. A Pedagogia precisa de rostos. Também precisa de mãos, muitas mãos. Precisa de gente, precisa de nós.

Ao rosto de Ezequiel que nunca mais vi, mas que porém, vejo todos dias em meus sertões interiores, dedico as palavras, as lágrimas, e a minha pedagogia!


Marcio Tascheto da Silva

quinta-feira, 8 de abril de 2010

“ A complicada arte de ver”- Rubem Alves



Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões _é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa _garrafa, prato, facão_ era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas _e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso _porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver_ eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

(Rubem Alves - Fonte: Sinapse - Folha On Line)

terça-feira, 6 de abril de 2010

“ Foi apenas um sonho”- Richard Yates

Não me canso de assistir esse filme. Cada vez que o vejo, reconheço nele algo que não havia percebido.Um belo filme, que deve ser assistido por todos!

Transcrevo abaixo um resumo. Quem quiser conferir, poderá escolher o livro e/ou o filme. As duas leituras são imperdíveis.

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O longa-metragem é baseado em um romance de sucesso, publicado por Richard Yates em 1961. A novela focaliza o apocalipse conjugal de um casamento típico de integrantes da classe média norte-americana. Abrindo caminho através de um enredo amargo e angustiante, Yates foi capaz de encapsular toda a melancolia que existe por trás da paisagem idílica do subúrbio típico dos EUA – aquelas casas amplas, sem cercas, com gramados verdejantes e balanços dependurados nas árvores, onde as famílias burguesas vivem habitualmente, nos arredores das grandes cidades. Trata-se de um clássico contemporâneo da literatura dos EUA, um romance respeitado em todos os círculos intelectuais, eleito em 2005 pelos críticos da revista Time como um dos 100 livros mais importantes do século XX. Uma obra assim, claro, teria que receber em Hollywood um tratamento solene com a palavra "Oscar" carimbada em cada centímetro de celulóide. E assim foi feito.

Esta roupagem de Oscar é um elemento que pode, simultaneamente, atrair e provocar repulsa em porções distintas do público. Muita gente vai ao cinema exatamente para conferir esse tipo de produção. Outro tanto deixa de ir pela mesma razão. Ambos estão errados. Boas histórias, que lidam com temas importantes, podem ser feitas com migalhas ou fortunas. O que importa, na realidade, é o calibre da equipe criativa envolvida. E talento é algo que "Foi Apenas um Sonho" tem de sobra. Ao longo das duas horas de projeção, ambos são corroídos por um drama pungente, por circunstâncias sociais que amarram uma camisa-de-força cada vez mais apertada em torno de um casamento claramente fracassado.

Frank Wheller (DiCaprio) é um vendedor de seguros insatisfeito com o emprego, embora o salário razoável lhe permita sustentar uma vida confortável para a mulher April (Winslet) e os dois filhos. Ela é uma atriz frustrada que não deu certo na carreira e se tornou dona-de-casa. A trama de passa em Connecticut (EUA), em 1955. O casamento não vai bem. Sam Mendes expressa isso através de tomadas longas que ilustram visualmente a rotina chata da vida do casal. Uma seqüência especialmente plena de significados mostra Frank indo para o trabalho. Ele desce do trem no meio de uma multidão de trabalhadores como ele, todos vestidos da mesma maneira – ternos e chapéus cinza, camisas brancas, gravatas pretas, pastas negras na mão direita, jornal debaixo do braço. O recado é claro: ele é igual a todo mundo. Nem melhor, nem pior. E não há nada mais frustrante, para alguém que se acha especial, descobrir que nada tem de extraordinário.

O tema do vazio existencial da classe média norte-americana é expressado na história através de um conflito universal. Frank e April, como milhões de pessoas ao redor do mundo, seguem construindo para si uma vida guiada por necessidades práticas, que pouco a pouco os afastam dos sonhos e desejos mais íntimos. O conflito que move os personagens é reconhecível por qualquer pessoa comum: o que fazer quando percebemos que somos prisioneiros de uma vida da qual não gostamos? Devemos sacrificar uma existência confortável em nome de desejos secretos que talvez não sejamos capazes de realizar? Ou é melhor enfrentar a realidade com os olhos abertos, deixar os sonhos para os devaneios íntimos na hora do chuveiro e usufruir o conforto daquilo que conquistamos, mesmo sem prazer? É melhor brilhar como fogo e sumir rápido ou desvanecer aos poucos?

O retrato traçado por Sam Mendes, que vem se especializando na crônica afiada da vida suburbana nos EUA (são abundantes os pontos de contato entre "Foi Apenas um Sonho" e "Beleza Americana", a vitoriosa estréia cinematográfica do diretor), nos mergulha na intimidade do casal, fazendo-nos compartilhar com eles a angústia de uma situação para a qual não existe solução sem dor e perdas. Em certo momento, Frank e April se entregam à fantasia (infantil?) de largar tudo e ir morar em Paris, decisão corajosa que provoca inveja e admiração em todo o círculo de amizades do casal. Só que a realidade logo os traz de volta à vida. O roteiro, escrito por Justin Haythe, inclui um coadjuvante importante (interpretado com vigor por Michael Shannon), cuja função narrativa é comentar criticamente os duros dilemas enfrentados pelo casal, convenientemente em cenas que se passam durante jantares de sorrisos falsos, um dos clichês mais comuns dentro das crônicas de costumes realizadas nos EUA.

Sam Mendes, que veio do teatro, mostra ser um homem dos palcos. Sua maior virtude é a direção de atores, todos perfeitamente integrados aos respectivos papéis. A direção de arte também funciona muito bem, especialmente graças à caprichada paleta de cores neutras, em tons pastéis, escolhida para a ambientação do filme. Todos os cenários (curiosamente, grande parte do longa foi feito em locações reais, o que valoriza ainda mais o trabalho do fotógrafo Roger Deakins e da equipe do design de produção) são dominados por cores mornas, amorfas – cinzas e marrons sem brilho, sem fogo, sem intensidade. Nada de cores vivas que expressem emoções fortes, como vermelhos e amarelos. Essas cores são intencionalmente eliminadas das imagens, de forma que a atmosfera do mundo dos Wheller reflita visualmente a rotina preto-e-branco de suas vidas. Apenas a personagem de Kate Winslet quebra essa regra. As tonalidades verdes e azuis dos vestidos ainda são discretos, mas parecem implorar para aparecer, embora sem conseguir. Exatamente como a personagem.

O diretor demonstra sutileza na condução do roteiro, ao realizar uma bem disfarçada mudança de ponto de vista no meio do segundo ato. A narrativa, até então mostrada do ponto de vista do homem, subitamente muda para o ponto de vista da mulher, a partir de certo acontecimento que altera radicalmente o rumo da história. Mendes também usa o som de maneira criativa, seja na construção de um universo sonoro que remeta o espectador à década de 1950 (com canções incidentais e também com a discreta e inquietante trilha sonora de Thomas Newman), seja realçando silêncios (como na tomada final) ou amplificando ruídos para enfatizar aspectos emocionais da narrativa. Um dos melhores exemplos está logo no início, na longa tomada que mostra o casal indo embora do teatro, após a fracassada apresentação que sepulta a carreira de atriz de April. Eles atravessam um longo corredor em silêncio. A câmera baixa, junto ao som ribombante dos passos de ambos, injeta na cena uma dramaticidade quase insuportável. Em um único plano, percebemos que a grande tragédia desses personagens é que eles pensam que se amam, mas não. Eles não se amam. E aprenderão isso da maneira mais dolorosa possível.

- Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, EUA, 2008)
Direção: Sam Mendes
Elenco: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Michael Shannon, Kathy Bates
Duração: 119 minutos

Fonte: www.blog.roteiro/

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Poema Cora Coralina




Um lindo poema da Cora Coralina

Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho,
servidor do próximo,
honesto e simples, de pensamentos limpos.
Seremos padeiros e teremos padarias.
Muitos filhos à nossa volta.
Cada nascer de um filho
será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.
A árvore de Paulo, a árvore de Manoel,
a árvore de Ruth, a árvore de Roseta.
Seremos alegres e estaremos sempre a cantar.
Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas,
teremos uma fazenda e um Horto Florestal.
Plantaremos o mogno, o jacarandá,
o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.
Plantarei árvores para as gerações futuras.
Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros.
Terão moinhos e serrarias e panificadoras.
Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens
e mulheres, ligados profundamente
ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.
E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou
milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros.
Eu voltarei...
A pedra do meu túmulo
será enfeitada de espigas de trigo
e cereais quebrados
minha oferta póstuma às formigas
que têm suas casinhas subterra
e aos pássaros cantores
que têm seus ninhos nas altas e floridas
frondes.
Eu voltarei...

(Cora Coralina)

Resenha do Livro “ A Insustentável leveza do Ser”

Este espetáculo de livro eu li faz tempo, mas conheci muita gente que simplesmente leu duas e até três vezes. Reler um livro soa meio que como um mito. Mas não é não, concordam?

Há livros que simplesmente devem ser lidos mais de uma vez. Nesta obra-prima de Kundera — A Insustentável Leveza do Ser — além de visitarmos a cidade de Praga (invasão russa em Tchecoslováquia), temos a especialíssima companhia de personagens incríveis, e também de Nietzsche, Parmênides de Eléia, Sartre e o mais maravilhoso: temos vez por outra o próprio escritor a nos fazer companhia, conduzindo-nos sabiamente pela filosofia, explicando-nos a realidade sinistra de sua história, que se passa em 1968.

O livro foi publicado em 1984 e talvez muitos de vocês tenham assistido ao maravilhoso filme de Fhilip Kaufman, que levou o título de The Unbearable Lightness Being. Trata-se de um romance aparentemente comum, contando a história de Tomas e Tereza e o cenário, o ano – 1968 – tudo contibui fantasticamente para surgir uma que é, sem dúvida, uma das maiores obras-primas de todos os tempos, no quesito literatura-filosófica-história-romance.

A Insustentável Leveza do Ser

Bom, o gênero romance é apenas a âncora para Kundera por em questão a filosofia pré-socrática de Parmênedes que dissertava sobre a relação peso/leveza. Segundo o filósofo, a problemática estava na dualidade do Ser, onde afirmava que esta dualidade surge da presença e da ausência de entidades. Por exemplo, o frio é apenas a ausência de calor, as trevas são a ausência de luz, então, embora estejamos acostumados com o novo pensamento lógico da vida, para este filósofo a relação leveza/peso afirma o peso como ausência, como não não-leveza.

A partir desta teoria (530 a.C – 460 a.C), Kundera constrói Tomas, um personagem que se recusa a carregar o peso da vida, vivendo sem nenhum compromisso com quaisquer problemas sejam de ordem política, nas relações amorosas, enfim, o personagem escolhe ser "leve", ou seja, livre. Mas Kundera nos leva aos poucos à meditação Nietzscheana, quando pondera sobre o Eterno Retorno, teoria que prevê o angustiante vazio para quem assume levar uma vida linear, longe de buscas e aventuras.

Segundo Nietzsche a vida é um eterno retorno, porque precisamos, temos a obrigação de errar e voltar a errar quantas vezes for necessário desde que não cometamos o primário erro humano de levarmos uma vida dentro de um ciclo de mesmices. Esta teoria de Nietzsche nos convence, em suma, a levarmos uma vida de liberdade, uma vida que valha a pena ser vivida.

Trata Kundera, ainda, da questão da Compaixão, sob o aspecto filosófico das línguas germânicas e latinas, Kundera discute a partir dos significados. Através da história, vemos que Compaixão nada mais é que um terrível sentimento de superioridade de um indivíduo sobre o outro que sofre. E na incapacidade egoísta deste indivíduo superior de sentir a dor do outro, faz com que o outro sofra duas vezes sua dor. Kundera utiliza-se desta metáfora para construir a relação de Tomas com Teresa, porque Teresa é uma moça simples, do Interior, enquanto Tomas é um rapaz rico, médico renomado e muito bonito. Mas ainda existe Sabina, mulher com quem Tomas mantém uma realação amorosa de liberdade longe dos padrões pré-estabelecidos. Esta mulher é como se fosse a versão feminina do personagem.

É um livro gostoso de ler, vocês terão a companhia do próprio Kundera que se retira da narrativa muitas vezes para passar para o leitor em que terreno filosófico ele está pisando, na forma de rodapés, no decorrer da história. Fantástico. Obrigatório, porque considero uma pena não termos acesso a Parmênedes, Nietzsche e Sartre. Mas não há mais desculpas, é só ler A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera e através de uma história de romance que se passa em Praga, em plena invasão russa e tenho certeza que este é um tipo de livro que muda nossa vida, desses que, como disse no início lêem-se mais de uma vez. É o que pretendo fazer esta semana. Reler A Insustentável Leveza do Ser.


 

Trechos do livro:

"Um sobre o outro, eles cavalgavam juntos. Iam juntos em direção às distâncias desejadas. Atordoavam-se numa traição que os libertava. Franz cavalgava Sabrina e traía sua mulher, Sabrina cavalgava Franz e traía Franz.

Teresa voltou para casa mais ou menos a uma e meia da manhã, foi ao banheiro, enfiou um pijama e deitou-se ao lado de Tomas. Ele dormia. Inclinada sobre seu rosto, na hora de aproximar os lábios, sentiu em seus cabelos um cheiro estranho. Mergulhou longamente as narinas. Ficou cheirando-o como um cachorro e acabou compreendendo: era um cheiro feminino, cheiro de sexo.

Durante uns vinte anos, sua mulher fora para ele a encarnação de sua mãe…"


 

Boa leitura!!!

Fonte: http:www.lendo.org/

quinta-feira, 1 de abril de 2010