quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

“ Crianças Resilientes”

Crianças se sentem desorientadas, perdidas numa época tão rica de estímulos, mas tão pobre em ética, princípios e valores. Entretanto, desses grupos, onde o que prepondera é o sofrimento, emergem crianças altamente resilientes. São crianças que confrontaram adversidades, que transformaram perdas em desafios, que lutaram e venceram e que se curaram sozinhas. Parecem ser crianças que quanto mais feridas, com mais força se afirmam no mundo e crescem como adultos resilientes.

Resiliência é um conceito que foi emprestado da Física, onde é entendida como a propriedade que têm os metais de resistir a golpes e de recuperar sua estrutura interna.

Do ponto de vista das Ciências Humanas, resiliência é a capacidade universal de superar as adversidades da vida e de ser fortalecido por elas. É parte do processo do crescimento e pode ser promovida desde o nascimento.

Os estudos sobre resiliência datam das últimas décadas, porém a idéia de resiliência é quase tão antiga quanto o mundo. A luta pela sobrevivência entre os pobres e oprimidos, em todos os tempos e lugares, gerou certa forma de resiliência. O fenômeno da resiliência evoca os velhos mitos de heróis invulneráveis. É um fenômeno encontrado na mitologia, na história, na arte, na religião. São exemplos de resiliência, entre muitos outros, a vida e a obra de Jean Piaget, Máximo Gorki, Aleijadinho. Outro exemplo notável pode ser visto no diário de Anne Frank. Uma jovem, aos 12 anos, condenada a viver escondida com sua família, para tentar escapar à perseguição nazista, escreveu um diário sob a forma de cartas dirigidas a uma amiga fictícia, por quem se sentia incondicionalmente aceita..."Não penso na angústia, mas penso na beleza de ainda viver".

Não é necessário voltar ao passado ou citar celebridades ou observar realidades tão distantes para verificar exemplos de resiliência. Basta olhar ao nosso redor para enxergar um resiliente. É possível ver, em favelas, algumas crianças que vivem em condições miseráveis, e mesmo assim conseguem se sobressair nos estudos. Há pessoas que nascem com deficiências físicas importantes, a ponto de ter a escolaridade prejudicada e que conseguem se destacar profissionalmente. Há aqueles que ficam por muito tempo desempregados e depois se sobressaem nos seus próprios negócios. Trata-se de algumas, entre várias situações de resiliência que podem ser assinaladas.

Os fatores de risco, expressos em termos de prejuízos, podem paradoxalmente criar no indivíduo uma espécie de escudo - suas resiliências. As pessoas resilientes transformam os fatores de risco em desafios, os quais passam a ser confrontados e podem ser superados.

Atualmente a psicologia do desenvolvimento está muito interessada em identificar os fatores que contribuem para reforçar a capacidade de resiliência. Sabe-se que ela não é uma capacidade fixa, mas que pode variar com o tempo e com as circunstâncias.

Podem ser descritas várias características das pessoas que possuem maior capacidade para resiliência: Inteligência, capacidade de reflexão, possibilidade de independência, capacidade de relacionamento, capacidade de iniciativa, humor, criatividade, noção interna de ética, dentre outras. Mas, para que uma criança cresça e se desenvolva como resiliente, ela precisa ter pais que sejam modelos de identidade valorizados e íntegros.

Sentir-se incondicionalmente amada, por pais respeitáveis, garante para a criança a confiança em si mesmo, a capacidade para auto-apreciação, a capacidade para controle da impulsividade, a capacidade de empatia, o sentido de coerência, o significado e a finalidade quanto à própria vida.

Cabe aos pais, cuidarem de sua da própria integridade física e psicológica, pois, assim, contribuirão para que o filho se sinta seguro e confiante no ambiente familiar e, por conseqüência, confiante na bondade das pessoas em geral e esperançoso na bondade do destino.

Sentir-se incondicionalmente aceito por pais valorizados traz um incentivo de valor inestimável para o desenvolvimento da criança e dá forças para que ela enfrente dificuldades e supere adversidades.

Nós todos almejamos um mundo "cor-de-rosa" para nossos filhos e ficamos penalizados quando precisamos ajudá-los a suportar dores, enfrentar frustrações e a curar feridas. O mundo "cor-de-rosa" não existe, as adversidades por certo virão. Precisamos criar crianças resilientes, que aprendam com seus erros, fracassos e decepções e que se tornem cada vez mais resistentes, mais fortes e mais crentes em vitórias.


 

Fonte: UOL.com.br Artigo de Ceres Araujo

“Magistério do RJ- Carta Aberta à População”

Sou professora, moro em Rio Bonito/RJ, portanto faço parte dessa categoria. Há muito me decepciono com a falta de clareza e respeito a nós funcionários do Estado. Não poderia deixar de colocar esse assunto em pauta. Assim como eu, milhares de funcionários vivem a espera de promessas não cumpridas e de direitos adquiridos. Não basta a derrota de vermos uma profissão ser diariamente massacrada por comentários maliciosos, ainda temos que receber no fim do mês aquilo que eles acreditam que seja justo a pagar.

Assim, deixo expresso o meu descontentamento, no intuito de informar e quem sabe juntos, mudaremos essa situação caótica em que estão os salários dos professores.

Obrigada

Natalícia


CARTA ABERTA A POPULAÇÂO

Terça-feira, 12 de Janeiro de 2010, 14:58

*Assunto:*

Magistério do RJ - Carta Aberta à População

Carta Aberta à População do Estado do Rio de Janeiro.


*Nós, professores servidores do Estado do Rio de Janeiro, escrevemos esta

carta aberta à população do Rio de Janeiro para mostrar aquilo que realmente

envolve a questão a incorporação da gratificação chamada **Nova Escola **e a

diminuição do nosso plano de carreira.*

*A princípio, não foi dito **o valor do salário do professor estadual**,

que é de apenas **R$ 607,26.** A população deve imaginar que recebemos

alguma ajuda extra, como vale transporte, vale refeição, que qualquer

empresa é obrigada a pagar a seu funcionário. Porém, não é isso o que

acontece: não recebemos estes benefícios que são direitos de todo o

trabalhador e ainda temos o desconto previdenciário de 11%, recebendo **um

salário líquido de aproximadamente R$ 540,00.*

*O Governo faz propagandas na televisão dizendo que deu laptops para todo

professor, mas na verdade, estes laptops foram adquiridos pelo sistema de

comodato, ou seja, estes equipamentos são emprestados pelo governo que,

quando bem entender, pode pedir os mesmos de volta. Atualmente, observamos a

climatização das salas de aula, onde o Governo aluga os aparelhos e ainda

terá um consumo absurdo de energia elétrica, gerando consumo de energia

bastante elevado.**


A incorporação do Nova Escola se dará até 2015, em 7 parcelas. O governador

já se considera reeleito. Existem casos de professores que receberão, no ano

que vem, segundo este projeto, um aumento de R$ 2,47! Isso mesmo, talvez não

dê para pagar uma passagem com o valor deste aumento em 2010. **Um outro

ponto é o grande número de pedidos de exoneração de professores, estima-se

que seja aproximadamente 30 por dia!** **Não existem condições de trabalho e

isso nos incomoda. *


*Contudo, o que mais nos deixa indignados, é a carta compromisso enviada aos

nossos lares onde o mesmo governador empenha sua palavra e agora se esquece

de tudo aquilo que prometeu. As promessas são:**


Promessa 1- Reposição das perdas dos últimos 10 anos.

Resultado- Reajuste de 4% e mais 8% de uma perda de mais de 70%.

Promessa 2- Manutenção do atual plano de carreira e inclusão dos professores

de 40h.

Resultado- Não só manteve o professor 40h de fora do plano como diminuiu as

diferenças entre níveis de 12% para 7,5%.

Promessa 3- Fim da política da gratificação Nova Escola e incorporação do

valor da gratificação ao piso salarial.***

*Resultado- Esqueceu de avisar que seria em 7 anos e sem reposição da

inflação.**

Promessa 4- "A secretaria de Estado de Educação do meu governo terá como

titular pessoa com histórico na área de educação e vínculos com o

magistério."

Resultado- A atual titular da pasta é da área de computação, burocrata sem

passagem pelo magistério.

**Não somos ouvidos, e ainda vemos a imprensa nos virar as costas e

distorcer a situação real. Somos pais e mães de família, que fizeram um

curso superior, na esperança de um futuro melhor.** *


*Contamos com a compreensão e **a colaboração da população **do Estado do

Rio de Janeiro.***


*Vista a camisa da Educação, você pode não ser professor, seu filho e sua

família podem não precisar da Educação Pública, mas a nossa sociedade só vai

melhorar com Educação Pública de qualidade Faça a sua parte, essa será uma

verdadeira mudança na história da Educação no Estado do Rio de Janeiro,

porém precisamos adequar a verdadeira realidade do magistério Estadual.*


*Mande para os seus contatos a vergonha que acontece no RJ e vamos mostrar a

nossa força!!!!!!!*


*Agradecemos imensamente a atenção**

Professores do Estado do Rio de Janeiro*

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

“O Ano de Pensar” – Lya Luft

Mudança de ano, que, com o Natal, para uns é celebração (estou desse lado), para outros, melancolia.

O que nos atrapalha é que alguém inventou que temos de tomar decisões e fazer projetos para esse novo ano. São quase sempre irreais, quase sempre não cumpridos. Aí já nos frustramos neste mundo de tantas frustrações, em que a gente teria de ser bonito, saudável, competitivo e competente, bom de cama e ruim de mesa, e uma lista interminável de "ter de".

Pois eu acho que 2010 pode ser o Ano de Pensar. Bom projeto, boa intenção. Uma só, e já é bastante. Pensar: coisa que tão pouco fazemos, embora seja o que nos distingue das outras feras.

Publiquei recentemente mais um livro para crianças (mas os adultos se divertem), chamado Criança Pensa. Com ele respondi, décadas depois, ao duplo lema dos adultos de um outro tempo, de que criança não pensa, criança não tem querer. Hoje tem querer até demais, mas isso é assunto para outra crônica. E pensar, continua pensando, apesar de todos os jogos eletrônicos e programas de computador imagináveis.

Se criança pensa – e pensa lindamente, segundo descobrimos e escrevemos, um de meus filhos, professor de filosofia, e eu –, adultos teriam de pensar ainda muito mais. Porém a gente vai se enquadrando. Família, escola, sociedade e cultura, seja o que isso for, tornam-nos menos pensantes e menos questionadores. Alguns escapam dessa mordaça e desabrocham. Podem ser os menos confortáveis, mas são os que movem o mundo.

Pensar não é uma obrigação: é um direito, e deveria ser um prazer. Naquela horinha no ônibus ou no carro, andando, nadando, comendo, não fazendo nada – o que é um luxo, e nós, bobos, poucos saboreamos –, nada melhor do que deixar tudo de lado e refletir, ou deixar as ideias vagando numa atenção flutuante, como dizia Freud. Largar mão, por alguns instantes, dos compromissos, do cansaço, da falta de tempo, da dificuldade em ser feliz, da pouca harmonia consigo e com o mundo, das tragédias, das decepções universais ou pessoais – e dar-se o prêmio de pensar. Para algumas pessoas, parar para pensar não é desmontar.

E ficariam dispensados os dez ou doze ou três propósitos, as intenções fajutas eternamente repetidas – como as de emagrecer, romper ou melhorar o relacionamento, sair de casa, voltar a estudar, vencer na vida, ter filhos, mudar de emprego ou de parceiro, deixar de beber, de fumar, de se drogar com outras substâncias. A essência seria esta: neste ano, eu vou pensar. Em mim, na vida, nos outros, no mundo, em mil coisas ou numa coisa só – que seja realmente importante.

Pensar para ser uma pessoa mais decente; pensar para amar mais e melhor, começando por mim mesmo; pensar para votar com mais lucidez; pensar no que de verdade eu quero, se é que eu quero alguma coisa – ou sou do tipo que se deixa levar por desânimo, preguiça ou desencanto?

Pensar simplesmente para criar meu mundo particular, não num ataque de loucura, mas de criatividade. Pois o real não existe, existe o que vemos dele. Dentro de certos limites, podemos, cada um de nós, inventar o nosso mundo: sendo mais céticos ou mais otimistas, com aquele grãozinho de loucura necessário para que haja beleza e claridade e não vivamos numa caverna de trevas.

Basta ver como pensam as crianças, ainda livres das nossas inibições. "Fadas e anjos existem, não é?", pergunta-me uma delas. Respondo honestamente: "Para quem acredita, existem". Acredito que, apesar de Copenhague, o mundo não vai torrar (as opiniões dos cientistas divergem), que vamos ter motivo para nos orgulhar de nossos países, que não vai mais haver tanta miséria e cinismo, que os colégios vão ensinar melhor e exigir mais em lugar de facilitar tão absurdamente e despejar tanta gente despreparada no mundo.

Sei que todos algum dia acordamos com a senhora desilusão sentada na beira da cama. Mas a gente vai à luta e inventa um novo sonho, uma esperança, mesmo recauchutada: vale tudo menos chorar tempo demais. Pois sempre há coisas boas para pensar. Algumas se realizam. Criança sabe disso. Feliz 2010.


(Fonte: Revista Veja 06/01/2010)


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

“A descoberta da sua vocação”

A felicidade profissional vem quando trabalhamos em algo que verdadeiramente tem a ver com nossa vocação. Quando não trabalhamos de acordo com nossa missão pessoal, ficamos irritados, de mau humor, entediados e, por conseqüência, não conseguimos servir a ninguém.

Um artista pode trabalhar como bancário, mas terá de ser "um bancário artístico" para não perder o amor à vida e ao trabalho. Se lutar contra sua essência e apagar sua sensibilidade, fará um grande mal a si próprio e, provavelmente, não conseguirá economizar dinheiro para se tornar artista 24 horas por dia.

Talvez você esteja com vontade de dizer que se sente frustrado porque precisa trabalhar com algo que não tem nada a ver com você, mas garante o seu salário. Se isso não tem nada a ver com você, daqui a pouco vai acabar sendo demitido por falta de competência. Sabe por quê? Porque está trabalhando sem paixão, não sente desejo de estudar para se aprimorar e o seu resultado vai acabar comprometido. O amor tem de vir em primeiro lugar mesmo que você esteja interessado em dinheiro. O respeito a sua vocação tem de ser total, e então todas as bênçãos virão em seguida.

Existe uma pesquisa realizada pelo professor Mark Albion, divulgada no livro Making a Life, Making a Living (Warner Business Books, 2000), que ilustra claramente a importância do respeito à vocação e aos valores nas escolhas que uma pessoa faz ao longo da carreira. Nela, 1.500 profissionais que haviam concluído o Master in Business Administration (MBA), vinte anos antes, nas melhores escolas americanas, relataram as prioridades em suas escolhas profissionais: 83 % optaram pelo emprego em função do salário. Os 17% restantes optaram por aquilo que mais lhes dava prazer, independentemente da vida financeira.

Vinte anos depois, Albion foi verificar como estava a carreira desses profissionais. Dos 1.500 entrevistados, 101 tornaram-se milionários. Desses, apenas 1 pertencia ao grupo que fez sua escolha orientada pelo dinheiro, todos os demais viraram milionários trabalhando no que gostavam.

Se você está frustrado com sua profissão, é chegada a hora de uma revisão de vida. Aproveite esse momento para analisar qual é sua verdadeira vocação, seus talentos, e vá atrás de seu sonho. Talvez você precise de algum tempo para essa transição, mas não se abandone atrás de uma mesa, fazendo algo que não tem nada a ver com você, até chegar o "glorioso" dia da aposentadoria.

A maior parte das pessoas escolhe uma profissão por motivos que nada têm a ver com sua alma, com sua vocação. Alguns a escolhem pelo glamour que supõem existir em algum tipo de trabalho. Ser sociólogo, por exemplo, era o máximo na década de 1960. Já nos anos 1980, a moda era ser psicólogo. Nos anos 1990, o que dava status era ser publicitário. Uma pessoa deve escolher uma profissão não pelo prestígio social que possa haver nessa atividade, mas por ser a preferência de sua alma.

A frustração chega quando a pessoa descobre que, com o glamour, vêm junto inúmeras tarefas aborrecedoras que somente aqueles com uma verdadeira vocação para essa profissão fariam com prazer. Por mais que escolha a profissão de acordo com sua vocação, haverá inúmeras tarefas difíceis de cumprir, mas que você realizará por amor e respeito à sua missão e às pessoas que dependem de sua competência.

Em qualquer profissão que escolhermos, a banana virá sempre com casca, e teremos de tirá-la. Ou seja, temos de aprender a curtir também o que há de desagradável naquela profissão. Se escolhermos bem, de acordo com nossa vocação, descascar a banana será tão gostoso quanto comê-la.

Há quem escolha determinada carreira para realizar os sonhos da família. Pode ser que o pai, na juventude, tenha tentado ser médico, mas, como não conseguiu realizar seu desejo, quer agora que o filho ou a filha siga essa carreira, custe o que custar. Pode acontecer também que o pai seja um poderoso empresário e queira que o filho perpetue seu negócio, mesmo que o garoto não tenha a mínima vocação ou habilidade para tocar a empresa!

Existem milhares de casos semelhantes, e é aí que começam os conflitos, sem que ninguém perceba o que está acontecendo de fato. O pai começa a achar que o filho é preguiçoso, e o filho, depois de tantas cobranças, acaba se convencendo de que sua vocação é trabalhar naquilo que o pai quer. Buscando a felicidade do pai, esse filho corre em alta velocidade para a frustração como profissional e, no fundo, como pessoa.

Quantos casos existem de filhos que eram irresponsáveis enquanto trabalhavam com os pais e que, ao irem para outra empresa, mudaram radicalmente de comportamento? Há também jovens que trocam de curso na faculdade e só então começam a se envolver de verdade com os estudos.

É muito melhor, nesses casos, uma conversa franca entre pai e filho. As vocações não são transferíveis. Cada caminhante tem o seu caminho. Mas só conseguiremos respeitar a vocação dos outros quando soubermos respeitar nossa própria vocação.

Há também aquelas pessoas que, por causa da crise econômica, escolhem uma carreira pensando em seu retorno financeiro. O que dá dinheiro? Informática, telecomunicações, tecnologia da informação? Poucas percebem que optar por uma profissão sem paixão é como se casar sem amor com alguém muito rico. Se já é trabalhoso ser fiel a uma vocação autêntica, a coisa fica muito pior quando não há vocação!

Por fim, existem aqueles que escolhem a carreira para evitar problemas. São os novos empresários, que pretendem montar um negócio porque não querem ter chefes. Logo descobrem que possuir um negócio próprio é transformar cada cliente num chefe. E, se não tinham capacidade para entender um, como poderão servir a cinqüenta?

Qualquer que seja sua idade, é sempre importante dar uma pausa na correria do trabalho para analisar se você está realizando sua vocação. Muitas pessoas fogem dessa reflexão com medo de descobrir que estão no caminho errado. Fazer uma mudança radical requer esforço, mas é melhor se esforçar para girar o barco no rumo do seu coração do que ter de se arrastar todos os dias para um trabalho que não tem nada a ver com você.


Roberto Shinyashiki é psiquiatra, palestrante e autor de 13 títulos, entre eles: Os Segredos dos Campeões, Tudo ou Nada, Heróis de Verdade, Amar Pode Dar Certo, O Sucesso é Ser Feliz e A Carícia Essencial - Acesse o site: www.clubedoscampeoes.com.br

sábado, 9 de janeiro de 2010

“Romance de Chico Buarque é tema literário”

O romance de Chico Buarque já é tema de estudos literários, diz André Luiz Glaser, doutor em Estudos Linguísticos e Literários em Língua Inglesa pela USP (Universidade de São Paulo).

Atualmente, ele é professor adjunto do Centro Universitário Ibero-Americano- Anhanguera Educacional, em São Paulo. Leia a resenha do professor sobre o livro de Chico, que será publicado na Alemanha.

* Leite Derramado - Sobre Narrador e Personagem

Inicialmente, já desde o primeiro capítulo, o que me chamou atenção no último livro de Chico Buarque, Leite Derramado, foi uma estranheza uma narrativa contada em primeira pessoa, por um homem já bastante idoso, em um leito de hospital de segunda classe, formalmente organizada com uma clareza surpreendente. Poder-se-ia questionar a qualidade do romance, se um efeito estético não prendesse o leitor desde as primeiras sentenças. Um narrador em primeira pessoa pressupõe, em geral, uma proximidade entre o que é narrado e o estilo da narrativa um envolvimento emotivo ou distanciamento instaurados pelo jogo lúdico da própria ficção. Assim, um narrador louco tende a usar palavras que não se organizam racionalmente, um narrador tenso fará uso de estruturas linguísticas tensas e um narrador distante será frio no tom de seu discurso. Não deveria um narrador em idade avançadíssima, doente e com uma memória já bastante falha, apresentar uma forma discursiva que, ao menos em certos momentos, fosse falha? Não falo aqui da organização do discurso, que se mostra embaralhado em vários momentos da narrativa; o foco é no domínio da sintaxe que percorre todo o romance, em um estilo próprio, que gera uma certa autonomia...

Uma análise pode destacar, entre tantos outros aspectos do livro em questão, três linhas de força que percorrem o romance. Uma, a estória de Eulálio contada por ele mesmo, que, logo nos primeiros capítulos, já se mostra de veracidade bastante duvidosa. O que temos de mais "real" são as impressões do espaço que rodeia o doente o texto projeta um mundo fictício estável que nos faz "acreditar" na existência do quarto de hospital, da televisão alta, da enfermeira, da irmã, etc. Quando, contudo, o que temos são os relatos de seu passado, a confusão de uma memória fraca instaura a dúvida. Só um leitor ingênuo levaria a sério o que está sendo relatado. Não só o passado, mas também o presente são constantemente distorcidos. A enfermeira escreve a narrativa? Ou, mais provavelmente, tem sua caneta sobre um prontuário de hospital? Matilde existiu? Ou é uma criação de uma imaginação alienada da realidade?

A sucessão dos acontecimentos responde pela lógica da associação. Já no primeiro capítulo este esquema organiza a narrativa. Eulálio quer casar-se com a enfermeira, que poderá dispor das coisas da mãe, na fazenda. Daí, fala de sua ex-mulher, que lá morou com ele, e uma propriedade leva-o a comentar a outra, o casarão de Botafogo, comprado pelos dinamarqueses dadas as trapalhadas de seu genro. Volta ao presente, comenta só haverem homens no hospital, de modo a poder falar das putinhas do Hitz, em Paris. Seguem por associação os assuntos de família, então tratados em francês, etc. Num primeiro momento, esta estrutura nos faz pensar em uma narrativa construída pelo fio do desejo, tecendo as associações de forma a chegarmos, em algum momento, numa consciência das forças inconscientes que direcionam este fluxo do pensamento do protagonista. Mas logo percebemos a fraqueza desta linha argumentativa, dado o caráter cada vez mais impalpável do que é dito. Embora um forte erotismo percorra todo o texto, a possível traição de Matilde, por exemplo, é tratada com tal distância e sob tantas perspectivas que só nos resta, se não a tratar apenas como mais um episódio do romance, não confiar a leitura a esta linha argumentativa como principal.

Mas então o romance traz uma forte vertente histórica --por baixo dessas associações gratuitas corre um processo seletivo muito bem construído, que vai mapeando momentos da história de um país corrupto, racista, aristocrático em sua organização classista. Do caos das memórias do protagonista surge uma outra dimensão, muito mais palpável por sustentar-se sobre personagens que, além de sua individualidade, comportam generalizações. O Vidal, por exemplo, é quase um ícone de certa vertente da classe dominante brasileira capaz da frieza máxima para manter as aparências da boa conduta e, porque não, da pureza racial. Matilde, de filha bastarda, passa a ser aquela negrinha que pegamos para criar. Já a decadência dos Assumpção não se limita, por sua vez, a um caso de família. A sua incapacidade dupla --fazerem a aposta financeira certa e manterem-se "puros" (longe do estigma negro em seu sangue)--, marca a história de tantos sobrenomes brasileiros. Uma falha trágica os impede de funcionar dentro das regras do jogo de classes à brasileira, uma democracia com profundas raízes aristocráticas.

Concomitante a estas duas linhas de força, temos a que mais interessa do ponto de vista literário --esta estranheza acima comentada da clareza do discurso. Se Eulálio narra sua estória, não pode ser o mesmo Eulálio que o faz com uma prosa tão clara. Aqui, o narrador se torna ambíguo: entre o conteúdo narrado e a forma narrativa uma brecha se abre, um espaço que instaura uma contradição viva. E ao avançarmos na leitura, mais e mais este deleite de uma prosa "musical" toma posse do leitor. Momentos supostamente de grande tensão emocional mantêm o mesmo estilo calmo, seguro, com pontuação quase poética, que se desdobra por todo o romance. Se tomarmos, por exemplo, um dos episódios mais dramáticos da narrativa, no final do capítulo oito, quando Eulálio narra seus encontros eróticos com Matilde na cozinha, detectamos o mesmo ritmo claro, um andante que não se dobra ao ímpeto emocional da cena. Um impulso métrico parece emergir, com a predominância de iâmbicos e dátilos que dão à prosa um tom quase poético. E neste ponto nos perguntamos, por quê?

Um leitor curioso talvez dê atenção apenas à estória, aos acontecimentos relatados de pouca credibilidade. O leitor que se deleita no mergulho em uma prosa formalmente bem escrita talvez termine o livro com a impressão de ter lido algo belo. Mas no cruzamento entre ambas estas possibilidades, salta uma terceira a crueza da distância, que pode marcar tanto o conformismo com uma história que não muda quanto a ironia fina e triste da recusa da poesia a envolver-se com a sujeira do recorte do mundo narrado.

Ou ainda uma terceira opção. Não estaria a prosa, aqui, trazendo para si um recurso tão utilizado na poesia, inclusive na presente nas canções compostas pelo próprio autor a distância radical entre o ritmo e musicalidade das palavras e o conteúdo do texto? Tantas vezes o ritmo alegre do samba fala da tristeza, da perda, do sofrimento. Há algo próximo em Leite Derramado, mas trazido criticamente (e artisticamente) às tensões e possibilidades características do romance. O narrador em primeira pessoa tem uma história considerável nos desdobramentos da literatura ocidental, e no Brasil suas potencialidades já foram bastante exploradas basta citarmos Machado de Assis. Aqui, nosso narrador é mais uma vez distendido, desdobrado, explorado ao máximo. E no vão criado entre forma e conteúdo, a crítica social ganha muito. Se uma das conquistas formais do narrador em primeira pessoa foi permitir que as mais diversas e opostas visões de mundo ganhassem corpo a partir de um de seus membros e/ou defensores, agora esta voz é marcada pela distância que embaralha a construção do narrador-personagem, criado dois mundos paralelos, mas unidos estruturalmente. O alcance da crítica ganha nova amplitude que lhe possibilita apalpar, de um outro ângulo, o poder e sua autonomia que, por mais absurdo que pareça, dada a "desumanidade" (tão humana, por sinal) dos seus traços, continua ditando as normas.

Não tenho dúvidas quanto à qualidade literária do livro. Este narrador em primeira pessoa narra da boca do personagem e se afasta dele. E este prisma da forma, para citar Anatol Rosenfeld, lhe dá "certa transparência ou 'iridiscência' em direção a significados mais profundos, em que se revela o 'sentido', a 'ideia' da obra" 1. A projeção do mundo ficcional criado pelo "conteúdo" ganha uma tridimensionalidade, indo além dos limites do ponto de vista do narrador e construindo um espaço ficcional mais abrangente, que cria neste outras possibilidades de leitura da sociedade brasileira. E não deixa de merecer atenção o fato de este impulso crítico vir pelo bom e velho livro, ainda vivíssimo, como momento de um grande crítico que por tantos anos se debruçou sobre a música e o drama.

O momento presente, tão perto historicamente e tão longe ideologicamente do impulso democrático que movimentou a arte e cultura críticas dos anos setenta, não perdeu o impulso crítico. Leite Derramado atesta o interesse do autor em manter viva a arte politizada, que faz parte de sua história pessoal e de um viés importante da história de nosso país. Um golpe de mestre, de grande maturidade literária. E de mensagem poderosíssima, se não recusarmos ao olhar multifacetado que o romance parece sugerir.

1Anatol ROSENFELD. "Literatura e personagem". In: A personagem de ficção. SP: Ed. Perspectiva, 2007.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

“Dez dicas para facilitar discussões”

 

   

O seu papel durante uma discussão em grupo é facilitar o fluxo de comentários dos participantes. Embora não seja necessário interpor seus comentários depois de cada participante falar, periodicamente, apoiar alguns comentários pode ajudar. Aqui está um menu com dez pontos para você usar quando estiver conduzindo discussões em grupo.

1. Parafraseie o que um participante disse de modo que ele ou ela se sinta compreendido e de maneira que os outros participantes ouçam um sumário conciso do que foi dito.

  • Então, o que você está dizendo é que você tem que ser muito cuidadoso sobre perguntar aos candidato onde eles moram durante uma entrevista porque isto pode sugerir algum tipo de afiliação racial ou ética. Você também nos falou que está certo perguntar o endereço do entrevistado no formulário da companhia.


2. Cheque o seu entendimento da afirmação de um participante ou peça a ele para clarificar o que ele está dizendo.

  • Você está dizendo que este plano não é realista? Eu não tenho certeza de que entendi exatamente o que você quis dizer. Você poderia repetir, por favor?

3. Cumprimente um comentário interessante ou perspicaz.

  • Este é um bom ponto. Estou feliz que você o trouxe a nossa atenção.

4. Elabore a contribuição do participante para a discussão com exemplos ou sugestão de uma nova maneira de ver o problema.

  • Seus comentários proporcionaram um ponto interessante da perspectiva do empregado. Isto poderia também ser útil ao considerar como um gerente veria a mesma situação.

5. Energize a discussão acelerando o ritmo, usando humor ou se necessário encorajando o grupo a dar mais contribuições.

  • Nós temos muitas pessoas modestas nesse grupo! Aqui vai um desafio para vocês. Nos próximos dois minutos, vamos ver quantas maneiras de como aumentar a cooperação dentro do seu departamento você pode pensar.

6. Discorde (gentilmente) com um comentário de um participante para estimular mais discussões.

  • Eu posso ver onde de onde você está partindo, mas eu não tenho certeza de que o que está descrevendo é sempre o caso. Alguém mais teve uma experiência que é diferente da do João?

7. Medeie as diferenças de opinião entre os participantes e atenue quaisquer tensões que possam estar fermentando.

  • Eu acho que Maria e Joana não estão realmente discordando entre si, mas apenas trazendo dois lados diferentes da questão.

8. Trabalhe em conjunto idéias, mostrando suas relações entre si.

  • Como vocês podem ver a partir dos comentários de João e Maria, estabelecer objetivos pessoais faz parte da administração do tempo. Você precisa ser capaz de estabelecer objetivos para si diariamente para administrar seu tempo mais eficazmente.

9. Mude o processo do grupo alterando o método de obter participação ou fazendo com que o grupo avalie as idéias que foram apresentadas.

  • Vamos nos dividir em grupos menores e ver se vocês podem identificar algumas objeções típicas de clientes aos produtos que foram cobertos na apresentação desta manhã.

10. Resuma (e escreva se for adequado) as principais percepções do grupo.

  • Eu notei que as quatro principais razões que apareceram na nossa discussão porque os gerentes não delegam são: (1) falta de confiança, (2) medo do fracasso, (3) conforto em fazer eles mesmos a tarefa e (4) medo de ser substituído.

domingo, 3 de janeiro de 2010

“É a treva: rumo ao desastre”

Uma jovem e talentosa atriz de uma novela muito popular, Beatriz Drumond, sempre que fracassam seus planos, usa o bordão:"É a treva". Não me vem à mente outra expressão ao assistir o melancólico desfecho da COP 15 sobre as mudanças climáticas em Copenhague: é a treva!  Sim, a humanidade penetrou numa zona  de treva e de horror. Estamos indo ao encontro do desastre.  Anos de preparação, dez dias de discussão, a presença dos principais líderes políticos do mundo não foram suficientes para espancar a treva mediante um acordo consensuado de redução de gases de efeito estufa que impedisse chegar a dois graus Celsius. Ultrapassado esse nível e beirando os três graus, o clima não seria mais controlável e estaríamos entregues à lógica do caos destrutivo, ameaçando a biodiversidade e dizimando milhões e milhões de pessoas.

O Presidente Lula, em sua intervenção no dia mesmo do encerramento, 18 de dezembro, foi a único a dizer a verdade:"faltou-nos inteligência" porque os poderosos preferiram barganhar vantagens a salvar a vida da Terra e os seres humanos.

Duas lições se podem tirar do fracasso em Copenhague: a primeira é a consciência coletiva de que o aquecimento é um fato irreversível, do qual todos somos responsáveis, mas principalmente os paises ricos. E que agora somos também responsáveis, cada um em sua medida, do controle do aquecimento para que não seja catastrófico para a natureza e para a humanidade. A consciência da humanidade nunca mais será a mesma depois de Copenhague. Se houve essa consciência coletiva, por que não se chegou a nenhum consenso acerca das medidas de controle das mudanças climáticas?

Aqui surge a segunda lição que importa tirar da COP 15 de Copenhague: o grande vilão é o sistema do capital com sua correspondente cultura consumista. Enquanto mantivermos o sistema capitalista mundialmente articulado será impossível um consenso que coloque no centro a vida, a humanidade e a Terra e se tomar medidas para preservá-las. Para ele centralidade possui o lucro, a acumulação privada e o aumento de poder de competição. Há muito tempo que distorceu a natureza da economia como técnica e arte de produção dos bens necessários à vida. Ele a transformou numa brutal técnica de criação de riqueza por si mesma sem qualquer outra consideração. Essa riqueza nem sequer é para ser desfrutada mas para produzir mais riqueza ainda, numa lógica obsessiva e sem freios.
 
Por isso que ecologia e capitalismo se negam frontalmente. Não há acordo possível.O discurso ecológico procura o equilíbrio de todos os fatores, a sinergia com a natureza e o espírito de cooperação. O capitalismo rompe com o equilíbrio ao sobrepor-se à natureza, estabelece uma competição feroz entre todos e pretende tirar tudo da Terra, até que ela não consiga se reproduzir. Se ele assume o discurso ecológico é para ter ganhos com ele.

Ademais, o capitalismo é incompatível com a vida. A vida pede cuidado e cooperação. O capitalismo sacrifica vidas, cria trabalhadores que são verdadeiros escravos "pro tempore" e pratica trabalho infantil  em vários paises.

Os negociadores e os lideres políticos em Copenhague ficaram reféns deste sistema. Esse barganha, quer ter lucros, não hesita em pôr em risco o futuro da vida. Sua tendência é autosuicidária. Que acordo poderá haver entre os lobos e os cordeiros, quer dizer, entre a natureza que grita por respeito e os que a devastam sem piedade?

Por isso, quem entende a lógica do capital, não se surpreende com o fracasso da COP 15 em Copenhague. O único que ergueu a voz, solitária, como um "louco" numa sociedade de "sábios", foi o presidente Evo Morales: "Ou superamos o capitalismo ou ele destruirá a Mãe Terra".

Gostemos ou não gostemos, esta é a pura verdade. Copenhague tirou a máscara do capitalismo, incapaz de fazer consensos porque pouco lhe importa a vida e a Terra mas antes as vantagens e os lucros materiais.

  
 


 

Leonardo Boff, escritor, filósofo e teólogo.

" A internet nos dias atuais"


Esta entrevista trata de um tema atual e nos leva a refletir o porquê a internet nos toma tanto tempo, e vai mais além, e fala do como devemos utilizá-la.


Não podemos negar que as nossas crenças nos levam a cometer inúmeros erros, mesmo sendo constantemente reavaliadas.


O poder de escolha ainda é frágil diante de tantos apelos. A escola possui um papel relevante, pois é nela que formamos a pessoa, esse indivíduo único, que se tornará um adulto.


A alienação ainda é um objeto de destruição. A mudança ocorre à todo momento e cabe a você transformá-la a todo instante.


Leia este artigo, que trata de uma visão sobre o mundo da informática e faça as suas considerações. Este espaço é coletivo, portanto a sua opinião é sempre importante!


Para Nicholas Carr, um dos palestrantes mais valorizados do mundo dos negócios, a dependência da troca de informações pela internet está empobrecendo nossa cultura. Mais ainda: nosso intelecto, ao se acostumar aos múltiplos estímulos das redes sociais, aos e-mails e aos comunicadores instantâneos, perde a capacidade de raciocínios elaborados. Autor de um famoso artigo cujo título resume o conteúdo - "O Google está nos tornando mais estúpidos?" - , Carr está preparando um livro de nome igualmente provocativo - numa tradução literal, O raso: o que a internet está fazendo com nosso cérebro. Ele falou a ÉPOCA durante uma visita ao Brasil para uma palestra a 4.500 líderes empresariais, num dos maiores eventos para executivos do país.

Nicholas Carr
Sascha Pflaeging QUEM É
Americano, 50 anos, é formado em Harvard e autor de livros de tecnologia e administração, é membro do conselho editorial da Enciclopédia Britânica

O QUE FEZ
Ficou famoso pela crítica à qualidade de "obras abertas" da internet, como a Wikipédia, e por artigos em que afirma que as empresas deveriam terceirizar o investimento em tecnologia da informação

ÉPOCA - A internet afeta a inteligência?


Nicholas Carr - Você fica pulando de um site para o outro. Recebe várias mensagens ao mesmo tempo. É chamado pelo Twitter, pelo Facebook ou pelo Messenger. Isso desenvolve um novo tipo de intelecto, mais adaptado a lidar com as múltiplas funções simultâneas, mas que está perdendo a capacidade de se concentrar, ler atentamente ou pensar com profundidade. Isso é um resultado da dependência crescente em relação à internet. Essa forma de pensar vai reduzir nossa habilidade para pensar contemplativamente. Ela prejudica nossa cabeça.

ÉPOCA - Quais seriam as consequências?


Carr - A riqueza de nossa cultura não é apenas quanta informação você consegue juntar. Ela tem a ver com os indivíduos pensando profundamente sobre a informação, refletindo sobre ela, avaliando pessoalmente os dados que recebe e não se deixando passivamente bombardear por vários estímulos. Estamos perdendo isso agora. Toda a cultura fica mais rasa. Temos acesso democrático à informação, mas o resultado é mais pobre. Temos menos condições de compreender as grandes obras da arte, da ciência ou da literatura, que exigem uma concentração mais profunda.

ÉPOCA - As pessoas deveriam ficar desconectadas de vez em quando?


Carr - Sim. Deveríamos desconfiar da internet. É claro que conseguir bastante informação útil é parte de nossa vida moderna. Mas precisamos encorajar continuamente o outro lado, que é a aquisição calma e contemplativa do conhecimento. Isso exige ficar fora do fluxo contínuo de informação. Só não sei se isso será possível porque nossa vida social está cada vez mais dependente de quão conectados estamos. Seu grupo de amigos está embrulhado em redes sociais na internet. Você precisa da internet para executar seu trabalho. Não para de olhar para seu BlackBerry. Não é mole se desligar disso tudo.

ÉPOCA - A filosofia grega foi construída em cima de debates. O pensamento de Platão são conversas com seus discípulos. Por que não daria para erigir conhecimento a partir da interação com os outros?


Carr - Nos Diálogos de Platão, temos duas pessoas dedicadas a uma conversa atenta sobre determinado tema. Se você entra on-line, encontra dezenas de pessoas trocando mensagens de texto, vendo e-mails, escrevendo no Twitter e pulando de uma página para outra. A troca de informação ocorre com interrupções o tempo todo. Sócrates sentava-se embaixo de uma árvore e pensava longamente enquanto conversava com seus discípulos. É muito diferente do que fazemos agora.

ÉPOCA - Uma das maiores lojas on-line, a Amazon, vende livros. As pessoas baixam livros no Kindle. Até o senhor vende livros. Isso não significa que as pessoas ainda leem textos extensos?


Carr - É verdade que as pessoas ainda lerão livros por muito tempo. Mas o porcentual de tempo dedicado à mídia impressa vem caindo. A média americana é de um livro por dia, o que ainda é muito bom. Só que o ato de ler uma página após a outra fica cada vez mais difícil à medida que você se adapta à comunicação da internet. Eu mesmo sinto isso. Antes eu me sentava e lia por horas. Agora, fico pensando se devia conferir meu e-mail ou acho ruim não encontrar hiperlinks no texto.

"AS CRIANÇAS NÃO DEVEM MEXER EM COMPUTADORES DE JEITO NENHUM. OS PAIS DEVEM DEIXAR OS FILHOS AO MÁXIMO LONGE DAS TELAS"

ÉPOCA - Essa habilidade para múltiplas tarefas e para administrar várias informações simultâneas não nos dá, em compensação, maior capacidade para criar novas ideias?


Carr - Certamente temos maior capacidade para encontrar informação ou relacionar uma com a outra. Mas dependemos cada vez mais de conexões externas. Você estabelece uma relação porque clicou em um hiperlink que alguém deixou lá. Já construir as próprias relações entre um fato e outro exige um tempo de reflexão própria, que não estamos tendo.

ÉPOCA - Essa visão negativa da internet não é apenas o medo da mudança?


Carr - Não há dúvida que, toda vez que uma tecnologia nova aparece, algumas pessoas imaginam que tudo vai desmoronar. Sim. É preciso ter essa visão cética. Por outro lado, também devemos desconfiar quando ouvimos alguém glorificando as novas tecnologias e prometendo uma nova utopia. Recomendo que as pessoas não sigam o que eu digo cegamente. Mas que examinem o próprio comportamento. Testem em si mesmos o que estou dizendo.

ÉPOCA - Os cursos on-line vão revolucionar a educação?


Carr - Existe empolgação em torno dos cursos on-line porque parecem cortar os custos. Um professor poderia dar aula para milhares de alunos, em vez de apenas uma turma de algumas dezenas. Mas não acho que a educação on-line vá substituir a tradicional. Ela pode funcionar como complemento para o professor ter um material de apoio na sala de aula ou para o aluno reforçar em casa o que aprendeu na escola. Outra utilidade dos cursos on- -line é a formação técnica profissional em casos específicos. Existe um aspecto importante na educação, que é juntar os alunos fisicamente para conviver e trocar experiências. Isso vai além de apenas assistir a uma aula. Tem a ver com o lado comunitário da educação, que se perderia se passarmos tudo para o computador.

ÉPOCA - Como a tecnologia pode beneficiar a educação?


Carr - Por um lado, o que estamos vendo é que muitas escolas, especialmente universidades, começam a oferecer material on-line de seus cursos, inclusive algumas aulas. Isso é bom. Permite que gente de fora da universidade tenha acesso à informação de ponta e aulas de grandes pensadores. O perigo para as grandes universidades é que os alunos possam ter a ilusão de que terão acesso ao conhecimento apenas sentados diante de um computador. Aí o que acontece é que a eficiência de fornecer material on-line começa a capturar os investimentos financeiros, que deveriam ir para as universidades e escolas. Se um professor dá aula para milhões de alunos, quem vai pagar o salário dos outros?

ÉPOCA - Como atrair a atenção dos jovens que estão ligados nas redes de relacionamento e nos jogos da internet para a educação "formal"?


Carr - Naturalmente, não há como fazer isso. Nossa dependência dos serviços de internet não está mudando apenas nossos relacionamentos e nosso acesso ao conhecimento, mas também a forma como nossa mente funciona. Não é só entre os jovens, mas gente de todas as idades usa cada vez mais a internet. Nas escolas e em casa, os pais e os educadores têm sido excessivamente entusiastas do poder dos computadores. Temo que, como o cérebro constrói a maior parte das ligações entre os neurônios na juventude, o modo de pensar promovido pelo convívio com a internet predomine sobre a capacidade de análise. Os pais devem manter seus filhos o máximo longe das telas. Na verdade, acredito que as crianças não devem mexer em computadores de jeito nenhum. Mais tarde, quando entrarem na adolescência, terão de aprender a lidar com a internet para sua vida adulta, social e profissional. Mas antes disso não.

ÉPOCA - Como o senhor fez com seus filhos?


Carr - Minha filha tem 24 anos, meu filho 19. Então, quando eram crianças não havia tanto acesso à internet e a computadores. Nem as redes sociais existiam. Mas mesmo naquela época eu já sabia que as mídias usadas pelas crianças teriam influência em sua capacidade cognitiva futura. Não quero dizer que a internet seja ruim. Ela é essencial para encontrarmos pessoas e informações úteis. Mas ela é como uma esponja. Vai sugando todos os aspectos da vida. E nos obriga a se adaptar a ela. É o futuro da humanidade. Só que perderemos alguma coisa no meio do caminho.


Fonte: texto publicado na revista Época.




sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

" Cuidado com o quê e como você fala"


A linguagem dirige nossos pensamentos para direções específicas e, de alguma maneira, ela nos ajuda criar a nossa realidade, potencializando ou limitando nossas possibilidades. A habilidade de usar a linguagem com precisão é essencial para nos comunicarmos melhor. A seguir estão algumas palavras e expressões a que devemos estar atentos quando falamos, porque elas podem nos atrapalhar:
1) Cuidado com a palavra NÃO, a frase que contém "não", para ser compreendida, traz à mente o que está junto com ela. O "não" existe apenas na linguagem e não na experiência. Por exemplo, pense em "não"... (não vem nada à mente). Agora vou lhe pedir "não pense na cor vermelha", eu pedi para você não pensar no vermelho e você pensou. Procure falar no positivo, o que você quer e não o que você não quer;

2) Cuidado com a palavra MAS, que nega tudo que vem antes. Por exemplo, "o Pedro é um rapaz inteligente, esforçado, mas.....". Substitua MAS por E quando indicado;

3) Cuidado com a palavra TENTAR que pressupõe a possibilidade de falha. Por exemplo, "vou tentar encontrar com você amanhã às 8 horas". Tenho grande chance de não ir, pois, vou "tentar". Evite "tentar", FAÇA;

4) Cuidado com as palavras DEVO, TENHO QUE ou PRECISO, que pressupõem que algo externo controla sua vida. Em vez delas, use QUERO, DECIDO, VOU;

5) Cuidado com NÃO POSSO ou NÃO CONSIGO, que dão a idéia de incapacidade
pessoal. Use NÃO QUERO, DECIDO NÃO, ou NÃO PODIA, NÃO CONSEGUIA, que
pressupõe que vai poder ou conseguir;
6) Fale dos problemas ou das descrições negativas de si mesmo utilizando o verbo no tempo passado. Isto libera o presente. Por exemplo, "eu tinha dificuldade de fazer isso";
7) Fale das mudanças desejadas para o futuro utilizando o tempo presente do verbo. Por exemplo, em vez de dizer "vou conseguir", diga "estou conseguindo";
8) Substitua SE por QUANDO. Por exemplo, em vez de falar "se eu conseguir ganhar dinheiro vou viajar", fale "quando eu conseguir ganhar dinheiro vou viajar". Quando pressupõe que você está decidido;

9) Substitua ESPERO por SEI. Por exemplo, em vez de falar, "eu espero aprender isso", fale: "eu sei que eu vou aprender isso". Esperar suscita dúvidas e enfraquece a linguagem;
10) Substitua o CONDICIONAL pelo PRESENTE. Por exemplo, em vez de dizer "eu
gostaria de agradecer a vocês", diga "eu agradeço a vocês". O verbo no presente fica mais concreto e mais forte.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Escola e comunidade, enfrentando a violência


No Governo de Leonel Brizola, na época dos CIEPS, havia um setor escolar que trabalhava com a comunidade familiar escolar e a comunidade local. Foi um trabalho dinâmico e o seu resultado foi significativo. Pena que tudo que é bom dure pouco.

Depois disso, não vi nada mais nesse aspecto. Tomara que esta iniciativa colha bons frutos. Hoje não dá para ver um bom trabalho educacional, se não houver um trabalho forte com a comunidade e seus familiares.

O governo de São Paulo informa que vai colocar, em cada escola, um professor comunitário. Pela minha experiência dentro e fora do Brasil, posso garantir o seguinte: se esse profissional for bem treinado e tiver um mínimo de apoio, haverá a redução da violência na sociedade em geral e na escola, em particular. Além disso, com a melhora do ambiente, haverá mais chances para o estudante progredir.
A ideia é que esse professor seja um intermediador de conflitos --coisa abundante na escola--, atue para envolver a família e a comunidade. Um de seus papéis seria visitar as famílias, a exemplo do que ocorre (e com ótimos resultados) em Taboão da Serra.Já se podem encontrar professores comunitários em áreas conflagradas do Rio, como a Cidade de Deus, onde a matrícula escolar cresceu 30% nos últimos 12 meses. E o assassinato caiu mais de 90%.
Lá o professor comunitário surgiu logo depois da implantação de um melhor sistema de policiamento. Funciona tão bem no Rio que a prefeitura decidiu expandir esse projeto não só para as áreas conflagradas, como para toda cidade. Projetos semelhantes podem ser encontrados em Nova Iguaçu (Rio) e Belo Horizonte.

Fonte: Folha Online- publicidade