
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
" Gestos ajudam a desenvolver inteligência"

Se você já questionou o porquê dos gestos, provavelmente pensou que gesticulamos para auxiliar na compreensão do que estamos querendo dizer. Indicar o tamanho de uma xícara ou a dose de uma bebida pode ajudar o balconista a entender exatamente o que você deseja. Mostrar onde o peixe se escondeu ou a velocidade com que ele se movimentou pode ajudar a amiga a criar uma imagem mais exata da sua percepção dos recifes locais.
Mas, será que os gestos podem ter também outra finalidade? Muitos cientistas acreditam que os gestos podem ajudar o interlocutor e os movimentos das mãos ajudam a pensar. Cientistas se interessam cada vez mais pela relação corpo-pensamento, ou como nosso corpo dá forma a processos mentais abstratos. Os gestos estão no centro dessa questão. O debate se concentra no papel do movimento na aprendizagem, e nas pesquisas sobre como os alunos aprendem a resolver problemas de matemática na sala de aula.
A titulo de ilustração, considere o problema da soma: 3 + 2 + 8 = _ + 8. Um aluno pode criar uma forma de “v”, com o indicador e o dedo médio, entre os algarismos 2 e 3, enquanto tenta entender o conceito de “agrupamento”, somando os números adjacentes, técnica que pode ser usada para resolver o problema.
Pesquisas anteriores mostraram que quando foi solicitado aos alunos para gesticular enquanto conversassem sobre problemas, aprenderam a resolvê-los de forma mais eficiente. Isso foi verificado, independentemente de se dizer aos alunos quais gestos fazer ou se os gestos eram espontâneos.
Agora a questão é: como isso acontece? O novo estudo, conduzido por Susan Goldin-Meadow e Zachary Mitchell, da University of Chicago, e por Susan Wagner-Cook, da University of Iowa, teve como foco a resolução de problemas matemáticos por alunos de terceira e quarta séries do ensino básico. Os alunos treinados a utilizar a forma de “v”, ao resolver um problema como 3 + 2 + 8 = __ + 8, aprenderam a solucioná-lo com maior eficácia. Além disso, os alunos apresentaram melhor desempenho mesmo se treinados a empregar a forma de “v” em pares de números errados. Pelo simples ato de fazer o gesto o corpo sugere o conceito de “agrupamento”.
A questão então é: qual teria sido exatamente o procedimento que permitiu isso? Durante o estudo, todos os alunos memorizaram a frase “Quero deixar um lado igual ao outro”. Na ocasião, foi solicitado que os alunos dissessem a frase em voz alta quando fosse apresentado um problema a ser resolvido. Os autores sugerem que os alunos que gesticularam também tentaram criar uma correlação entre a fala e os gestos de forma a unir os dois significados. Esse procedimento poderia consolidar o novo conceito de “agrupamento” na mente dos alunos.
O mesmo processo poderia ocorrer em qualquer situação em que a pessoa que fala e gesticula tenta entender, seja relembrando detalhes de eventos passados ou imaginando como montar uma bicicleta recém retirada da embalagem.
O estudo tem implicações importantes para o campo da Psicologia Cognitiva.
Historicamente, esse campo entende conceitos (os elementos básicos do pensamento), como representações abstratas que não contam com a fisicalidade. Essa noção, conhecida como dualismo cartesiano, agora está sendo desafiada por outra linha de pensamento, chamada Cognição Corporal, que entende conceitos como representações corporais baseadas na percepção, ação e emoção. Embora muitas evidências sustentem a visão da Cognição Corporal, até agora nunca existiu um relato detalhado baseado em experimentos de como a incorporação dos gestos desempenha um papel na aprendizagem de novos conceitos.
O estudo também tem implicações práticas aos professores didáticas, que podem reformular sua didática para ensinar aos alunos novos conceitos utilizando gestos. Os resultados desse estudo podem não valer para os gestos feitos em bares e cafés que você costuma frequentar, no entanto, na próxima vez que conversar com uma amiga gesticuladora, pode ser interessante considerar como o movimento das mãos contribuem para dar forma aos pensamentos dela e aos seus.
UERJ - Seminário de Psicopedagogia
Diversas palestras serão ministradas, sempre visando à discussão dos fatores comprometedores da aprendizagem. Dentre os temas, estão: a violência na família e baixo rendimento escolar; a compreensão da linguagem escrita em crianças com síndrome de Asperger; práticas educacionais parentais, suas crenças, mitos e valores e a influência no desempenho escolar; a interação entre neurociências, déficit de atenção/hiperatividade e psicopedagogia; enfoque da intervenção, avaliação e diagnóstico psicopedagógico através do uso de jogos lúdicos.
A programação do evento está disponível no site do Centro de Produção da UERJ - www.cepuerj.uerj.br. Interessados podem se inscrever no Pavilhão Reitor João Lyra Filho, 1° andar, bloco A, sala 1.006. O valor da inscrição é de R$ 30,00 (comunidade interna da UERJ) ou R$ 35,00 (comunidade externa). Para informações adicionais, o telefone para contato é 2334-0639
terça-feira, 3 de novembro de 2009
A queixa escolar

Hoje os protagonistas das queixas escolares são muitos. Os pais reclamam da escola, os filhos reclamam e os professores também reclamam. Mas, a maior queixa é: por que os jovens não prestam atenção nas aulas dadas no colégio? Por que o conhecimento não é fácil? Por que para ensinar requer que o aluno veja a escola como algo prazeroso? Essas e muitas outras perguntas estão sempre em pauta. Elas vão desde a presença da falta de valores até a falta de conhecimento.
Mas, o que ocorre realmente nesse universo de aprendizagem? Afinal, quais são os atos mais profícuos no ato de ensinar? O que garante o ensinamento e aprendizagem (conhecimento)?
Antigamente, se podia dizer que ter um diploma era garantia de sucesso. Era uma possibilidade real de se ter trabalho garantido. Hoje o diploma não garante mais nada.
Porém, com a evolução do discurso que deixou de lado esse pragmatismo, hoje vemos que o conhecimento é construído através de uma ética onde as diferenças são aceitas à medida que elas representam à singularidade. Os projetos pedagógicos vêm contribuir para que o educador não se sinta isolado na construção do saber. Assim, os alunos ditos especiais são aceitos na escola, mas ainda não estão incluídos devido à falta de “preparo” para compreender como esses alunos pensam e constroem o seu conhecimento. Quando as escolas os submetem a se comportarem como os demais, começa aí o primeiro equívoco dos muitos que virão.
Se a escola ainda não consegue responder as queixas dos alunos considerados “normais”, imagina lidar com esse complexo universo de crianças especiais.
Hoje se tenta responder os equívocos da escola tradicional e pagamos um preço muito alto ao admitirmos que pouco se aprendeu com eles, que aliás, só sabem decorar os conteúdos dados.
Verificamos que as escolas avançaram, pelo menos no discurso, mas ainda não conseguimos fazer com que os alunos compreendam a importância de ser criativo e empreendedor.
Talvez seja porque a escola ainda forneça aos alunos uma escola sem desafios, sem criticidade ou até mesmo reprodutora dos velhos conhecimentos. É por isso que os alunos vivem perguntando o porquê de aprender determinados assuntos, pois não vêem utilidade em sua prática, isto é, voltamos ao pragmatismo.
Percebo que a queixa escolar vai além dos muros da escola. Hoje só se pensa em saber algo para ser utilizado daqui a meia hora. O problema de aprendizagem é tão extenso como o fazer de dentro da escola. Passa por inúmeros repertórios, muitos ambientes, com dissonâncias de discursos até se tornar algo concebível e viável.
O que entendo é que o discurso ainda difere do espaço real escolar, do que se pode realmente realizar nesse espaço. A escola é um espaço de idéias, intenções subjetivas, que querendo ou não interferem no desejo de construção. Não se pode negar que o diálogo ainda permanece aberto para uma melhor compreensão dessas queixas. Não se pode apenas inferir e dar um testemunho. É necessário se realizar um discurso mais próximo do educando, refletindo o desejo de ressignificar as dissonâncias ou as queixas escolares. Não se constrói uma muralha sem tijolos. A educação vive se contradizendo. Vive começando sempre do zero. Talvez este seja um dos graves equívocos.
Está na hora da escola ser verdadeira. Parar de prometer o que não pode oferecer. Vivemos em uma sociedade competitiva, mas não somos a solução de todos os problemas. Se a escola conseguir superar as suas próprias contradições já será um grande êxito.
O que podemos garantir aos nossos alunos é que para ser uma pessoa de sucesso, sem dúvida nenhuma essa pessoa tem que se esforçar e muito para ter um bom desempenho. O ensino e a aprendizagem não possuem nenhum compromisso com o “brincar”, portanto o ensino não é um ato prazeroso como muitos nos fazem crer.
Temos que desmistificar que a vida fácil acontece de forma espontânea. Temos que mostrar aos nossos alunos que tudo na vida requer esforço e saber. Não existe facilidade para quem quer ser criativo e empreendedor. E esses são os valores que a escola deve construir.
Para se tornar um cidadão emancipado deve-se estar consciente de seu valor, e que a autoridade é conquistada com exemplos dos adultos. É chegada a hora de crescer. Não dá mais para sermos infantilizados. A maturidade do escolar vem com a mudança de atitude. E esta sempre está atrelada a um bom convívio social.