domingo, 23 de agosto de 2009

Mudança de comportamento escolar

Toda criança em idade escolar deve freqüentar a escola. Mas nem todos recebem orientação em casa de quais são os seus compromissos diários.

Quando se é criança vive correndo de lá pra cá e de vez em quando nos comportamos mal. Algumas crianças não se adaptam à turma ou a escola que freqüenta e muitas vezes necessitam de orientação.

Algumas orientações são bem rígidas, isso sob o olhar da criança, mas para o adulto nem sempre. Acredita-se que uma punição será melhor resposta para aquele momento. Entretanto, houve uma época em que essas crianças eram na escola, colocadas na “cadeira do pensamento” ou “a cadeira quente” (denominações usadas em muitas escolas), onde a intenção era fazer com que a criança parasse para pensar sobre o seu erro. É comum acontecer que alguns professores até trazem suas preocupações com essas crianças difíceis para as reuniões com os especialistas.

Tentar se evitar ao máximo soluções como essa, é o desejo de todo professor, na medida do possível, pois uma vez que o aluno ia ao setor de orientação, voltava de lá desanimado, acreditando que nada na instituição escolar o favorecia. Acontece também que crianças com mau comportamento sofrem com os rótulos. Isso além de prejudicá-lo perante os colegas de turma, se espalhando na comunidade escolar como uma imagem negativa, reforçando o comportamento indesejado diante do equívoco de como a questão foi tratada. Este aluno passa a não ter confiança na sua possibilidade de mudança. Infelizmente isso é muito comum.

Uma vez foi relatado em uma supervisão que um aluno tinha perturbado a aula da professora o tempo todo. Ele chutava a canela de seus companheiros, xingava muito e exigia que as meninas sempre que saíam da escola, lhe pagasse uma “taxa de proteção”, o que significava que recebia dinheiro por este “serviço prestado”. Ele raramente fazia seu dever de casa, apesar de um bom desempenho escolar em algumas áreas do conhecimento. Mas necessitava mostrar o tempo todo o quanto era forte e poderoso. Logo essa situação ficou insustentável. A equipe escolar se reuniu e resolveu dar um basta nessa situação.

Os responsáveis foram convidados a vir à escola, quando o aluno representante da turma veio até mim e exigiu que o aluno devesse ser colocado na cadeira do pensamento, para que pudessem dizer a ele como ele os tinha provocado e ofendido. Além disso, ele deveria devolver a grana que havia tirado das crianças. Eu salientei a eles que dessem um tempo a mais a essa criança para que fosse conversado com ele sobre o que estava acontecendo.

Eu comecei a dizer que iríamos expressar os nossos sentimentos com freqüência na sala de aula. Que todos falariam um de cada vez e que essa dinâmica passaria a fazer parte do nosso trabalho diário. Todos teriam um tempo para falar de sua família, suas preferências e gostos. Que todos receberiam uma frase e que esta deveria ser complementada por uma idéia sua, que fosse significativa para cada um deles. A frase era: - Você é um de nós... E assim todos relataram como se sentiam fazendo parte daquele grupo. Em poucos meses o comportamento de todos na sala de aula mudou. Não teve mais aquela competição que a todo o momento era motivo de conflito. Todos passaram a respeitar os limites do outro e seus erros, como algo que faz parte de um processo de crescimento. Não riam mais de seus colegas e nem muito menos usavam a cadeira do pensamento.

Era necessário se trabalhar a turma toda. O que ficou desse trabalho foi o crescimento pessoal de cada criança que ao ser valorizado enquanto pessoa passa a ser a personagem principal dessa história. Quando damos oportunidade à criança de construir a sua história e descontruir os mitos que a envolve, tudo passa a ser um desafio a mais e não um incômodo.

As crianças constroem ao longo do seu percurso escolar, desde muito cedo a internalizar os conceitos do certo e do errado. Apenas o que falta a elas é a dosagem do quanto elas podem usar esses recursos a seu favor. O limite de uma má atitude vem dessa censura interna que num primeiro momento se apresenta como um estranhamento, indo para uma atitude de vergonha, para mais adiante haver a censura moral. O que se deve reforçar numa criança, no início de um aprendizado é a atitude de arrependimento, sem haver nenhuma ação constrangedora.

Este trabalho rendeu muito na escola enquanto crescimento emocional. Os alunos entenderam que o erro é algo que pode ser corrigido e ser substituído por outra ação. Aquela criança melhorou o seu comportamento não mais prejudicando a ninguém, devolveu o dinheiro cobrado aos colegas e voltou a fazer parte do grupo. Esse pertencimento foi à consciência de que ele fazia parte do grupo e que mais vale uma boa ação do que o erro e a marginalização.

Em pouco tempo ele retornou ao grupo e voltou a suas atividades escolares sem prejuízo nenhum. Isso só foi possível devido à compreensão de sua professora, que estava pronta a ouvi-lo e principalmente pronta a mudar as regras do jogo.

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