sábado, 9 de abril de 2011

Bullying: “brincadeira” com consequências





No dia 7 de abril de 2011, o mundo foi vítima de mais uma matança em escolas, desta vez no Brasil. Um ex-aluno entrou numa escola municipal em Realengo, zona Oeste do Rio, e promoveu um massacre. Este ex-aluno, segundo as pessoas que o conheceram, tinha um comportamento que leva a supor que sofria de alguma doença mental. O que é certo é que sofria de bullying, como afirmaram 2 ex-colegas de turma. Assim como os rapazes que promoveram o massacre em uma escola em Columbine, nos Estados Unidos, que depois gerou o documentário “Tiros em Columbine”.


O bullying sempre existiu nas escolas, mas nem sempre foi encarado como um problema. Há algumas décadas atrás era considerado “coisa normal de crianças”. Aquelas que divergissem um pouco da média eram as vítimas preferenciais. Hoje o bullying tem sido denunciado, mas está bem longe de ser controlado.


Na mesma semana, dois outros casos envolvendo bullying povoaram os jornais. Uma estudante universitária de enfermagem que denunciou as agressões que sofria à direção da faculdade, em Ribeirão Preto, foi agredida por uma colega com o capacete de motociclista. E um aluno de 15 anos de uma escola do sertão de Alagoas passou por uma sessão de três minutos de tapas na cara por ser homossexual. O bullying não respeita fronteiras nem nível social.


No ambiente escolar é muito importante para a criança e o adolescente fazer parte de um grupo, ser aceito e apoiado por ele. Quem sofre bullying sente-se excluído, e geralmente reage com um sentimento de minusvalia que pode influenciar sua vida em seus aspectos emocional, social e profissional, não só no momento em que sofre a agressão, mas por muitos anos no futuro. Cria-se um sentimento de inadequação, de não pertencimento, que mina sua autoconfiança e o faz sentir-se inferior. Algumas vezes esse sentimento de inferioridade pode gerar uma reação violenta e, se somar-se a um transtorno grave e não tratado de personalidade, um massacre como esse.


No Ensino Médio, estudei em uma escola particular de Niterói, e morava em São Gonçalo. Eu e muitos colegas que vínhamos da cidade vizinha sofríamos todo tipo de gozações, até mesmo por parte de professores. Algumas inócuas, outras bem agressivas. Um de nossos colegas sofria mais perseguições pois, além de gonçalense, era negro (o que era uma exceção numa escola de classe média de Niterói à época) e obeso. Não eram só piadinhas, eram tapinhas na nuca, tomar seus cadernos e jogar no chão, colocar o pé na frente para derrubá-lo. Os inspetores, pomposamente chamados de ‘auxiliares de comunicação’, limitavam-se ao ‘não faça isso de novo’. Ele tornou-se mais tímido do que no início do ano. Um dia ele surrou o colega mais insistente nas provocações, e foi suspenso das aulas pela atitude violenta.


O bullying sofrido pelo meu colega tinha as três características que o definem: era alvo de agressões e comentários negativos, as agressões eram repetidas e havia um suposto desequilíbrio de poder entre os colegas. Nem sempre o bullying é tão evidente, ele pode acontecer por meio de intrigas, espalhando comentários entre colegas (e a internet, através das redes sociais, pode ser um veículo para isso), ou evitando falar com a pessoa que é vítima de bullying, até mesmo porque quem se aproxima da vítima também é hostilizado. Os temas mais usados pelos agressores são a forma física (‘baleia’, ‘esqueleto’, ‘sem-bunda’, ‘baixinho’, ‘pintor-de-rodapé’, ‘caolho’), a etnia (‘crioulo’, ‘branco-azedo’, ‘japa’) e a religião (‘crente’, ‘papa-hóstia’, ‘macumbeiro’).


Os agressores buscam, através das provocações, dominar um grupo, numa estrutura de poder semelhante ao de animais na selva. É preciso que o bullying não seja tolerado como ‘coisa normal’, que se estimule o agressor a buscar sua própria humanidade, e a arte é o melhor instrumento para isso. E a vítima precisa ser amparada e protegida pela escola e por psicoterapia, não exposta ainda mais aos agressores, para que possa ter a real percepção de si, e não aquela imagem perniciosa que o bullying insiste em fazê-la acreditar.


Fonte: Artigo original de Terapia Biográfica em 08/04/2011.


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