domingo, 30 de maio de 2010

Uma conversa a mais...

Participo da Comunidade criada por Denise Vilardo no site "Peabirus". Um dos artigos foi esplanado a situação atual da educação municipal na cidade do Rio de Janeiro, sob o título: " Prá trás é que se anda".
Transcrevo abaixo o meu texto e a resposta ao mesmo.


Uma conversa a mais...
Bom dia, Denise


Sempre que recebo algo escrito por você venho conferir. Assim como você sou educadora e procuro estar atenta aos mandos e desmandos. Infelizmente o que mais ocorre em nosso dia a dia são os desmandos.
Tendo percorrido em meus 30 anos de trabalho várias metodologias, filosofias e politicagens educacionais e vejo que nada mais me surpreende.

O que ainda me inspira a escrever é ver que ainda existem pessoas lúcidas e portanto comprometidas com o fazer e pensar educacional democrático, que fica longe de ser uma desmoralização da nossa digna profissão.

Sendo adepta aos ensinamentos filosóficos democráticos, reconheço e compreendo a sua  preocupação e indignação. Longe de qualquer pretensão de avaliação, vejo que mesmo morando em uma cidade pequena e próxima ao Rio, as suas dificuldades não diferem das minhas e provavelmente de muitos profissionais da educação. Acredito que a única mudança são os atores.

Temos em comum a falta de preparo daqueles que se colocam como porta vozes de uma política educacional, que foge a qualquer convergência de ideias produzidas coletivamente, pois o que sobressai é o individualismo e a preponderância de egos infláveis como balões em dia de festa.
Só reconhecem que pobre existe em catástrofe ou em época política. Só nesse momento eles se igualam, isto é, tornam-se cidadãos de "pena'.

Passamos por inúmeras filosofias de aprendizagens e vejo que ainda não encontramos respostas para quase nada, principalmente quando temos que resolver conflitos graves, como por exemplo:- o que faz com que o meu aluno aprenda de forma significativa e como ampliar a sua inserção no trabalho. Essas e muitas outras perguntas dessa ordem, ainda não se encontram respondidas em nenhum manual de qualquer secretaria de municípios ou estados.

E nós sabemos o porque. Mas eles insistem em nos julgar como incompetentes e irresponsáveis. O que não adimito o grave erro, principalmente quando vem por decreto.
Insisto ainda dizer que tudo que é ruim ( ideias,cartilhas, decretos) são aceitos rapidamente e passado de geração a geração como uma verdade e fico perplexa que são aceitos e implantados como a salvação. Só pode ser coisa de céticos ou de fundamentalistas que trabalham em causa própria.

Espero que essas ideias demorem aqui chegar, pois você não imagina que efeito catastrófico seria para uma cidade que não possui uma biblioteca pública decente, não possui cinema, teatro e livraria possa conviver com tamanho retrocesso.
Demoramos muito para sair do conteudismo, imagina o quanto ainda temos para construir e agora voltamos a estaca zero!?... Imagina o q será de nós?

A minha trajetória profissional foi árduamente construída e selecionada, pois muito me orgulho da mesma. Acredito que o respeito proprio e o alicerce que construi ao logo dos meus 55 anos, merecem melhor desfecho, visto que só terei essa vida para ser vivida e foi construída com dignidade.
Me orgulho do que tenho, pois se hoje penso foi porque fiz boas escolhas, tive a oportunidade de ter excelentes professores e excelentes amigos no trabalho.

Uma profissão só é bem sucedida quando conquistamos autoria no pensar, ser e agir. Nada mais importa do que ser fiel as suas habilidades e competências.
Espero que em breve você nos traga boas notícias.

Um grande abraço e continue em sua tarefa. Estarei sempre atenta!

Natalícia

Em resposta...

Ah, Natalícia

a sua mensagem me deixou profundamente emocionada.

Infelizmente, não tenho notícias boas aqui da capital... outros absurdos continuam ocorrendo e pretendo informar por aqui, brevemente.

Você falou coisas importantíssimas. Os desmandos, os egos inflados... é inadmissível que transformem a Educação numa corrida de quem aparece mais, né?
Ficamos à mercê de modismos, porque tudo o que nos impõem é feito de maneira superficial, as atualizações em serviço são raras e frágeis. E, pior, são contraditórias... Professores mergulhados numa "fazeção" sem fim, sem oportunidade de sequer de pensar sobre o seu cotidiano pedagógico.

E, pra mim, o crucial disso tudo, como você também comentou: o fato de nos tratarem como débeis, como pessoas que não pensam, que não produzem conhecimento.

Cada vez creio mais que precisamos nos mobilizar, sem medo, e começar a trabalhar coletivamente (que é outro nó na nossa classe...) com os sentidos atentos e a força da experiência, da competência e da ousadia, porque não tememos o novo, o que não aguentamos mais é a falta de respeito, de bom senso e a hipocrisia.


Um grande e afetuoso abraço

Denise

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