terça-feira, 7 de julho de 2009

Final de semana

Há um mês estou impossibilitada de sair. Por um momento de distração escorreguei e quebrei a perna. Nada de diferente do que acontece com muitas pessoas, inclusive o fato do ocorrido ser uma aventura diária de muitas pessoas, de se pegar o ônibus cheio, sem conforto e em péssimas condições para ir ao trabalho.

Não muito diferente também, foi o péssimo atendimento no hospital. Coisa que só a população que necessita sabe do que estou falando.

Ocorreu de forma não diferente, quando necessitei de uma licença médica para entregar no trabalho, cuja intenção é justificar a ausência do funcionário. Daí me veio à pergunta: O que é ter uma vida boa?

Se eu fosse apelar para a filosofia, teria que ir desde Platão até os filósofos contemporâneos, correndo o risco de não encontrar uma resposta. Entretanto, recorro ao meu individualismo, que por si só, sustentaria uma única resposta, visto que a mesma seria induzida pela minha intuição.

Passamos horas e horas de nossos dias trabalhando. Esperamos ansiosos pelos fins de semana. Tentamos encontrar nos calendários os feriados, numa intenção explícita de assegurar o descanso. Não é à toa que sair pra conversar com os amigos, jantar fora, tomar um sorvete e até ir ao parque com os filhos, nos dá um prazer enorme. Mas... Para algumas pessoas isso ainda é pouco.

Quando se fica impossibilitada de ir e vir como gostaríamos, nos sentimos cerceados de fazer muitas coisas. E essa desconstrução do que compreendo por democracia, liberdade, fere toda uma expectativa de vida que me disseram que existia. Como acreditar que a minha liberdade depende da solidariedade de outras pessoas? Não me parece que essa circunstância seja diferente, de pessoa pra pessoa, portanto somos pessoas agregadas, um coletivo. Então, porque não nos dispomos a aprender uns com os outros ou talvez com os animais? Temos muitos exemplos de comunidades. Que racionalidade é essa que nos coloca frente a frente com as dificuldades e não aprendemos nada com ela?

Aventurei-me... Desci a escada pra encontrar a resposta. Observei de longe, do outro lado da rua um casal. Eles se digladiavam, como dois búfalos. Por um momento o meu quarto pareceu-me mais seguro e acolhedor. Tentei voltar, mas já era tarde, já estava envolvida com o que via. De repente, vejo umas crianças brincando. Os seus pais, distantes, como se os dois não existissem. Voltei a me perguntar: O que é uma vida boa?

Essa pergunta insistia em ter uma explicação razoável. Olhei, observei um pouco mais o que se passava. O retrato de uma infância perdida insistia nos meus olhos. As crianças se cansaram de tanto correr de lá pra cá, sem objetivo nenhum. O casal desistiu de medir forças e de dizer um para o outro o quanto eram importantes em suas vidas. Saíram correndo como duas crianças sem objetivos de vida.

Subi, liguei a TV na tentativa de imaginar uma companhia e desesperada por ouvir boas notícias. Erro meu... O quadro exposto não foi diferente. A necessidade de promoção, de audiência, não foi o suficiente para nenhum canal de TV fugir do que era previsível.

A minha cabeça começa a fervilhar... O descontentamento nos leva a investigar, mesmo que o território só seja o seu universo.

Fiquei a pensar se não seria essa falta de conexão, de subjetividade que nos move a um desejo maior. Será se a minha incompletude não seria o suficiente pra encontrar a tal vida boa? Não sei... Mas não acredito em uma única forma de pensamento. Com certeza este não é e nem será um privilégio de algumas pessoas com maior grau de religiosidade, moralidade ou humanismo.

Sob esse ponto de vista, não devemos abandonar os conceitos da boa tolerância, da qualidade de vida em nome da democracia. Podemos buscar alternativas em busca de uma boa vida na pluralidade das convivências.

Se de fato os aspectos morais, religiosos e culturais não for o suficiente para nos conduzir em boas atitudes, que pelo menos a nossa existência seja um reflexo do nosso aqui e agora.

Mas confesso que a vida é difícil. Difícil de entender e difícil de explicar. Talvez a sociedade contemporânea esteja escrevendo as relações humanas de uma outra forma tão diferente, que nesse momento não conseguimos atingi-las em palavras. Ou sejamos exigentes demais em tentarmos explicar, o que no momento nos parece inexplicável.

Portanto, volto a esse assunto em outra oportunidade.

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